sábado, 22 de agosto de 2009

A HISTÓRIA CONTADA COMO ELA ACONTECEU - FINAL


ROSALBA CIARLINI - POKÍTICA E PODER (FINAL)



Rosalba Ciarlini - Política e Poder (Final)

“Governadora em férias” enfrenta luta depois de ser um "azarão" ao Senado

Sorte ou predestinação? Faça sua escolha. Mas o resultado da eleição ao Senado em 2006 no RN, em nada cheira a sina ou determinismo. Tais abstrações não combinam com a política. Essa é uma atividade científica, sociológica. Explica-se em cima de fatos.

Nesse caso, de novo, há um leque de acontecimentos e decisões que se encadeiam, apontando o porquê do resultado que nasceu das urnas. A ex-prefeita mossoroense Rosalba Ciarlini (PFL, hoje DEM) ganhou pela ousadia. Alterou o que parecia certo em seu desfavor.

Atropelou o gigantismo da estrutura do senador Fernando Bezerra (PTB), superou efeitos colaterais do acordão Alves-Maia e não temeu a influência populista do presidente Lula da Silva (PT). Registre-se ainda a força representada pelo Estado no nome da governadora Wilma de Faria (PSB).

A eleição de 2006 foi o trampolim para projeção estadual que a coloca como favorita à sucessão de Wilma de Faria (PSB) em 2010. "Governadora em férias?"

Na condição de congressista, ela tem os meios à dinamização da própria imagem em dimensão estadual. Repetirá – ou não - numa escala maior, o jeito de fazer política, que a tornou quase imbatível nas pelejas paroquiais de Mossoró.

Antes disso, a história recente da política mossoroense dá notoriedade à Rosalba por ter feito a enfermeira e ex-adversária à prefeitura em 2000, Fátima Rosado (DEM), a “Fafá”, sua sucessora. Em - 2004 e 2008 – Fátima conquistou o governo municipal puxada por Rosalba.

Seria sua “continuidade administrativa”, garantiu ao eleitor.

Hoje, Fafá é uma grande ameaça para a própria Rosalba. Talvez para o clã Rosado, dividido ou monolítico politicamente. Revela com seu governo estabanado, controlado pelo irmão, agitador cultural Gustavo Rosado, que ser Rosado não é mais sinônimo lendário de competência e lisura.

Tudo parece movediço, pantanoso e falso.

- O homem é o lobo do homem - como imortalizou o filósofo Thomas Hobbes, ao popularizar frase do dramaturgo romano Tito Plauco.

Adoro Mossoró

A atual prefeita pode engolir a “Rosa”, que sonha em ser governadora. Entretanto a senadora não deve ser rotulada, mais uma vez, como vítima. Chega. Não é verossímil.

Ganhou as duas disputas sucessórias com Fátima Rosado, mas não levou. Talvez tenham sido vitórias de Pirro. Prejuízos maiores do que os louros.

Está consciente do que acontece com seu legado. Seu silêncio diante do desmanche da máquina municipal, com uma crise de gestão injustificável, é endosso que a faz cúmplice. Não combina com slogan de sua última gestão municipal, que exaltava sentimento telúrico: “Adoro Mossoró”.

O ex-governador Dinarte Mariz costumava dizer que “ninguém pode ser líder sem ser solidário”. Omissão rima com ingratidão.

A senadora é ardilosa, mas pouco honesta com seu eleitorado: mantém-se à distância para não se contaminar com o desastre gerencial. Até aqui, ela adota máxima folclórica de um ex-juiz de futebol da cidade, o Duíte: “Não sei, não vi e bola pra frente!”

Numa rara entrevista que foi obrigada a falar sobre o tema, a ex-prefeita disse à jornalista Delma Lopes (www.nominuto.com) que não podia dissertar sobre a questão, pois estava “viajando”. Desconhecia o caos.

Se o quadro melhorar, é certo que reaparecerá dizendo que sempre acreditou na superação. Porém pode chegar o tempo de proclamar algo pouco provável: o rompimento.

Carlos Augusto, que pensa política pela senadora, quer Fátima e a estrutura da prefeitura a serviço da campanha 2010. Depois acerta as “contas” com a prima prefeita e sua facção arredia.

O comandante-em-chefe do rosalbismo não esquece pelo menos duas decepções nessa contabilidade. Duas a mais: a não-reeleição de Ruth Ciarlini (DEM) – irmã de Rosalba e atual vice-prefeita - a deputado estadual em 2006, além do insucesso do seu irmão Betinho Rosado (DEM), cristianizado pela facção de Fafá na luta para retornar à Câmara Federal no mesmo ano.

Um "azarão"

Ser senadora eleita talvez tenha sido menos difícil. Começou como azarão, contra o “senador em férias” Fernando Bezerra.

O acordão entre adversários históricos, Maias e Alves, PFL e PMDB, parecia uma “joint-venture” (junção de empresas para um negócio específico, com cada uma tentando guardar suas características). O interesse era impedir a reeleição da governadora Wilma de Faria (PSB).

O Senado não era prioridade para os líderes máximos de PMDB e DEM.

Só que Carlos Augusto acreditou na viabilidade da candidatura da mulher. Colocou-a debaixo do braço do senador e candidato a governador Garibaldi Alves Filho (PMDB), para assim vê-la içada, atropelando o ex-governador Geraldo Melo (PSDB) e o próprio Fernando.

Na reta final da campanha, vários foram os fatores à definição do resultado. A começar pelo já-ganhou e soberba da candidatura de Fernando. Depois a decisão de Geraldo em declarar apoio à reeleição de Wilma contra o “bacurau” Garibaldi. Muitos votos seus migraram para Rosalba a partir daí.

Também pesou a tenacidade messiânica de Rosalba, quando até mesmo Carlos tinha jogado a toalha.

Garibaldi perdeu a eleição que estava “certa” e Rosalba venceu o que era improvável.

Para o governo em 2010, ela ostenta o paradoxal e perigoso conceito de “governadora em férias”, com pesquisas lhe dando uma estável sustentação da ordem de 40% na preferência de votos. Todos os demais contendores abaixo de 20%, mas que ao se somarem, empatam tecnicamente com ela.

Portanto, um quadro de indefinição, que a política de alianças começará a ajustar no próximo ano. Quanto ao Senado, eis abaixo o resultado dessa eleição em 2006:

Os números gerais no RN AQUI apresentaram maioria de Rosalba sobre Fernando de apenas 11.131 votos (0.76%). Em Mossoró o cenário foi mais dilatado em favor da senadora eleita.

Foi ajudada pelo fato de Fernando ter abdicado de investir na cidade, orientado por seu marketing de que a Grande Natal resolveria qualquer diferença. Nos bastidores também vingou afinação com o rosadismo, grupo da deputada federal Sandra Rosado (PSB). Abandonou Fernando na reta final.

Eis os números de Mossoró:

- Rosalba Ciarlini (PFL) – 90.660 (83.33%);
- Fernando Bezerra (PTB) – 14.049 (12.91%);
- Geraldo Melo (PSDB) – 3.596 (3.31%);
- Simone Dutra (PSTU) – 168 (0.15%);
- Antônio Sotero (PSL) – 122 (0.11%);
- Edgar (PCB) – 76 (0.07%);
- Augusto Maranhão (PTC) – 74 (0.07%);
- Joanilson Rego (PSDC) – 57 (0.05%);
- Brancos – 7.718 (5.989%);
- Nulos – 12.562 (9.73%);
- Maioria pró-Rosalba de 76.611 (70.42%).

Existiam 149.398 eleitores aptos, mas compareceram 129.082 (86.40%). As abstenções atingiram 20.316 (13.60%). A votação nominal ficou em 108.802 (84.29%) em 406 urnas.

Alguns dados interessantes sobre essa disputa ao Senado: Rosalba venceu em 52 municípios; Fernando em 103 e Geraldo Melo em três.

Em São José do Campestre, Rosalba e Fernando empataram.

Foto – Carlos Augusto, Rosalba Ciarlini e Conchecita Escóssia, mãe da senadora, já falecida (Acervo do Blog do Carlos Santos).

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