terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Por Gilmar Henrique*




SANDICES & TRUANICES TELEVISUAIS


Burguesia medíocre (alienada e, pior ainda, alienatória) promove cabaré de luxo (BBB e outros afins) e banalização cultural por meio da  mais alta indústria de comunicação televisiva do país.

O problema é que as pessoas de senso comum (a grande maioria), sem nenhum outro referencial filosófico-existencial (sobre a condição humana no meio social) e desprovidas de senso crítico exotópico (de olhar externo, fora das forças centrípetas das ideologias dominantes), por objetivação de um sistema educacional que prima pela formação de ótimos analfabetos funcionais, sentem-se contempladas ao ver suas subjetividades ali refletidas e, como corolário, são incapazes de tomar consciência crítica em relação a sua atuação (papel social que desempenham) face a uma potente fonte produtora de ideologias (Rede Globo de Televisão) a serviço do controle comportamental dos seus telespectadores.

Vendo essa questão numa perspectiva psicossocial é praticamente impossível (para a grande maioria das pessoas tragadas pelas forças centrípetas ou ptolemaicas) uma tomada de consciência crítica em relação às estruturas de papéis sociais inventadas por castas dominantes. Esse bloqueio ocorre devido a um fenômeno psicológico chamado de egossintonia, ou seja, conforme ao ego, por exemplo, quem é idiota não se vê assim. O alienado nem sequer pensa nisso. Para Narciso, a culpa é SEMPRE do espelho. Já o psicopata vive sacrificando, em série, bodes expiatórios. Da mesma forma, quem é arrogante não se vê como tal, mas o carreirista é o TALL (portmanteau híbrido) – sente-se como um excelente profissional. Para ele, o que lhe importa é estar sempre APARECENDO com um “sucesso” após o outro a fim de compor a halitose das vápidas colunas sociais – em detrimento de tudo. O carreirista se ACHA, mas, a bem da verdade, não passa de um fantoche espertalhão com cara de palhaço.

O ponto positivo que vejo (sou pollyannístico) nesse gênero de programa televisivo como o Big Brother Brasil (expressão anglicizada por xenofilia – alienação cultural) é que com seu caráter de apresentação realística (reality show – mais conhecido assim, também por alienação linguística) pode ser utilizado por sociólogos como um sistema de amostragem que serve para avaliar a visão de mundo das pessoas em uma determinada sociedade e, daí, formular uma teoria bem fundamentada. Esta só pode ser feita a partir da observação do mundo real. Sem essa amostragem realística teríamos apenas teorias fundamentadas exclusivamente em especulações do raciocínio abstrato. É por isso, também, que digo o que digo, sem ser sociólogo (por profissão), desse programa televisual.

Para concluir, acredito que num grande meio de comunicação de massa bem como num sistema político-educacional o mais importante é garantir que o plano de conteúdo seja, de fato, coerente com o que se materializa no seguinte plano de expressão: “Fazer-nos tomar consciência da condição mental (e cultural) da existência humana.” (Weissgerber).

Adote um cão abandonado.

* Gilmar Henrique é professor


Um comentário :

Anônimo disse...

O texto imagético inserido no texto verbal que foi publicado nO Santo Ofício do jornalista Franklin Jorge deu bastante realce ao discurso do autor como um todo. Confira:

http://www.osantooficio.com/2012/02/24/sandices-truanices-televisuais/#comments