AQUI SÓ TEM LADRÃO
José Andrade, o conhecido "Zé Gago", é uma pessoa de ligações históricas com o movimento comunista de Mossoró. No início dos anos 80, precisamente em 82, aventura-se numa candidatura a vereador.
Fazendo jus ao seu apelido, Zé Gago protagoniza algumas situações hilariantes, por força da gagueira. Comício em andamento, ele sabe que será um dos oradores. A propósito, não dispensa a oportunidade de se pronunciar, à cata de votos.
Chegando o momento de discursar, Zé Gago caminha na direção do seu objetivo de desejo: o microfone. Para evitar certos atropelos com as palavras, ele antecipadamente prepara seu "improviso". Anotações num pequeno papel, colocado no bolso da camisa, sua garantia de uma oratória fluente. Eloquente.
Microfone em punho, cabeça arqueada e olhos fixos perscrutando o bolso, Zé Gago começa a se afligir. Dedilha o bolso e nada.
- Ih, ih... - esforça-se Zé Gago, com sua voz se propagando pelas caixas de som no comício. Por mais que se empenhe, as palavras falham. Por trás dele, outros componentes do partido o pressionam, deixando-o ainda mais aflito: "Vamos, Zé Gago! Fale logo!"
Repuxando o bolso à cata do discurso e com o microfone colado à boca, o orador destampa a garganta, em desabafo, vendo que tinham surrupiado seu discurso: "IH, ih...Aqui só tem ladrão!"
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