7 MITOS SOBRE O LIVRE MERCADO
Assim como existem verdades atemporais, existem mentiras atemporais.
Eu selecionei algumas que encontrei
recentemente, mas é claro que existem muito mais. Alguns libertários
podem não concordar comigo (pelo menos em um primeiro momento) com
relação a todas elas.
1) O livre mercado gera escassez e preços altos
Em qualquer sistema econômico –
socialista, intervencionista ou de livre mercado – a quantidade de um
bem normalmente não será suficiente para satisfazer a demanda quando o
preço for zero. No livre mercado, no qual as pessoas comercializam seus
direitos legítimos àqueles recursos, os preços tendem a aumentar ou cair
ao nível onde a quantidade ofertada iguala-se à quantidade demandada,
e, dessa forma, os preços nos ajudam a lidar com a escassez. Não só isso, o livre mercado, via o sistema de lucros e perdas, dá aos empresários um incentivo
tanto para ofertar mais recursos escassos, quanto como para descobrir
usos alternativos para eles. (Mas não é todo o “comércio” que é
conduzido nesses termos. Veja o item 4)
2) O livre mercado é uma forma do governo conceder privilégios às empresas
Essa é uma crença muito comum, baseada na ideia de que ser pró-mercado significa ser pró-empresas.
Mas o livre mercado é livre precisamente porque nega privilégios
especiais legais para qualquer pessoa ou grupo. As pessoas às vezes
definem “privilégio” como qualquer vantagem que uma pessoa ou grupo
possa ter sobre outra. Certamente, tais vantagens existem hoje e
existiriam em um livre mercado – você pode ter nascido em berço de ouro
ou ter maior talento e recursos, etc. – mas essas vantagens são
consistentes com a ausência do privilégio no sentido libertário, desde
que você tenha obtido tais vantagens sem recorrer à fraude ou à
iniciação de violência física contra a pessoa ou a propriedade desta.
3) Antes do Obamacare a indústria de saúde funcionava em um livre mercado
Na verdade, era um mercado altamente regulamentado, como John C. Goodman explica. Do mesmo modo, as falências dos mercados imobiliário e financeiro dificilmente podem ser atribuídas à “políticas de livre mercado“,
e o mesmo pode ser dito para praticamente qualquer outro setor da
economia dos Estados Unidos. O livre mercado é livre de privilégios
legais e discriminação; é qualquer coisa que acontece na ausência da
agressão e dentro de certas “regras do jogo” – por exemplo, a
propriedade privada, a liberdade de associação, e o estado de direito.
Novamente, não é pró-empresas, pró-consumidor, ou pró-qualquer coisa se
isso significa utilizar o poder político para ajudar ou prejudicar
alguém de forma intencional.
4) O livre mercado requer que todos os recursos de valor sejam propriedade privada e comercializados
Mesmo se isso fosse possível, eu não estou convencido de que seja, não é sempre a melhor forma de superar a “Tragédia dos Comuns”. Às vezes, as alternativas à propriedade individual simplesmente funcionam melhor. Na verdade, Elinor Ostrom,
que ganhou o prêmio Nobel de Economia pela sua pesquisa sobre problemas
que acarretariam em uma Tragédia dos Comuns, encontrou formas pelas
quais as pessoas ao redor do mundo e no decorrer da história evitaram
conflitos no que tange a questões como o uso da água e o corte das
florestas por meio do uso de métodos de cooperação exteriores ao mercado
(e, frequentemente, sem o uso do governo). Efetivamente, nós
normalmente “trocamos” favores com a família, conhecidos, e, às vezes,
com estranhos sem a necessidade de mercados formais e preços de
mercado. E isso é bom!
5) O livre mercado encoraja o racismo, a homofobia, e outros tipos de fanatismo
É verdade que você pode ser um racista homofóbico no livre mercado,
recusar-se a viver próximo a um casal inter-racial do mesmo sexo, ou
ainda mesmo recusar contratar alguém porque sua aparência de alguma
forma o ofende. As consequências daquelas ações, contudo, significam que
você tenderá a pagar um preço maior por uma casa ou um salário maior
aos seus empregados porque você deliberadamente diminuiu a extensão de
suas escolhas. Alguns críticos do livre mercado zombam dessa explicação
argumentando que o ponto chave do racismo ou do sexismo não é combatido.
Eu poderia dizer muita coisa como
resposta, mas me limitarei a duas. Primeiro, pagar pelo preconceito pode
não eliminá-lo, mas tende a reduzi-lo. (Por exemplo, a curva de demanda
do preconceito inclina-se para baixo). Ser preconceituoso significa se
afastar de uma família que é mais tolerante ou de um empregador que é
mais competitivo. Segundo, tentar mudar a atitude das pessoas no que diz
respeito à homossexualidade e ao racismo pelo uso ou ameaça de
agressão, não é algo que funciona; verdade seja dita, normalmente causa
mais danos do que benefícios e causa diversas complicações no longo
prazo. O livre mercado dá incentivos para se lucrar através da
cooperação e do aprendizado que só são possíveis pela convivência com
outra pessoa que pode ser muito diferente de você, alguém que opere fora
da sua zona de conforto. Ordens legais tendem a fomentar ressentimento e
rent-seeking o que enfraquece a tolerância necessária para se conectar às pessoas que estão socialmente distantes de você.
6) O livre mercado é pró-guerra
A verdade é que além de ser o “alimento do estado”
e inimiga da liberdade, a guerra beneficia algumas pessoas especiais
como os donos das empresas que produzem as armas usadas na guerra. Mas a
guerra enfraquece o livre mercado no geral. A guerra e as intervenções
governamentais que inevitavelmente a acompanham restringem os mercados
(domesticamente e em países contra os quais o governo está lutando) e a
livre associação, tornam mais caro comprar e vender, reduzem o poder de
compra de famílias e de empresas, e perturbam a paz que é necessária
para um livre mercado funcionar.
7) O livre mercado sempre é eficiente
O mundo real é povoado por pessoas reais
que não possuem todas as informações corretas para tomar uma boa
decisão, que podem ter informações erradas, e que podem cometer erros.
Um sistema econômico “ideal” não é um no qual ninguém comete erros; é um no qual os erros que as pessoas inevitavelmente cometem são corrigidos da forma mais eficiente possível.
A concorrência no livre mercado tenderá a informa-lo se você está
cobrando muito ou pouco, deixando passar alguma oportunidade para
diminuir seu custo ou aumentar sua receita, ou utilizando um novo método
de consumo ou produção. O livre mercado não é ideal porque sempre opera
de forma perfeita, mas sim porque o faz melhor do que qualquer outro
sistema que conhecemos até hoje para correção de erros.
O que você acha disso? Falarei de outras
mentiras na minha próxima coluna, mas essas são aquelas que devem ser
informadas por enquanto. Elas são o senso comum de muitas pessoas, e
geram muitas interpretações erradas.
* Sandy Ikeda é Professor de Economia na Purchase College da Universidade
Estadual de Nova York, local em que recebeu o seu Ph.D. em economia e
onde estudou com Israel Kirzner, Mario Rizzo, Fritz Machlup e Ludwig
Lachmann. Autor de "The Dynamics of the Mixed Economy: Toward a Theory
of Interventionism (1997).", é um Associado do Institute for Humane
Studies (IHS).
Tradução de Matheus Pacini. Revisão de Ivanildo Terceiro | Artigo Original
Fonte: Portal Libertarianismo
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