sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A HISTÓRIA CONTADA COMO ELA ACONTECEU - CONTINUAÇÃO

Rosalba Ciarlini - Política e Poder IV

Conjuntura favorável, Carlos Augusto e carisma produzem idéia de fenômeno

Explicar como a pediatra Rosalba Ciarlini (DEM) transformou-se numa campeã de votos, nome mais popular da política mossoroense e detentora do rótulo de boa administradora, não é fácil. Só argumentação política, números e estatísticas não explicam esse fenômeno que já transpõe os limites de Mossoró.

É preciso abrir o conhecimento, enxergando primeiro a conjuntura, a situar nosso personagem num contexto e não o vendo de forma isolada. A “Rosa” não nasceu do nada, de uma explosão cósmica como na tese do Big Bang, que teria formado o universo.

O quebra-cabeça é intrincado, sempre sujeito a diversas variáveis e opiniões divergentes, boa parte tomada pela passionalidade. Não cabe dizer que Rosalba “tem muita sorte” ou se apegar ao sobrenatural: “É uma predestinada”, apontam os que querem simplificar, em vez de estudarem todos os meandros do caso.

Os gregos costumavam dizer que carisma “é aquilo que enche o templo”. Carisma ela possui. Enche o templo. E as urnas. Porém não é infalível ou imbatível.

Em dois momentos decisivos não conseguiu resolver sozinha, com sua marca, eleições em favor de terceiros. Não elegeu o vice Luiz Pinto em 1992 e o marido Carlos Augusto Rosado (PFL, hoje DEM) em 2002.

Ele retornava a uma disputa eleitoral, mas como candidato a vice-governador de Fernando Bezerra (PTB). Fernando e Carlos levaram a pior até em Mossoró, apesar de Rosalba ser o principal cabo eleitoral.

Na chapa adversária, Laíre Rosado (PMDB) - vice de Fernando Freire (PMDB) - se saiu melhor.

Rosalba conseguiu em 21 anos de trajetória, desde as primeiras caminhadas no bairro Santo Antônio em Mossoró, ao ganhar o pleito de 1988, cativar o eleitor. Produziu uma legião de fãs, simulacro de seita. Também gerou a ira. Há o enredo tradicional com paixão e ódio, comuns a todo político populista.

Sua eleição em 1996, de novo chegando à prefeitura, foi simplificada na terceira parte dessa série, postada ontem. Houve uma conspiração de fatores que lhe garantiram o papel de vítima, gerando a comoção popular.

Mas de lá até nossos dias, ela passou por mais uma eleição a prefeito (2000), bem como ao Senado (2006). Contabilize-se ainda a eleição e reeleição de Fátima Rosado (DEM), a “Fafá”, puxada por seu prestígio em 2004 e 2008.

Deu contribuição à conquista de dois mandatos como deputada estadual da irmã Ruth Ciarlini (DEM) e três do cunhado Betinho Rosado (DEM).

Em oito anos de mandato contínuo como prefeita, de janeiro de 1997 a dezembro de 2004, enfileirou consideráveis êxitos, mas também colecionou equívocos que prefere esquecer. Um deles foi o movimento contra a construção da adutora Jerônimo Rosado, no governo Garibaldi Alves Filho (PMDB).

Uma cidade sedenta acompanhou a prefeita boicotando a obra no final dos anos 90.

É fácil descobrir que nesse período os ventos sopraram quase sempre a favor. Conjuntura favorável. Ajudou-a ainda uma visão administrativa eficiente – apesar de conservadora – do “prefeito de fato”, Carlos Augusto.

Ele apostou numa gestão de reforço à infra-estrutura urbana, com equipamentos emblemáticos (Teatro Dix-huit Rosado, Ginásio Pedro Ciarlini etc.). Tomou as rédeas do poder para si, como "gerente-geral", além de ser articulador político de boa reputação, por honrar compromissos. De palavra.

É preciso assinalar, que Rosalba teve à mão o que nenhum outro prefeito recebeu, desde a retomada do Estado Democrático de Direito do país em 1945. A começar do instituto da reeleição.

Dádiva

A decisão dos congressistas lhe garantiu a dilatação no poder. Até então não tinha sequer alguém preparado em seu grupo para sucedê-la (erro crasso do líder Carlos, quase sempre tão astuto) em 2000. A reeleição, portanto, foi uma dádiva.

Não para por aí aspectos externos, que injetaram fôlego à administração e à sua política de consolidação de Rosalba como algo diferenciado.

Graças ao Plano Real, viveu o auge da estabilidade da moeda, programa monetário e econômico lançado um pouco antes, em 1994, pelo presidente Itamar Franco. Durante muitos anos, os prefeitos anteriores conviveram com o fantasma da inflação.

É importante assinalar, também, a explosão nos repasses dos royalties do petróleo. Abundaram. Antes de morrer durante seu terceiro mandato no dia 22 de outubro de 1996, o prefeito Dix-huit Rosado recebera pouco mais de R$ 74 mil desse fundo na parcela de setembro/96. Rosalba conviveu com números que chegaram aos milhões de forma regular.

Em seu período, outro fator preponderante para se dinamizar a gestão pública foi o surgimento de programas sociais, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Eles nortearam e potencializaram ações nos municípios. Em Mossoró essas verbas amarrada proporcionaram bons resultados, mas longe de uma excelência que a propaganda oficial até hoje vende.

Cabe salientar, que nos oitos anos da “Era Rosalba”, não ocorreu qualquer catástrofe natural. Existiram situações pontuais de enchentes ou estiagens normais.

Nesse ciclo, Rosalba Ciarlini movimentou mais de R$ 1,1 bilhão. Nunca, em tempo algum, qualquer antecessor seu teve tanto recurso público para movimentar.

Portanto não foi difícil à prefeita, esse mastodonte denominado de prefeitura e seu grupo, vencerem as eleições de novo. O ano era 2000. Nesse estágio já conquistara, com o adicional de pesados recursos de marketing político e eleitoral, o título de “fenômeno”.

O "Ravengar", apelido posto como uma pecha em seu marido, na verdade foi sempre sua maior garantia como timoneiro. Sem ele, difícil que chegasse tão longe.

O rosadismo, tradicional contendor, ainda em frangalhos com a derrota de Sandra Rosado (PMDB) por mais de 31 mil votos em 1996, resolveu não se arriscar tanto. Colocou a estreante Fátima Rosado (PMDB) como boi-de-piranha. Perdeu de um pouco menos: 14.839.

Veja abaixo os números dessa campanha:

- Rosalba Ciarlini – 57.369 (54.86%);
- Fafá Rosado – 42.530 (40.67%);
- Socorro Batista (PT) – 4.447 (4.25%);
- Mário Rosado (PMN) – 228 (0.22%);
- Bancos – 1.757 (1.59%);
- Nulos – 4.395 (3.97%);
- Maioria pró-Rosalba de 14.839 (14.19%).

Existiam 127.894 eleitores aptos, mas compareceram 110.726. As abstenções atingiram 17.168 (13.42%), com 104.574 (94.44%) sendo a votação nominal em 358 urnas.

P.S - Num comparativo com as eleições de 1996, esses números guardam uma preciosidade. Rosalba obteve menos votos do que na eleição anterior.

Enquanto em 96 tinham sido 57.407 em eleitorado de 114.218 aptos, em 2000 – contra Fafá, conseguiu 57.369 num contingente de 127.894 aptos. Ou seja, 38 votos a menos, apesar de aumento de 13.676 votantes.

Venceu, mas com queda.

Depois, em duas campanhas municipais, 2004 e 2008, Rosalba emprestou sua força à eleição de Fátima ou Fafá Rosado, que fora adversária em 2000. Vitórias de Pirro. Ganhou, mas não levou. Faz-de-conta que é uma aliada-líder prestigiada.

As conseqüências da herança do período de Fátima Rosado, o êxito eleitoral ao Senado e perspectivas ao governo estado fecham nossa série amanhã.

Até lá.

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