MOSSORÓ: FUTURA METRÓPOLE!?
POLÍCIA AMBIENTAL APREENDE INSTRUMENTOS
DE MÚSICOS E PROVOCA POLÊMICA NA PRAÇA
Uma ação da Polícia Ambiental de Mossoró, na madrugada do último sábado,
21, surpreendeu tanto os músicos da banda Rádio AM, que se apresentavam
no projeto Corredor Cultural, como os frequentadores dos bares e
restaurantes da Praça da Convivência. Durante a ação considerada
arbitrária pelas pessoas que a presenciaram, além do equipamento de som
da praça, os policiais apreenderam os instrumentos musicais dos
integrantes da banda, o que gerou ainda mais indignação da população.
A coordenadora da Praça da Convivência, Toinha Lopes, afirma que o fato
ocorreu por volta das 1h20 da madrugada de sexta-feira para sábado,
quando os policiais chegaram informando que haviam recebido uma denúncia
de que o som da música estava incomodando a vizinhança do local.
"A Polícia Ambiental mandou desligar o som e apreendeu o equipamento e
os instrumentos pessoais dos músicos. A reação de todos foi de grande
indignação, devido à falta de flexibilidade dos policiais", comenta.
Toinha Lopes diz que tentou argumentar com os policiais, afirmando que
nunca haviam recebido qualquer advertência em relação ao barulho,
pedindo para que os policiais não levassem os equipamentos, mas que eles
foram irredutíveis. Ela conta que foi conduzida à delegacia, junto com o
pessoal da banda, onde ficou até às 6h, prestando esclarecimentos e
mesmo assim não teve como recuperar os instrumentos musicais.
A coordenadora da Praça de Convivência diz que a assessoria jurídica da
prefeitura está tomando as providências para liberar os equipamentos.
Toinha Lopes conta que no momento da operação da Polícia Ambiental não
estava com a licença para a realização do show, mas que possui a
documentação. A coordenadora da praça conta que já entrou em contato com
Mairton França para falar sobre a existência do alvará concedendo
licença para o funcionamento dos shows do projeto Corredor Cultural na
Praça da Convivência.
Ainda segundo Toinha Lopes, os policiais afirmaram que a operação estava
sendo realizada com base em uma denúncia feita por um dos moradores
vizinhos da praça.
"Dizer que foi com base em denúncia é muito estranho, já que o que a
gente escuta dos moradores é que a presença da praça melhorou a questão
da segurança, já que os moradores se sentem seguros para chegar a
qualquer hora em casa, porque tem segurança 24h no local", explica.
Segundo Toinha Lopes, as pessoas que estavam nos bares e restaurantes,
ao perceberem a ação dos policiais, também tentaram argumentar e impedir
o recolhimento dos equipamentos, e todos ficaram indignados com a
atitude dos agentes, o que causou um pouco de tumulto no local.
O líder da banda Rádio AM, Anderson Lima, reclama da falta de bom-senso do Policial Ambiental.
"Ele poderia ter sido mais flexível, principalmente, por ter sido a primeira vez da ocorrência", explica.
Entre os instrumentos da banda recolhidos, estava a bateria e o trombone.
Segundo o músico Anderson Lima, tanto o trombonista, quanto o baterista
tiveram dificuldades para realizar suas apresentações nos outros dias.
"O baterista tocou com um instrumento emprestado e o trombonista teve
que alugar um instrumento para realizar sua participação em um novo
show, no próprio corredor cultural", comenta.
O responsável pela banda disse que vai esperar a atitude da Prefeitura
de Mossoró, contratante da banda, para resolver o problema.
Músico questiona fiscalização
O representante da banda Rádio AM, Anderson Lima, ainda indignado com a
ação dos policiais, questiona a legitimidade da fiscalização. De acordo
com o músico, os policiais aferiram os decibéis muito próximo das caixas
de som, e que por isso ultrapassou a quantidade permitida. "A medição
era para ter sido feita da calçada do reclamante e não por trás do som,
como foi feita", protesta.
Ainda segundo o músico, os profissionais que estavam trabalhando foram
taxados de criminosos. "Se eles disseram que aquilo se tratava de um ato
criminoso, disseram então que somos criminosos", afirma.
A reportagem entrou em contato com a Polícia Ambiental e conversou com o
policial Fagundes. Ele explicou que a aferição deve ser feita a dois
metros da fonte poluidora e que como a Praça da Convivência fica em uma
área mista de comércio e residência, o limite permitido é de 55
decibéis, e no local o som estava a 88 decibéis.
O gerente de Gestão Ambiental, Mairton França, afirma que a Praça de
Convivência não tem uma licença fixa. "O local precisa de uma licença
para cada espetáculo que for realizado, porque se entende que se trata
de atividades eventuais", fala.
Mairton França explica que esta semana deve se reunir com a Gerência de
Indústria, Comércio e Turismo, para definir uma nova forma para a
realização dos eventos sem incomodar a vizinhança.
O promotor de Defesa do Meio Ambiente, Jorge Cruz, diz que existem
várias leis que regulamentam a forma que deve ser realizada a medição
dos decibéis, uma delas é a aferição na residência de onde partiu a
reclamação. Para ele, só se configura crime ambiental, caso seja
comprovado o risco à saúde.
Fonte: Jornal de Fato
Enviado por Togo Ferrário
Um comentário :
Sobre o episódio envolvendo os músicos na Praça de Convivência na madrugada do sábado, bem que caberia essa obra prima de Ronaldo da Cunha Lima.
HABEAS PINHO
Na Paraíba, alguns elementos que faziam uma serenata foram presos. Embora liberados no dia seguinte, o violão foi detido. Tomando conhecimento do acontecido, o famoso poeta e senador Ronaldo Cunha Lima enviou uma petição ao Juiz da Comarca, em versos, solicitando a liberação do instrumento musical.
Senhor Juiz.
Roberto Pessoa de Sousa
O instrumento do “crime”que se arrola
Nesse processo de contravenção
Não é faca, revolver ou pistola,
Simplesmente, Doutor, é um violão.
Um violão, doutor, que em verdade
Não feriu nem matou um cidadão
Feriu, sim, mas a sensibilidade
De quem o ouviu vibrar na solidão.
O violão é sempre uma ternura,
Instrumento de amor e de saudade
O crime a ele nunca se mistura
Entre ambos inexiste afinidade.
O violão é próprio dos cantores
Dos menestréis de alma enternecida
Que cantam mágoas que povoam a vida
E sufocam as suas próprias dores.
O violão é música e é canção
É sentimento, é vida, é alegria
É pureza e é néctar que extasia
É adorno espiritual do coração.
Seu viver, como o nosso, é transitório.
Mas seu destino, não, se perpetua.
Ele nasceu para cantar na rua
E não para ser arquivo de Cartório.
Ele, Doutor, que suave lenitivo
Para a alma da noite em solidão,
Não se adapta, jamais, em um arquivo
Sem gemer sua prima e seu bordão
Mande entregá-lo, pelo amor da noite
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a sentir o terno acoite
De suas cordas finas e sonoras.
Liberte o violão, Doutor Juiz,
Em nome da Justiça e do Direito.
É crime, porventura, o infeliz
Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?
Será crime, afinal, será pecado,
Será delito de tão vis horrores,
Perambular na rua um desgraçado
Derramando nas praças suas dores?
Mande, pois, libertá-lo da agonia
(a consciência assim nos insinua)
Não sufoque o cantar que vem da rua,
Que vem da noite para saudar o dia.
É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza do seu acolhimento
Juntada desta aos autos nós pedimos
E pedimos, enfim, deferimento.
O juiz Roberto Pessoa de Sousa, por sua vez, despachou utilizando a mesma linguagem do poeta Ronaldo Cunha Lima: o verso popular.
Recebo a petição escrita em verso
E, despachando-a sem autuação,
Verbero o ato vil, rude e perverso,
Que prende, no Cartório, um violão.
Emudecer a prima e o bordão,
Nos confins de um arquivo, em sombra imerso,
É desumana e vil destruição
De tudo que há de belo no universo.
Que seja Sol, ainda que a desoras,
E volte á rua, em vida transviada,
Num esbanjar de lágrimas sonoras.
Se grato for, acaso ao que lhe fiz,
Noite de luz, plena madrugada,
Venha tocar à porta do Juiz.
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