quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

ROGÉRIO DIAS: HOMENAGEM A LUIZ CAMPOS


"CARTA A PAPAI NOEL" DO POETA LUIZ CAMPOS


Desejo de todo coração e amizade que essa data nunca seja para você o que é para milhões de crianças que habitam o nosso planeta.

Desejo-te um Feliz e alegre Natal, com muita fartura, alegrias, abraços de amigos e acima de tudo Paz e Saúde , mas também com muita sinceridade apesar de ser uma data mudialmente comemorada com imensa alegria e satisfações, eu vos digo, fico muito triste nesta época do ano.

Lembro-me do meu tempo de criança; nesta fase de minha vida junto com meus 11 irmãos (depois nasceram mais dois) eu não sabia nem que existia uma figura de nome "Papai Noel" o meu pai era um pobre agricultor sem a mínima condição de me presentear com algo que me desse a idéia de uma noite de Natal, nem "meias" eu possuia, calçava uma alpargata fabricada não sei aonde, mas eram divinas, foram meus pais que me presentearam muito antes dessa data que eu ignorava, o Natal; desta maneira eu passava o "Nosso Natal" eu e meus irmãos sem ao menos saber que estava atravessando essa tão insigne data mudial.

Por outro lado, tentando não me lembrar, mas involuntariamente torno a refletir sobre as milhões de crianças que vivem atualmente no mundo e até entre nós, essa mesma situação em que eu vivi, hoje até mais grave, na minha época pelo menos meus pais nunca nos deixaram passar fome; e as nossas crianças que vivem debaixo de lonas, dormindo nas ruas sem ter sequer o que comer, sonham também com um tal Papai Noel?...

Parafraseando o poeta Luiz Campos, um grande amigo meu, quando ele que viveu a mesma situação dessas milhões de crianças no mundo e escreveu uma"Carta a Papai Noel"
Rogério Dias

"CARTA A PAPAI NOEL"

Seu moço, eu fui um garoto
Infeliz na minha infança
Qui eu sube qui fui criança
Mas pela boca dos ôto.
Só brinquei cum gafanhoto
Qui achava nos tabulero,
Debaixo dos juazeiros
Com minhas vaca de osso
Essas catrevage, sêo moço
Qui se arranja sem dinheiro.

Quando eu via um gurizin
Briancando de velocipe
De caminhão e de jipe,
Bola, revólve e carrin
Sentia dentro de mim
Desgosto que dava medo
Ficava chupando o dedo
Chorando o resto do dia
Só pruque eu não pudia
Pegar naqueles brinquedo.

Mas preguntei uma vez
A uns fio dum dotô:
Quem dá isso pra vocês?
Mim respondeu logo uns três:
-Isso aqui é os presente
Qui a gente é inocente
Vai drumi às vezes nem nota
Ai Papai Noé bota
Perto do berço da gente.

Fiquei naquilo pensando
Inté o Natá chegá
E na noite de Natá
Eu fui dromi m'a lembrando
Acordei, fiquei caçando.
Por onde eu tava deitado
Seu moço eu fui enganado
Qui de presente o qui tinha
Era de mijo uma pocinha
Qui eu mesmo tinha botado

Sai c'a bixiga preta
Caçando os amigo meu
Quando eles mostraro a eu
Caminhão, carro e carreta,
Bola, revólve , corneta,
E trem elétrico até,
Boneca máquina de pé,
Mas num brinquei só fui vê
E rusuvi escrevê
Uma carta a Papai Noé.

"Papai noé é pecado
Os outro se maltratá
Mas eu vou li reclamá
Um troço qui tá errado
Qui aos fio dos deputado
Você dá tanto carrin,
Mas você é muito rim
Qui lá em casa num vai
Por certo num é meu pai
Qui não se lembra de mim.

Já tó certo qui você
Só balança o povo seu
E um pobre quinem eu
Você vê, faz qui não vê.
E se você vê, porque
Na minha casa num vem?
O rancho qui a gente tem
É pequeno, mas li cabe
Será qui você num sabe
Qui pobre é gente também?

Você de roupa incarnada
Colorida, bonitinha
Nunca reparou qui a minha
Já tá toda remendada
Seja mais meu camarada
Pr'eu num chamá-lo de rim
Para o ano faça assim:
Dê meno aos fio dos rico
De cada um tire um tico
Traga um presente pra mim.

Meu endereço eu vou dá,
Da casa qui eu moro nela.
Moro naquela favela
Que você nunca foi lá.
Mas quando você chegá
Qui avistá uma paioça
Cuberta cum lona grossa
Cum dois buracão bem grande
Uma porta vêia de frande
Pode batê, qui é a nossa.


Poeta Luiz Campos, 69 anos, doente sem poder mais tocar a sua viola, hoje passa por sérias complicações de saúde, morando sozinho em sua casa, alguns amigos vez por outra lhe prestam alguma assistência. O Governo do Estado, via Fundação José Augusto, e pelo esforço de Crispiniano Neto, lutou e conseguiu tornar o poeta Luiz em "Patrimonio Imaterial da Cultura do Rio Grande do Norte" que já vai valer para Luiz uma aposentadoria até o final de sua vida. O nosso poder municipal, fecha os olhos, torce a cara, aguardando a hora chegar. Depois a exemplo do outro grande poeta Elizeu Ventania, ainda de olhos vendados, brigam uns com outros para prestar uma falsa homenagem, dando-lhes o nome a uma ruelazinha qualquer ou algum lugar dessa Mossoró tão ingrata com a cultura e seus batalhadores.
Rogério Dias

Nenhum comentário :