GIGANTE INEFICIENTE
Quando o poder incumbente, mesmo com a melhor
das intenções, ignora as restrições físicas que condicionam a estrutura
produtiva e não limita o voluntarismo distributivo, a ação do Estado é
estimulada. Incorpora um metafísico “élan vital” que
o leva a multiplicar-se ao mesmo tempo que lhe parece conferir a
onisciência e a onipotência necessárias para justificar a sua
onipresença. A experiência histórica mostra que geralmente esse excesso
de ativismo termina num Estado obeso, ineficiente e perplexo.
No final do governo Geisel
(15/3/1974-15/3/1979), que enfrentou sérios problemas com a crise
mundial do petróleo, foi preciso fazer um “censo” para saber o tamanho
que o Estado havia atingido para defender-se dela. Foi criada uma
secretaria (a Sest), para conhecer e limitar a capacidade de se
reproduzir que está no DNA das empresas estatais. No governo Figueiredo
houve um pequeno esforço para reduzir aquela obscura cissiparidade (no
Brasil e no exterior), acompanhado de uma tímida tentativa de
aprendizado com pequenas privatizações. O primeiro grande movimento,
infelizmente, muito tumultuado, para reduzir o tamanho do Estado foi no
governo Collor. Prosseguiu nas privatizações pouco transparentes do
governo FHC.
O processo foi claramente interrompido na
octaetéride de Lula. Necessitamos hoje de um novo “censo” para saber
qual é o verdadeiro tamanho do Estado brasileiro construído nesses 12
anos, em que algumas “secretarias” foram promovidas a “ministérios”. Na
contagem de um grande conhecedor das entranhas do governo, o jurista Cid
Heráclito de Queiroz, que durante muitos anos foi o consultor jurídico
do Ministério da Fazenda, temos hoje nada menos que: 1. 39 ministérios, um terço dos quais mal sobreviveria como discutíveis secretarias. 2. 128 autarquias. 3. 34 fundações e, pelo menos... 4.
140 empresas estatais... Todos devidamente “aparelhados” com
companheiros de passeatas pelo PT e pelos partidos do “presidencialismo
de coalização”, que hoje nem preside, nem coaliza. Mas é preciso dizer
que o aparelhamento vem de longe. A nomeação dos “companheiros de
passeata” pelo PT, como a dos “companheiros de tertúlias literárias” do
governo do PSDB, foi uma contribuição para a biologia governamental.
Criou uma forma extravagante de altruísmo seletivo: protege
excessivamente os filhotes quando há predadores à vista.
Diante do fantástico tamanho
do Estado, que controla 35% do PIB como receita tributária, registrou
déficits fiscais da ordem de 3,3% do PIB nos últimos dez anos, acumulou
uma Dívida Bruta de 65% do PIB, e devolve serviços de péssima qualidade,
é muito difícil convencer a sociedade de que não há qualquer espaço
para programar uma consistente racionalização das despesas públicas e
comprometer-se com a sua execução. E, pior, que não há espaço para
desmontar a bomba atômica previdenciária que nos espera no futuro
visível.
Essa intrusão mal pensada do Estado nas
atividades econômicas e o total descuido com o investimento público
estão na origem da redução do nosso crescimento quando comparado com os
dos outros paí-ses emergentes. O quadro abaixo mostra com clareza a ineficiência do nosso setor público comparando o ranking dos 144 países do The Global Competitiveness Report – 2014-2015
(o melhor = 1º; o pior = 144º), de oito países emergentes, cuja média é
90º, ante o nosso que é 136º. Nosso Estado é muito pior do que eles. A
mesma informação com relação ao nosso setor privado quando comparado com
o deles, mostra que somos o 36º no ranking contra o deles, 56º. Nosso
setor privado é muito melhor do que o deles.
As medidas são imprecisas e mesmo arbitrárias, mas
dificilmente podem deixar dúvida que a exagerada transferência de
recursos do setor privado para o setor público é um dos fatores que
reduziram o nosso crescimento econômico e, num prazo mais longo, acabará
reduzindo, também, o nível de bem-estar da nossa população.
Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto
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