NA CONTRAMÃO
Em 1990, o PIB
per capita do Brasil, em paridade de poder de compra de 2011, era 17%
superior à média mundial. Em 2014, caíra para 6%. O trágico é que, com
relação aos nossos parceiros, os países de renda média superior na
definição do Banco Mundial, nossa renda era 121% superior. Hoje é apenas
11%! Estamos afundando. Mais recentemente, aumentou a velocidade da
nossa submersão. Há 25 anos estamos sendo postos fora do mundo econômico
civilizado, como se vê no gráfico, apesar dos progressos institucionais
da Constituição de 1988.
É preciso afastar a ideia de que programas pró-inclusão e redução das desigualdades
devem ser, necessariamente, programas contracrescimento. Pelo
contrário, a experiência histórica mostra que as duas opções: 1.
Crescimento sem inclusão. Ou 2. Inclusão sem crescimento, terminam em
desastres. É fundamental reconhecer, entretanto, um fato frequentemente
ignorado por nossa gente: só pode ser distribuído fisicamente o que já
foi produzido internamente somado ao que eventualmente se “ganhou de
presente” por conta da melhora das relações de troca e ao que se tomou
emprestado na forma de déficits em conta corrente que um dia o credor
pedirá de volta.
Um bom programa objetiva, através de
incentivos adequados, calibrar o aumento do consumo, uma condição
necessária para diminuir a desigualdade, com o nível de investimento,
uma condição necessária para o crescimento, mantendo o equilíbrio
interno (inflação baixa e estável) e o equilíbrio externo (déficit em conta corrente financiável).
Esse programa não pode ser confundido com
assistência social, que deve perseguir a redução da pobreza, ter
sustentabilidade financeira e ser sujeita à análise permanente da
relação custo-benefício, porque programas assistenciais permanentes
criam seus próprios parasitas. Esses programas não são responsáveis pelo
desequilíbrio fiscal estrutural que está inscrito na Constituição de
1988.
A nossa
generosa (com alguns) e injusta (com o “resto”) previdência social, é
atuarialmente insustentável; as vinculações orçamentárias colocam a
administração no piloto automático à espera de acabar o querosene; as
indexações têm efeitos destrutivos para o equilíbrio das finanças
públicas; a justiça trabalhista trata todo trabalhador como
hipossuficiente e todo empresário como meliante; o sistema tributário é
confuso, regressivo e produz graves distorções alocativas; a carga
tributária é alta e mal distribuída. É dissipada por um setor público
muito menos eficiente do que o privado. Logo, redutora do crescimento.
Estes são alguns dos problemas que estão a exigir uma ação enérgica do
Executivo e do Legislativo para devolver ao Brasil as condições para um
desenvolvimento social e econômico mais vigoroso e mais equânime.
Todos os países que tiveram sucesso
usaram, praticamente, a mesma política econômica a que chegaram por
tentativa e erro, num processo seletivo quase biológico. Ela mostra que a
coordenação entre as políticas fiscal, monetária e a administração da
dívida pública são essenciais.
Não há um nível ótimo para a relação dívida pública/PIB:
há níveis convenientes que devem deixar espaço para políticas
anticíclicas quando a demanda interna esmorecer. Flutuações são
perfeitamente aceitáveis quando o projeto financiado aumenta o PIB e,
após maturado, tem taxa de retorno superior à do seu financiamento. Não é
difícil produzir exercícios aritméticos (e até alguma evidência
empírica) dessa possibilidade.
Projetos de estádios para futebol ou
olimpíada, entretanto, não satisfazem àqueles critérios. O mortal,
mesmo, é financiar despesas de custeio, de pessoal ou aumentar a relação
dívida/PIB com mais aumento da dívida. O que faremos, por exemplo, com
os mais de 100 mil trabalhadores que serão dispensados simultaneamente
com o fim das obras das Olimpíadas no Rio de Janeiro em junho de 2016?
O Brasil precisa reconquistar a sua governança o mais cedo possível.
Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto
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