MP AFIRMA QUE ANTECIPAÇÃO DOS
ROYALTIES PRECISA SER TRATADO
COM MAIS TRANSPARÊNCIA
O Mossoroense publica, hoje, a segunda parte da entrevista dos
promotores com atuação na Promotoria do Patrimônio Público em Mossoró,
Fábio Weimar Thé, Tatianne Brito e Fábio Melo, concedida no último dia
24, na sede do Ministério Público em Mossoró. A publicação segue os
mesmos moldes da primeira, domingo (29). Isto é, como a entrevista foi
feita de forma conjunta, com perguntas respondidas pelos três
promotores, e algumas respondidas por um e complementadas por outro, a
editoria denominou o entrevistado de Ministério Público. Por causa da
relevância e extensão, a entrevista foi dividida em duas partes, sem
descontextualização e, portanto, sem prejuízo ao raciocínio dos
entrevistados e ao leitor.
O MOSSOROENSE - O Ministério Público
vai acompanhar a antecipação dos royalties de petróleo em Mossoró? (uma
semana após a entrevista, o MP anunciou inquérito para apurar o fato)
MINISTÉRIO
PÚBLICO - Sim. Na verdade, foi instaurada uma notícia de fato. E a
gente está em momento de conversão desta notícia de fato. O que isso
quer dizer: essa notícia está atualmente em processo de conversão. Ela
visa exatamente acompanhar esse processo. Essa atuação está sendo
dirigida pela 11ª Promotoria, e a gente parte da premissa de analisar se
houve alguma afronta ao processo legislativo. Por essa razão, foi
solicitado à Câmara Municipal toda a cópia do processo legislativo. E,
ao tempo que a gente acompanha o caráter constitucional ou não da
elaboração, da procuração e da publicação dessa lei, a gente também está
analisando e solicitando todo o acompanhamento da cópia integral do
processo de contratação. A princípio, pode-se dizer que esta contratação
vai ter finalidade escusa? Não. A gente não está trabalhando
necessariamente com essa possibilidade. Agora, é preciso, sim, que o
processo seja tratado com mais transparência. Isso foi o que realmente
nos motivou a demandar essa matéria, esse assunto, que realmente é de
grande importância, em razão da importância do tema. Isso pauta a nossa
atuação, o que isso vai representar de impacto financeiro na sociedade.
OM - Existia um acordo, com o Ministério Público para que a votação só
ocorresse após audiência pública? (o projeto foi aprovado sem
audiência).
MP - Com o Ministério Público, não foi assumido esse
compromisso. Eu estava presente (Fábio Weimar Thé) em uma audiência
pública na Câmara, que tratava de outro assunto, e fui comunicado que
haveria essa audiência pública. Na verdade, não houve nenhum compromisso
com o Ministério Público. Agora, eu fui comunicado que teria essa
audiência, e aí iríamos nos fazer presentes e estávamos aguardando para
fazer algumas sugestões, dar alguns pitacos. Mas, acabou que foi uma
surpresa para nós. Mas o que sabemos é que, de fato, essa audiência
pública não ocorreu devido a uma providência judicial que alguns
vereadores intentaram, e aí o pessoal, temendo um bloqueio judicial da
tramitação da aprovação da lei, quis fazer o mais rápido para evitar que
o Judiciário viesse impedir a votação da lei.
OM - Essas manobras incomodam?
MP
- Isso aí a gente vê com naturalidade. Coisa que acontece. Um vereador
de oposição pleitear uma medida na Justiça é normal. Como também a
preocupação deles de ver a tramitação e a aprovação da lei
obstacularizada por uma decisão judicial, isso também é natural. Se
existe rumor, se eles têm interesse público na aprovação da lei, não
incomoda não. Na visão objetiva do Ministério Público, o que a gente
tinha em foco era um projeto de lei, e agora continua nosso trabalho,
porque foi feita essa articulação e, já que foi aprovado, passou a ser a
lei. Então, a gente continua vigilante. Só mudou a ótica do que antes
era um projeto de lei e agora a gente vai focar em cima da lei. É que
para cada fase, desde a primeira ideia que surgiu da contratação dessa
operação, existe uma atuação diferente. Se vai se exercitar um controle,
o controle é feito de forma diferente. A princípio, quando o fato
começou a ser noticiado, estava se trabalhando ainda no momento projeto
de lei e para essa aprovação desse projeto de lei, que ainda estava no
mundo das intenções, não cabia nenhum tipo de controle jurisdicional a
ser impulsionado por parte do Ministério Público. Então, embora já fosse
do conhecimento do MP, já tivesse havendo desde o princípio uma atenção
a isso, o controle com relação a isso seria após a aprovação desse
projeto. Nesse primeiro momento cabia exclusivamente um controle
realizado por parlamentar, e foi o que aconteceu. Alguns parlamentares
ingressaram impetrando um mandado de segurança preventivo, alegando
alguns problemas na tramitação do projeto. E aí esse controle só é dado
ao próprio parlamentar. Qualquer controle de constitucionalidade fora
dessa hipótese só pode ser feito realmente quando se trata de uma lei.
Então, ainda que se estivesse no mundo das intenções, o que nos cabia, a
princípio, era o acompanhamento, e foi o que fizemos. Agora, com a
aprovação da lei, cabe ao Ministério Público acompanhar, já que se trata
de somas de dinheiro a ser contratado e que é de significativa
importância para a sociedade.
OM - A Câmara forneceu,
recentemente, rosário de denúncias sobre a gestão municipal, como
pagamento de aluguel de prédios fechados, carros alugados que não
circulam e supersalários na Prefeitura de Mossoró. Algum desses três
fatos é alvo do Ministério Público?
MP - Olha, o Ministério Público
está atento, não está alheio ao que se ventila. Seja através da
imprensa, seja na Câmara, porque afinal de contas Mossoró é uma caixa de
ressonância. Você diz uma coisa aqui e sai ressonando. Então, a gente
não está dentro de uma redoma para não ouvir. O que se pode dizer é que o
Ministério Público, em nenhuma situação, permanece alheio. A gente tem
conhecimento e a gente faz o nosso papel.
OM - É possível
quantificar quantos procedimentos estão em andamento, hoje, nas três
promotorias do Patrimônio Público em Mossoró?
MP - Nas três promotorias devem ter em torno de 300 processos, aproximadamente, entre cíveis e criminais.
OM - E não necessariamente significa que esses procedimentos vão resultar em denúncias à Justiça.
MP
- Não, não necessariamente. Serão feitas análises justamente para
verificar se há crimes ou atos de improbidade. Uma vez não confirmados,
esses procedimentos serão arquivados.
OM - É um número alto para a realidade local?
MP
- É um número razoavelmente alto. Mas, a gente tem trabalhado todos os
dias e cumprido nosso papel. E quero deixar uma mensagem bem clara aqui.
Que a sociedade pode continuar acreditando e esperando do Ministério
Público, pois nós nos sentimos estimulados tanto quanto no início da
carreira. Não há obstáculos. Não faço obstáculos quanto ao sistema
judicial, no sistema legal. Se é isso que nós temos, então nós vamos
lutar com isso. Vamos lutar e desempenhar o nosso papel, mesmo com tudo
isso aí. O Ministério Público e a Promotoria do Patrimônio Público de
Mossoró não estão alheias, estão atentas, estão desempenhando o seu
papel, enfrentam suas dificuldades, mas isso, em absoluto, implica em
acomodação ou desistência. Nenhum sentimento desses. Pelo contrário, o
sentimento é de fazer, é de trabalhar cada vez mais e produzir
resultados para sentir o retorno da sociedade.
OM - Em média, quantos por cento desses procedimentos são convertidos em denúncia? Existe uma estatística?
MP
- Muitas soluções dessas nós fazemos de outras formas, não através de
ajuizamento de ações. Resolvemos aqui no nosso âmbito mesmo, com termos
de ajustamento de conduta e recomendação. A gente trabalha com situações
dentro de instituições públicas, como universidade, que vai desde o
desvio de funções até uma situação mais grave de desvio de recursos
públicos, e muitas das situações a gente resolve dentro do nosso
trabalho mesmo, sem precisar recorrer ao Judiciário. E todos os dias nós
estamos instaurando, ajuizando, arquivando aquilo que a gente verifica
que não há necessidade de prosseguir, que não há indícios de ilicitude
ou coisas do tipo. Nosso dia a dia é impulsionar, instaurar e receber
demandas novas, tirar demandas velhas, é dar vazão. E eu acho que uma
grande utilidade, dentre todas, do caráter informativo dessa entrevista é
conclamar a população a exercer sua cidadania. É muito interessante que
fique claro para a sociedade que o Ministério Público está aberto. Que,
apesar de nós termos fontes de investigação, uma de nossas linhas de
investigação também é ser iniciada, ser impulsionada por um cidadão que
tenha conhecimento sobre um determinado fato e o traga ao Ministério
Público. Se esse fato for trazido com responsabilidade, com o mínimo de
fundamento, aquilo vai ser recebido. Na verdade, no Ministério Público
temos as portas abertas e estamos aqui recebendo todos os dias,
arquivando todos os dias e ajuizando todos os dias, realizando nosso
trabalho.
Fonte: O Mossorpense
Por: Regy Carte e Márcio Costa
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