domingo, 14 de junho de 2009

É UMA VERGONHA!...

Carlos Escóssia
Sem comentários, transcrevo matéria publicada pelo jornalista Luiz Fausto: "O caso eu conto como o caso foi".
Mais uma matéria que confirma a mentira e o engodo da administração "Mossoró da Gente?".


O caso eu conto como o caso foi

Sirvo-me do título das memórias de Paulo Cavalcanti, jornalista e advogado pernambucano a quem se deve algumas das páginas mais brilhantes e corajosas da história política do Nordeste brasileiro, para o registro da verdade e o resgate do respeito que alguns mossoroenses perderam de vista.


Eu não queria, acho até que nem devia, mas já que tantos se calam e poucos se atrevem a desafiar o status quo apodrecido e corrompido que se instalou nos gabinetes oficiais de Mossoró, me rendo à necessidade de falar e de colocar os pingos nos is.


Portanto, o caso eu conto como o caso foi:


Em 2005, logo após a morte de meu Pai, o jornalista Dorian Jorge Freire, Gonzaga Chimbinho, então presidente da Fundação Municipal de Cultura, perguntou-me se havia interesse da família em transformar a casa onde ele nasceu e viveu em um espaço de cultura para Mossoró. Disse-lhe que sim, que poderíamos conversar sobre o assunto, mas não agora, não de imediato, não enquanto a casa fosse habitada por minha Mãe.


No ano seguinte, quando do lançamento do Prêmio de Jornalismo Dorian Jorge Freire, pergunta idêntica me foi feita por Gustavo Rosado, chefe de gabinete da Prefeitura de Mossoró. E a mesma resposta foi dada.


Só em junho de 2008, um mês depois da morte de minha Mãe, o assunto voltou à pauta. Gonzaga e Gustavo novamente demonstraram interesse em transformar a casa de meu Pai em Casa de Cultura Dorian Jorge Freire, mantendo ali a sua biblioteca e levando para lá a Academia Mossoroense de Letras, a Coleção Mossoroense e o Instituto Cultural do Oeste Potiguar. Ambos falaram comigo, por telefone, e - com o aval de meus irmãos e de minhas irmãs - dei aos dois o sinal verde para levarem a ideia adiante. Só pedi a Gonzaga que transferisse provisoriamente para a Biblioteca Pública Ney Pontes os livros de meu Pai, com o objetivo de catalogá-los, de mantê-los em bom estado e de avaliá-los para uma futura negociação.


Em outubro do mesmo ano, o acervo de meu Pai finalmente foi levado à Biblioteca Pública Ney Pontes e em novembro, quando voltei a falar (por telefone) com Gonzaga, ele me disse que apenas no início de 2009, quando se iniciaria o novo mandato da prefeita Fafá Rosado, seria feita uma proposta oficial não só pelos livros, mas também pela casa de Dorian Jorge Freire.


Quando começou o segundo mandato de Fafá Rosado, em 2009, Gonzaga deixou a Fundação Municipal de Cultura e a partir daí passei a conversar única e exclusivamente com Gustavo. Que renovou o interesse da prefeitura em adquirir a biblioteca e a casa de meu Pai, agora condicionando o negócio a uma parceria com a Fundação José Augusto.


- Você pode falar com Crispiniano para saber se ele poderia administrar a casa?, perguntou-me Gustavo, referindo-se ao presidente da Fundação José Augusto, o poeta mossoroense Crispiniano Neto.


- Sem problemas, respondi.


E foi o que fiz, imediatamente. Liguei para Crispiniano, sondei a possibilidade de a Fundação José Augusto administrar a casa, e ele me respondeu que não haveria problema algum.


Também imediatamente, comuniquei a Gustavo a conversa com Crispiniano e ele perguntou-me se a família tinha uma proposta financeira para a biblioteca e para a casa. Disse-lhe que não, que preferia que qualquer proposta partisse da própria prefeitura.


- Mas você não tem nem ideia de quanto vale a biblioteca de seu Pai?, perguntou-me o chefe de gabinete da prefeitura.


- Não, não tenho. Só sei que há alguns meses a biblioteca de Deífilo Gurgel foi comprada pela Fundação José Augusto por R$ 50 o exemplar.


Em abril deste ano, recebi uma nova ligação telefônica de Gustavo. Para informar que a proposta a ser feita pela biblioteca de meu Pai seria de R$ 250 mil, o que significaria que cada um dos 7.256 livros custaria, em média, R$ 30. E para pedir que uma equipe da prefeitura tivesse acesso à nossa casa, com o objetivo de avaliá-la.


Concordei com a proposta feita pelos livros e atendi a reivindicação referente à casa.


Em maio, um mês depois da nossa última conversa, telefonei novamente para Gustavo. Primeiro para saber quando seria oficializada a proposta da biblioteca. E segundo para perguntar se a avaliação da casa havia sido concluída.


Sobre a biblioteca, ele disse-me que estava esperando a cópia do contrato de compra que havia sido feito pela Fundação José Augusto com Deífilo Gurgel, "para podermos seguir o mesmo exemplo". Sobre a casa, informou que a proposta seria de R$ 300 mil - e eu pedi um ou dois dias para consultar a família para saber se aceitaríamos. Como todos concordaram, levando-se em conta o fato de que a casa seria preservada, ganharia o nome de nosso Pai e se transformaria em um espaço de cultura, voltei a falar - por telefone - com Gustavo, e comuniquei a decisão favorável. Como resposta, ele disse a mim que precisaria de mais tempo para oficializar e concluir a negociação.


- Quanto tempo?, perguntei.


- Não sei, vamos ver... Você sabe como essas coisas demoram na administração pública... Aliás, eu queria que você ligasse de novo para Crispiniano e pedisse a ele que enviasse para nós o documento de compra da biblioteca de Deífilo Gurgel, para copiarmos o mesmo modelo.


Não telefonei, é claro. Porque não caberia a mim, nem a ninguém da minha família, instruir um processo de venda do qual seríamos credores.


Foi então, já no começo deste mês, que lembrei uma conversa que havia tido com Gonzaga Chimbinho no início do ano, ao telefonar para ele e lamentar a sua saída da Fundação Municipal de Cultura - transformada numa gerência sem qualquer importância. Ao telefone, visivelmente constrangido com o desmonte da estrutura de apoio e incentivo à cultura mossoroense que ele havia construído ao longo dos anos, Gonzaga entregou os pontos e rendeu-se às evidências que eu teimava em não enxergar:


- Luis, desista. A prefeitura não vai comprar nem a biblioteca e nem a casa de seu Pai. Eles estão enrolando vocês. Cultura não é mais uma prioridade...


Desisti, desistimos. E no domingo último, em novo e derradeiro contato telefônico com Gustavo Rosado, comuniquei a ele a decisão familiar de encerrar as negociações e de pedir a devolução da biblioteca de meu Pai.


Ponto final. Final e definitivo. Porque o resto, e eu me refiro às explicações absurdas e aos enredos inverossímeis que o chefe de gabinete da prefeitura tentou impingir à opinião pública da cidade - "a família queria uma fortuna pela biblioteca", "eles não aceitaram a proposta de R$ 300 mil pela casa", "dissemos que não havia orçamento para o gasto", "a nossa prioridade cultural é o Museu Municipal", "o governo estadual não topou a parceria" - , só revela o que todo mossoroense que se preza sabe de cor e salteado: credibilidade não se compra, verdade não se comercializa, respeito não se vende e a palavra quando é dada com astúcia, e não com integridade, não tem qualquer serventia e nenhuma importância.

Nenhum comentário :