DELFIM NETTO: BRASIL CONTINUARÁ
"PATINANDO" SE NÃO RESOLVER
OS PRÓPRIOS PROBLEMAS
Em
evento realizado pela Carta Capital, o ex-ministro da fazenda Delfim
Netto afirmou que, em meio ao cenário nada espetacular no exterior, o
Brasil deve resolver as suas questões internar. "O mundo não vai nos
ajudar muito nesse processo", apontou o economista no evento Dialógos
para o Futuro, realizado pela Carta Capital nesta terça-feira (18), em
São Paulo.
"Os mercados são muito voláteis e, com a mesma facilidade que se
apaixonam, também se desanimam muito depressa. Se você é o queridinho
dos mercados, você é o mais forte candidato a não ser mais", afirmou.
Delfim destacou ainda que o Brasil é até mesmo muito mais resiliente o
que o Federal Reserve gostaria.
E o ex-ministro brincou, afirmando que a atual presidente da
autoridade monetária, Janet Yellen, fez uma espécie de vingança ao
apontar o Brasil como um dos mais frágeis em relatório, como resposta
após a anunciada "guerra cambial" proclamada por Dilma Rousseff e o
ministro da fazenda Guido Mantega. Quando a autoridade monetária dos EUA
iniciou o programa de flexibilização monetária, as autoridades
brasileiras mostraram preocupação com a valorização do real, que
diminuiu a competitividade dos produtos brasileiros.
Porém, ele ponderou que o Fed não olha para a economia dos outros
países para pautar as suas decisões. "A Yellen vai tentar controlar os
indicadores dos EUA, assim o Banco Central brasileiro deve ter atenção
com a economia nacional", afirmou.
"Não devemos esperar nada do
exterior. Devemos tratar dos nossos problemas".
Não poderemos mais contar com progresso externo
No
cenário que se desenha, não poderemos contar com o progresso
extraordinário pelo qual nós fomos beneficiados de 2003 a 2010.
Ao mesmo
tempo, afirmou que não há nenhum cenário catastrófico para o País, mas
que o desenrolar das questões internas deve comandar o debate sobre a
economia nacional.
Para Delfim, não há desequilíbrio fiscal monumental e a inflação -
apesar de desconfortável - não oferece nenhum risco de descontrole. "Nós
não estamos no apocalipse e nem perto dele", destacou, afirmando que
não há nada que indique uma "tragédia" na economia brasileira.
O economista, por outro lado, destacou que precisa haver um maior
entendimento entre o governo e o mercado de que eles "são
indispensáveis" para o processo de crescimento da economia nacional.
Para ele, não há tantas diferenças de pensamento, e sim de entendimento
entre os dois lados.
"Se não formos capazes de resolver o problema que é só nosso,
provavelmente vamos continuar patinando no crescimento", afirmou. "Os
mercados dependem de um Estado forte constitucionalmente construído e,
por outro lado, sem mercados funcionando adequadamente, dificilmente vai
haver uma alocação eficiente de recursos".
O crescimento depende de dois fatores principais, aponta Delfim:
aumento da produtividade e expansão do capital do trabalho. E avaliou
ainda que o País usou os juros como instrumento para controlar o câmbio e
a inflação, o que destruiu um "processo industrial sofisticadíssimo",
roubando a demanda externa da indústria e, depois, a supervalorização do
real levou à queda da demanda interna.
E, perguntado sobre a "contabilidade criativa", Delfim destacou que
as manobras fiscais do governo são a origem do desconforto da sociedade
com o governo. "Aquilo foi demais até para mim, que apoiava o governo",
brincou.
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