terça-feira, 18 de março de 2014

DELFIM NETTO: BRASIL CONTINUARÁ 

"PATINANDO" SE NÃO RESOLVER

OS PRÓPRIOS PROBLEMAS


Em evento realizado pela Carta Capital, o ex-ministro da fazenda Delfim Netto afirmou que, em meio ao cenário nada espetacular no exterior, o Brasil deve resolver as suas questões internar. "O mundo não vai nos ajudar muito nesse processo", apontou o economista no evento Dialógos para o Futuro, realizado pela Carta Capital nesta terça-feira (18), em São Paulo. 

"Os mercados são muito voláteis e, com a mesma facilidade que se apaixonam, também se desanimam muito depressa. Se você é o queridinho dos mercados, você é o mais forte candidato a não ser mais", afirmou. Delfim destacou ainda que o Brasil é até mesmo muito mais resiliente o que o Federal Reserve gostaria.

E o ex-ministro brincou, afirmando que a atual presidente da autoridade monetária, Janet Yellen, fez uma espécie de vingança ao apontar o Brasil como um dos mais frágeis em relatório, como resposta após a anunciada "guerra cambial" proclamada por Dilma Rousseff e o ministro da fazenda Guido Mantega. Quando a autoridade monetária dos EUA iniciou o programa de flexibilização monetária, as autoridades brasileiras mostraram preocupação com a valorização do real, que diminuiu a competitividade dos produtos brasileiros.

Porém, ele ponderou que o Fed não olha para a economia dos outros países para pautar as suas decisões. "A Yellen vai tentar controlar os indicadores dos EUA, assim o Banco Central brasileiro deve ter atenção com a economia nacional", afirmou. 

"Não devemos esperar nada do exterior. Devemos tratar dos nossos problemas".  

Não poderemos mais contar com progresso externo

No cenário que se desenha, não poderemos contar com o progresso extraordinário pelo qual nós fomos beneficiados de 2003 a 2010. 

Ao mesmo tempo, afirmou que não há nenhum cenário catastrófico para o País, mas que o desenrolar das questões internas deve comandar o debate sobre a economia nacional.

Para Delfim, não há desequilíbrio fiscal monumental e a inflação - apesar de desconfortável - não oferece nenhum risco de descontrole. "Nós não estamos no apocalipse e nem perto dele", destacou, afirmando que não há nada que indique uma "tragédia" na economia brasileira. 

O economista, por outro lado, destacou que precisa haver um maior entendimento entre o governo e o mercado de que eles "são indispensáveis" para o processo de crescimento da economia nacional. Para ele, não há tantas diferenças de pensamento, e sim de entendimento entre os dois lados. 

"Se não formos capazes de resolver o problema que é só nosso, provavelmente vamos continuar patinando no crescimento", afirmou. "Os mercados dependem de um Estado forte constitucionalmente construído e, por outro lado, sem mercados funcionando adequadamente, dificilmente vai haver uma alocação eficiente de recursos". 

O crescimento depende de dois fatores principais, aponta Delfim: aumento da produtividade e expansão do capital do trabalho. E avaliou ainda que o País usou os juros como instrumento para controlar o câmbio e a inflação, o que destruiu um "processo industrial sofisticadíssimo", roubando a demanda externa da indústria e, depois, a supervalorização do real levou à queda da demanda interna. 

E, perguntado sobre a "contabilidade criativa", Delfim destacou que as manobras fiscais do governo são a origem do desconforto da sociedade com o governo. "Aquilo foi demais até para mim, que apoiava o governo", brincou. 

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