terça-feira, 27 de outubro de 2009

DEU NO BLOG DE GUTEMBERG DIAS


Mossoró e a necessidade de uma Reforma Urbana


Como geográfo de formação tenho um bom entendimento sobre as questões do espaço e, sobretudo, sobre a dinâmica das cidades.

É notório que o Brasil vem passando por um processo de expansão nunca visto. Cidades de todos os tamanhos crescem a passos largos. Veja o exemplo de Mossoró, que a prefeitura tenta vender como uma expansão criada pela ação do poder público, mas sabemos que Mossoró cresce porque o Brasil cresce.

Estive recentemente em Caicó, lá no Seridó, e pude constatar que aquela cidade vem num processo de crescimento compatível com municípios como Mossoró. Os leigos medem o crescimento de uma cidade pela construção de prédios e nesse ponto Caicó está em franca ascensão.

Mas, voltando ao processo que se estabelece nos grandes centros e nas pequenas cidades com relação ao crescimento, se faz necessário levantar alguns questionamentos, tais como: as cidades crescem e a infraestrutura acompanha? Como os gestores estão avaliando os problemas com a falta de abastecimento de água? E os resíduos sólidos gerados pelas cidades vão para onde? O ordenamento do espaço urbano precisa ser mais democrático, quem irá entrar nessa seara? Podemos continuar com tantos outros questionamentos, mas esses pontos já estabelecem um ponto de discussão.

Acredito que devemos iniciar um processo de discussão das cidades e, como estamos em Mossoró, devemos começar a pensar a cidade de Mossoró para o futuro, levando em consideração os grandes problemas que cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife entre outras, vem passando. É mais barato arrumarmos o caminho agora ao invés de procurarmos soluções quando o caos já estiver estabelecido.

Por isso sou a favor de uma reforma urbana democrática, onde a população possa opinar sobre as principais mudanças no espaço coletivo. Não podemos nos furtar a discutir a mercantilização dos espaços, onde o solo deixa de ter o valor de uso para assumir o valor de troca.

Esse tipo transformação que ocorre de forma meteórica no seio das cidades de médio porte e que se transveste de crescimento, já deixa para os cidadãos de todas as classes sociais e, principalmente, da classe baixa, sérios problemas que só tendem a piorar ao longo dos anos.

Dentre os problemas podemos citar a segregação social que se observa a partir do deslocamento forçado da população de baixa renda para as periferias das cidades que são áreas desprovidas de infraestrutura que possa atender satisfatoriamente esse contigente populacional, ou seja, falta água, transporte regular, saneamento, coleta de lixo etc.

Além da segregação social, se identifica a seleção de áreas nobres, que o poder público termina por valoriza-las, a partir da implantação ou melhoria da infraestrutura, criando dessa forma as condições para que o capital possa vender extensas áreas de terra imprimindo valores superiores aqueles praticados antes da interferência pública. Em Mossoró o grande exemplo disso é a área próxima ao shopping, onde hoje se configura a área mais nobre da cidade e que no pano de fundo favoreceu diretamente os negócios de certo político norte-riograndense.

Por viver e gostar de Mossoró, solicito a todos aqueles que têm uma visão progressista e sistêmica que se junte ao coro daqueles que querem “Mossoró para viver” e não para estarem reclamando e se mudando da terra de Santa Luzia em função dos sérios problemas que ela irá enfrentar se nada for feito agora.

A solução está nas ações que a municipalidade poderá desenvolver com o objetivo claro de manter as condições ideais de moradia para todos os cidadãos e, sobretudo, como ela irá tratar o problema da segregação social.
Gutemberg Dias

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