sábado, 19 de dezembro de 2009

O GANCHO E O NOME DA ROSA



Dix-huit, em pé, discursando em um evento com José Sarney e Aluízio Alves

Por Gilberto de Sousa

Na linguagem jornalística o “gancho” é o clic, a idéia central de uma matéria, é o brilho. É por aí que se desperta a atenção do leitor, principalmente quando o assunto é palpitante para determinado momento.

No compasso das eleições municipais em Mossoró, em 1988, quando emergia do seio da medicina pediátrica a política Rosalba Ciarlini, para ser lançada a Prefeitura, o prefeito era Dix-huit Rosado, tio do então deputado estadual Carlos Augusto, marido de Rosalba.

Eu trabalhava no Diário de Natal, coordenando a sucursal da região Oeste, a partir de Mossoró.
Dix-huit estava começando a se estranhar com o irmão, deputado federal Vingt Rosado, que o considerava irmão siamês pelo orgulho de estarem juntos a 50 anos na vida pública. Vingt lançou o genro Laíre Rosado a prefeito, enquanto Dix-huit passou a ter simpatia pelo nome de Rosalba, opção decidida na fazenda São João com o aval do saudoso ex-governador Tarcísio Maia, que liderava o grupo do qual Carlos Augusto passou a seguir porque não aceitava que o comando da ala do tio Vingt ficasse com o deputado estadual Laíre Rosado.

Carlos Augusto, já danadinho naquele tempo, passou a costurar a atração de Dix-huit. Carlos sempre atuou no centro das articulações, mas preferia ficar por fora, com o ouvido no chão para captar nitidamente o som dos tambores, o apelo popular. É tanto que houve algumas oportunidades em que, enquanto Rosalba fazia comício no bairro Santa Delmira, a gente ficava tomando cerveja no bar do Posto Imperial, no Alto de São Manoel, quando Carlos Augusto, sempre atento, escutava o que o povo estava dizendo do outro lado da cidade.

E para mim, um dos desafios era arrancar de Dix-huit, quem ele realmente iria apoiar. Eu tinha uma amizade com Dix-huit muito grande, e praticamente todos os dias ligava tentando saber se ele já havia decidido. A definição estava próxima.

O Diário de Natal, no tempo em que o velho Luiz Maria Alves era diretor, vendia cerca de dois mil exemplares diariamente em Mossoró. Era liderança em vendas e isso só aumentava a minha responsabilidade.

Um dia chegaram a sucursal do Diário, o prefeito de Assu, José Maria Macedo e o assessor João de Deus. Eles iriam fazer uma visita ao prefeito de Mossoró e pediram para que eu fizesse a cobertura desse encontro. Era importante para José Maria aparecer ao lado de Dix-huit naquela conjuntura. Não vi muito atrativo no assunto, mas fui para dar uma força ao amigo José Maria. Houve o encontro e o fotógrafo Marquessoel fez o registro, enquanto eu estava certo de fazer pelo menos uma foto-legenda. Tudo bem.

Só que, quando a gente já estava de saída, arrisquei perguntar a Dix-huit se ele já havia decidido o apoio a Laíre ou a Rosalba. Era uma decisão difícil, sobretudo, porque também sinalizava seu rompimento político com o irmão siamês Vingt.

Dix-hui desconversava, mas naquele dia acabou partindo para as parábolas que gostava tanto quando desejava emitir algum sinal. Eu lancei a isca e ele arrematou. Disse que estava lendo um livro muito bom que recebeu de presente.

__ Como é o nome, prefeito? Indaguei

__ É “O nome de rosa”, de Humberto Eco, é o meu livro de cabeceira.

Estava ali o “gancho” que eu tanto esperava para dar o furo. Já fiquei impaciente com os dedos coçando querendo voltar à redação. Estava com o texto pronto na cabeça.

Comecei a escrever a matéria realçando exatamente o que o “velho alcaide” havia dito, fazendo o floreio com a questão política, interpretando sua dica. E lá pelo meio da matéria até registrei que o acontecido havia sido durante um encontro com o prefeito de Assu. Só isso.

Enviei a matéria e liguei para Aluízio Lacerda, que era o editor do Diário, para dizer que achava que havia conseguido um bom assunto. Para minha surpresa, no dia seguinte o Diário de Natal estampou uma grande fotografia de Dix-hui com pose de estadista, na matéria principal com o título: “Dix-huit dá a receita: é o nome da Rosa”.

A matéria caiu como uma bomba em Mossoró. E a partir do dia seguinte, o jornalista Canindé Queiroz, que era aliado de Rosalba passou toda a semana dando repercussão ao fato na sua coluna Penso Logo... na Gazeta do Oeste, apressando a inclinação de Dix-huit que já estava certa até porque as pesquisas começavam a mostrar a expectativa de vitória de Rosalba, o que realmente aconteceu.

Há de se registrar nesse episódio, que dias depois o assessor do prefeito de Assu me liga meio indignado.
__ Gilberto, não saiu nada, nem a foto de José Maria com Dix-huit?
__ Homem, me entenda, eu não podi.
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