quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

BIENVENIDOS AO 

CAPITALISMO HERMANOS


Após uma vitória surpreendente e consagradora no domingo 22, o presidente-eleito da Argentina, Mauricio Macri, já foi logo apresentando as suas credenciais: propôs a suspensão da Venezuela do Mercosul, montou uma equipe econômica liberal e com credibilidade, prometeu negociar com os credores internacionais e garantiu que buscará uma reaproximação comercial com o Brasil. Eufóricos, os investidores não param de comprar ações e a Bolsa de Buenos Aires acumula alta de 25% em apenas um mês.

Nesse período, o conservador Macri passou de azarão a presidente, derrotando o candidato peronista Daniel Scioli, que contava com o apoio da presidente Cristina Kirchner, por 51,4% a 48,6% dos votos válidos. “Quero agradecer aos argentinos que saem todos os dias para trabalhar, que acreditam no trabalho e não na mania de tirar vantagem”, disse Macri logo após a vitória. “Quero unir os argentinos.” A oposição kirchnerista, no entanto, promete ser ferrenha.

Após 13 anos no poder, incluindo o mandato do seu finado marido, Néstor Kirchner, a presidente Cristina já apresentou o seu discurso de “boas vindas” ao opositor. “Um país não é uma empresa”, afirmou na quarta-feira 25. “Há necessidades que não devem ser atendidas por um critério economicista.” Cristina, na verdade, está muito preocupada com o choque de capitalismo que pode desmantelar suas políticas sociais que, em muitos casos, não passam de um populismo econômico eleitoreiro.

A presidente conhece o estilo de gestão do opositor que, durante oito anos à frente da Prefeitura de Buenos Aires, enfrentou os interesses de sindicatos ligados ao funcionalismo e melhorou o resultado das contas públicas. Embora tenha sido preparado para assumir os negócios da família, Macri nunca recebeu o aval do pai, o italiano Franco Macri, que construiu um império corporativo na Argentina. Formado em Engenharia Civil, o então jovem Macri resolveu entrar na política e no futebol no começo da década de 1990, tornando-se popular na presidência do Boca Juniors, onde conquistou 17 títulos em 13 anos, incluindo dois troféus de mundiais de clubes.

Agora, no comando da Casa Rosada, sede do governo argentino, ele terá uma série de desafios pela frente. Um deles, bastante espinhoso, é resgatar a racionalidade cambial. O mercado paralelo, apelidado de blue, é visível aos turistas que visitam Buenos Aires. Um dólar, que na cotação oficial vale nove pesos, pode ser trocado por 15 pesos em qualquer esquina da tradicional Calle Florida. “O melhor jeito de ajustar o câmbio é desvalorizá-lo rapidamente, dar um choque de juros e promover um ajuste fiscal”, diz o economista argentino Roberto Luis Troster, que mora no Brasil há 40 anos. 

“Com essas medidas, rapidamente o governo reverterá as expectativas.” Outra ação do novo governo será o resgate da credibilidade do INDEC, instituto equivalente ao brasileiro IBGE, que calcula as estatísticas econômicas do País. Durante a dinastia kirchnerista, os dados sobre a inflação foram manipulados para mascarar a disparada dos preços. Há questões polêmicas como manter ou não estatização da companhia área Aerolíneas Argentinas, da petrolífera YPF e dos fundos de pensão, que foram tungados pelo governo em 2008.

Nas relações internacionais, Macri já sinalizou que buscará parcerias com as grandes potências mundiais. A prioridade, no entanto, é a reaproximação comercial com o Brasil. O presidente eleito já prometeu à presidente Dilma Rousseff que a sua primeira viagem será a Brasília. O encontro servirá para eliminar qualquer rusga que tenha ficado por causa do apoio velado que Dilma deu ao candidato derrotado Scioli. No comércio exterior, as oportunidades se abrirão para os dois lados com o fim das barreiras impostas por Cristina. O setor automotivo, por exemplo, que tem uma cadeia produtiva interligada, vai colher esses frutos.

“As exportações brasileiras de carros podem crescer com mais força a partir do segundo semestre de 2017”, afirma Orlando Merluzzi, presidente da MA8 Management Consulting Group. “Mas tudo dependerá de fatores como câmbio e reservas externas.” O raciocínio é simples: se a desvalorização do peso for muito agressiva, sem uma contrapartida do real, os produtos brasileiros poderão perder competitividade. Mas, por enquanto, os empresários brasileiros apostam no bom senso do novo gestor. O mesmo bom senso que levou Macri a pedir o afastamento da Venezuela do Mercosul por perseguição do governo de Nicolás Maduro a políticos da oposição. A contagem regressiva para a sua posse, no dia 10 de dezembro, já começou

Fonte: Isto É Dinheiro
Por Luís Artur Nogueira

 

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