sábado, 17 de outubro de 2009

VÊM AÍ OS BABY BANKS?

Milton Gamez

A crise gerou uma ideia revolucionária: a de dividir os bancos "grandes demais para quebrar" em partes menores e evitar a socialização dos prejuízos



Maior acionista individual do Citibank, o príncipe Alwaleed bin Talal condena a proposta

Dois proeminentes ex-presidentes do Federal Reserve, banco central americano, Paul Volcker e Alan Greenspan, já se mostraram preocupados com a permanência dos big banks no cenário financeiro.


Conselheiro econômico de Obama, Volcker alertou o presidente de que seu plano mantém o status de grande demais para quebrar para algumas instituições. Com isso, fica implícito que elas "serão protegidas pelo acesso à rede de proteção do governo federal". Greenspan, que antecedeu o atual presidente do Fed, Ben Bernanke, também tocou na ferida.


Segundo ele, nenhum banco deveria ser grande demais para quebrar. "É um problema fundamental", afirmou Greenspan no início de outubro, na véspera da reunião do FMI em Istambul. Não chega a ser uma declaração bombástica, mas, em se tratando de quem é, os banqueiros e os investidores levam a sério.

US$ 432 bilhões
foi quanto os governos injetaram em capital para salvar os bancos. Se não houvesse risco sistêmico, esse dinheiro teria sido poupado dos contribuintes


Um deles é o príncipe Alwaleed bin Talal, maior acionista individual do Citigroup, com 5% do capital. Tão logo as palavras de Greenspan repercutiram na Europa e na Ásia, Alwaleed criticou duramente a ideia de dividir os bancões, solução que traria prejuízos monumentais para os acionistas existentes, já que reduz o valor e o poder de fogo das grandes organizações financeiras.


Em rara entrevista, Alwaleed tentou influenciar os debates sobre os baby banks no FMI e no Congresso americano. "Mesmo que você divida um dos grandes bancos em dois ou três pedaços, esse banco ainda irá representar centenas de milhões ou bilhões de dólares", afirmou ao jornal Emerging Markets. Para ele, o problema do risco sistêmico poderia ser resolvido com maior regulação e menos liberdade de ação para os bancos. "O mercado não pode nem vai se autorregular", disse Alwaleed.


Esse problema bate direto no bolso dos contribuintes. O Citigroup recebeu US$ 45 bilhões em injeção de capital do Tesouro americano, além de uma garantia de US$ 306 bilhões para cobrir seus ativos tóxicos. Com isso, 34% do Citi virou estatal. No mundo, a conta estatal chegou a US$ 432 bilhões, com a garantia de US$ 4,65 trilhões em dívidas. O governo britânico tornou-se proprietário de 43% do Lloyds Bank e de 70% do RBS. Os alemães micaram com 25% do Commerzbank e 90% do Hypo Real State.


Desde cedo, os bebês aprendem a esticar seus limites conforme a complacência dos pais. Da mesma forma, se sempre forem salvos, os grandes bancos não terão incentivos para serem prudentes. Nem seus clientes e investidores. "A incerteza é importante e precisa existir. Não pode haver bancos percebidos como risco zero", disse à DINHEIRO Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco e vice-presidente do IIF, espécie de Febraban mundial.


Transformar os big banks em baby banks pode não ser o suficiente para resolver os problemas sistêmicos, já que, no mundo globalizado, tamanho não é documento. "Não dá para fazer uma lista dos bancos grandes demais para quebrar. Cada país tem os seus. E bancos menores também oferecem risco sistêmico", afirma Setubal. Mas que algo precisa ser feito, precisa.
Fonte: Revista ISTO É Dinheiro

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