sexta-feira, 28 de agosto de 2009

ANTONIO DELFIM NETO

Antonio Delfim Neto
Folha de São Paulo

MARX E KEYNES



MARX E KEYNES têm pelo menos três curiosos
paralelismos. Primeiro, um bando de fanáticos dogmáticos
que pretendem ter o monopólio do entendimento de suas
teorias transformaram-se em sacerdotes de suas igrejas.
Dizem (e, quando têm poder, fazem!) as maiores
barbaridades em nome dos seus deuses, comprometendo as
suas memórias.

Segundo, a relação dos dois com economistas que os
precederam envolve um considerável cinismo e a sutil
apropriação de ideias que reconhecem muito mal. Os dois
foram, obviamente, fatos novos. O problema é que se
pretendem sem raízes.

A relação de Keynes com Marx é das mais ambíguas. As
referências a Marx na "Teoria Geral" (1936) ou são inócuas
ou depreciativas. Ainda em 1934, ele diz a Bernard Shaw
que "meus sentimentos em relação ao "Das Kapital" é o
mesmo que tenho em relação ao Alcorão...", reafirmando o
que já havia dito em 1925: que não podia aceitar uma
doutrina fundada numa "bíblia acima e além de qualquer
crítica, um livro-texto obsoleto de economia que eu sei que é
cientificamente errado e sem interesse de aplicação no
mundo moderno".

O enigma (o "conundrum", como diria um velho ex-quase
"maestro" do Fed que ajudou a meter o mundo na confusão
em que se encontra) é que em 1933 Keynes estava
elaborando a sua revolucionária Teoria Monetária da
Produção. Nela, a moeda produz efeitos reais sobre a
produção e o emprego, ao contrário do que supõe, até hoje, a
maioria dos economistas, para os quais a moeda é neutra no
longo prazo.

De acordo com notas publicadas por alguns alunos, ele se
referia nas aulas ao famoso problema da "realização", isto é,
a possibilidade de vender a produção para "realizar" o seu
valor em moeda, e dizia que "em Marx há um núcleo de
verdade"!

Chegou a utilizar a conhecida fórmula de Marx em que este
havia mudado a ênfase de uma economia de trocas: trocar
bens ("commodities" em inglês) por moeda, para comprar
bens (C-M-C), para uma economia da produção, onde a
moeda compra bens para a produção e esta é vendida por
moeda (M-C-M). Esta mudança na forma de ver o mundo é
uma das bases da construção keynesiana.

O terceiro ponto é que a conclusão da obra de ambos não
deixa de ser paradoxal e frustrante. Marx comprometeu sua
vida estudando o capitalismo e, por isso, não teve tempo de
nos ensinar como construir o socialismo; Keynes construiu
uma teoria para salvar o capitalismo e terminou com uma
receita ("a coordenação estatal dos investimentos para
manter o pleno emprego") que não conseguiu explicar como
realizar sem levar a alguma forma de socialismo...

2 comentários :

JR PIT BOY CPF14933389861 disse...

NA MINHA OPINIAO PARA O BRASIL CONTINUAR NO PROGRESSISMO O NOSSO MAIOR DESAFIO AINDA E A SAUDE E A SEGURANÇA PUBLICA...

Anônimo disse...

Infelizmente homens como esse que fazem complementações pejorativas acerca da obra de Karl Marx, estão no poder. Com absoluta certeza escrevo que: Ou ele não entende a obra de Marx, ou ele quer que continue esse modelo econômico adotado por quase toda a sociedade, que escraviza os pobres.
Pelos rumos dados pelo nosso país, fico com a segunda opçao.
Estudante da Unesp,campus Rio Claro