VENDEDORES AMBULANTES
RETORNAM ÀS CALÇADAS
A Justiça suspendeu por 60 dias o cumprimento de decisão judicial que
determinava a transferência dos camelôs das calçadas do Centro de
Mossoró. A decisão do juiz Pedro Cordeiro foi emitida na tarde de ontem.
De acordo com o diretor do Fórum Silveira Martins, José Herval Sampaio
Júnior, magistrado que intermediou o contato com Pedro Cordeiro, a
determinação se justifica por entender que a decisão judicial estava
sendo cumprida de modo genérico. O juiz Pedro Cordeiro entende que é
necessário individualizar a questão, ou seja, avaliar caso a caso, para
identificar quem, exatamente, entre os ambulantes está descumprindo
normativa do Ministério Público que impede pessoas de circularem
livremente nas ruas. De modo contrário, o juiz acredita que há
ambulantes que podem ser prejudicados.
A notícia foi repassada aos comerciantes informais na noite de ontem.
“O juiz deu um despacho hoje à tarde dando 60 dias para a gente
permanecer nas ruas”, afirmou o presidente da Associação dos Camelôs e
Ambulantes de Mossoró (ASCAM), Antônio Canuto. Segundo ele, hoje, a
partir do momento em que a Prefeitura for notificada, os vendedores
retornam aos pontos. Hoje os camelôs se reúnem na Praça Rodolfo
Fernandes, às 8h, para discutir o assunto. “A associação vai organizar
melhor o Centro, para que fique satisfatório para as pessoas transitarem
pelas calçadas e atravessarem as ruas”, garante Antônio Canuto.
Antes da decisão, a Prefeitura de Mossoró já havia iniciado na manhã
de ontem o cumprimento da ordem judicial ingressada na Justiça pelo
Ministério Público Estadual, conforme a Lei de Acessibilidade, e retirou
as barracas dos vendedores ambulantes que estavam instaladas nas
calçadas do Centro da cidade. A operação teve início ainda na madrugada e
causou um verdadeiro alvoroço pela manhã. Revoltados com a ação, os
camelôs iniciaram um protesto por volta das 7h e interditaram o trânsito
na Rua Coronel Gurgel. Com receio da ocorrência de possíveis tumultos,
comerciantes do entorno não abriram suas portas enquanto a situação não
foi contornada. Por volta das 10h30, os manifestantes concordaram em
liberar apenas uma faixa da rua para a passagem dos carros. A liberação
só ocorreu após intervenção e pedido de membros da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB) subsecção de Mossoró.
O cumprimento da ordem judicial começou por volta de meia-noite com
os trabalhos das secretarias Municipal de Meio Ambiente e de Serviços
Urbanos, com apoio da Guarda Municipal e das polícias civil e militar.
De acordo com o secretário de Segurança Pública, tenente-coronel Alvibá
Gomes, todas as barracas móveis que estavam nas calçadas foram retiradas
e aquelas que estão fixas e que têm energia elétrica foram embargadas e
deverão ser retiradas pelos próprios donos até hoje, caso contrário
eles serão notificados para retirarem a estrutura, podendo sofrer multa.
Ao todo foram retiradas 54 barracas móveis e 45 pontos fixos
embargados.
Os produtos que foram recolhidos durante a operação foram lacrados e
identificados e levados para um galpão da Prefeitura localizado no Alto
de São Manoel e a partir de hoje, os proprietários poderão ir ao local
para recuperá-los.
A revolta e desespero tomaram conta dos ambulantes reunidos próximo à
Praça Rodolfo Fernandes. “Fomos pegos de surpresa e de madrugada quando
chegamos as nossas coisas já estavam sendo retiradas. Eu trabalho nisso
há vários anos e um dia sem vender significa que é um dia sem ter
dinheiro pra levar comida pra casa. Isso aqui é desumano. É uma falta de
respeito querer colocar a gente naqueles quadrados que mal cabe uma
pessoa, que dirá a nossa mercadoria”, gritava emocionada a vendedora
Ediná Barbosa.
A ação foi comandada pelo tenente-coronel Alvibá Gomes e o chefe da
Guarda, Jailson Nogueira, e na manhã de ontem cerca de 140 homens, entre
policiais civis, militares e federais, além da Guarda Civil Municipal. O
contingente inclusive foi motivo de revolta dos camelôs. “Estão
tratando a gente como se fôssemos bandidos e baderneiros. Estamos aqui
para mostrar à população como o prefeito está tratando 150 pais de
família. Não temos intuito de fazer bagunça. Enquanto esses policiais
estão aqui, a bandidagem deve estar aproveitando pra fazer a festa no
restante da cidade”, ironizou um dos manifestantes.
Após mais de duas horas de manifestação, representantes da Comissão
dos Direitos Humanos da OAB intermediaram uma negociação entre os
vendedores e a polícia. A preocupação da OAB é com a garantia das
condições mínimas de funcionamento desses estabelecimentos, temendo pela
própria segurança dos comerciantes. Na manhã de ontem, a OAB se
comprometeu em enviar ofícios às autoridades competentes para garantir
que os locais para onde os camelôs devem se mudar estejam de acordo com a
lei. Os representantes da Ordem informaram que iam oficiar os gestores
das instituições públicas responsáveis pela fiscalização dos
estabelecimentos, como o Corpo de Bombeiros e a Coordenadoria de
Vigilância Sanitária. A OAB irá cobrar o posicionamento destas
instituições quanto ao cumprimento da legislação, garantindo que os
vendedores ambulantes estejam em local adequado, de acordo com as normas
de segurança. “Com o resultado desses laudos, caso seja comprovado que
não há condições dignas para os vendedores ocuparem os espaços, nós
iremos levar a documentação ao Ministério Público e pedir novamente a
sua intervenção, quem sabe dando mais um prazo para eles saírem de vez
das calçadas”, informou o presidente da Comissão dos Direitos Humanos,
Diego Tobias. O presidente da OAB/Mossoró, Aldo Fernandes de Souza Neto,
também esteve em contato com os ambulantes e enfatizou a necessidade do
cumprimento da ordem judicial. “A OAB é inteiramente favorável ao
cumprimento da decisão. Nossa preocupação é com a realocação destas
pessoas, com a segurança de todos eles”, disse.
Em meio a todo o tumulto na manhã de ontem, ainda havia alguns
ambulantes sem saber o que fariam depois do cumprimento da determinação
judicial. O jornaleiro Ademar de Freitas, que tem uma banca que vende
jornais e revistas há mais de 30 anos na Rua Idalino de Oliveira,
visivelmente triste disse que ainda não sabia para onde levaria a banca.
“Em toda cidade tem bancas de jornal. Nos prometeram que poderiam nos
colocar nas praças, mas até agora não tem nada concreto. A banca do meu
colega que está há mais de 40 anos no local já foi embargada e eu estou
só esperando embargarem a minha também”, lamentou.
Apesar de toda a movimentação do cumprimento da medida judicial, o
coronel Alvibá Gomes considerou a ação pacífica, não sendo necessária
qualquer intervenção utilizando força da polícia.
Até a tarde, vendedores mantiveram a interdição de parte da Coronel
Gurgel, chegando a interditá-la totalmente ao final da tarde. A polícia
também se manteve presente.
ESCLARECIMENTO
A Justiça esclarece ainda que não tem não nenhuma
responsabilidade sobre a definição dos locais para onde os vendedores
serão transferidos. O Objeto da ação é uma normativa do Ministério
Público a respeito de uma tabela com medidas que garantem a
acessibilidade nas calçadas.
Fonte: Gazeta do Oeste
Por Kalidja Sibéria
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