MIGUEL JOSINO NETO, UMA
UNANIMIDADE SÁBIA
É uma tristeza perder um grande amigo do quilate de Miguel Josino.
Há cerca de vinte anos o conheci, na casa do meu irmão Fernando. Família
boa e fácil de conviver. Ficamos íntimos de toda a família areia-branquense.
O Sebastião pai, o Sebastião filho, Daniel, Rodrigo, enfim, todos
passamos a nos frequentar e criamos uma sólida amizade.
O acidente que levou o nosso amigo ocorreu no seu apartamento, uma
queda de menos de três metros de altura, quando preparava um churrasco.
Escorregou, caiu de mau jeito, traumatismo craniano e medular, com morte
cerebral.
Telefonemas no início da noite do domingo (18 de maio de 2014) e
pela madrugada da segunda já davam conta de morte cerebral. A noite
inteira acordado pensando e imaginando todo o mundo pronunciando a palavra
“fatalidade”. Para quem tinha tanta fé, era devoto de tantos santos,
deveria ter sido amparado em sua queda, que o conduziu para a extinção
terrena, para continuar difundindo a sua generosidade e inteligência.
Mas... é a tal fatalidade, o tal livre arbítrio... por aí...
Miguel Josino Neto era portador de uma convergência perigosíssima:
inteligência, erudição, memória e amizade. Convivi, e convivo, com
poucas pessoas que agregam essas qualidades. São tão criativas que
conseguem mesmerizar e cativar os circunstantes; ora recitando e interpretando
textos em prosa, poesia ou até mesmo discursos, de memória; ora telefonando
nos momentos mais inesperados com convites irrecusáveis; ora com demonstrações
de carinho e afeto elogiando algo que você fez. Sempre sem a inibição
de demonstrar interesse em manter o contato, o diálogo, a aproximação.
Quando todas essas qualidades são direcionadas para o bem não há
o menor perigo, obviamente.
Fui até a Unidade de Tratamento Intensivo, mas não quis ver o corpo
que já estava em fase de doação de órgãos, atitude nobre que todos
nós devemos ter. Fui ao velório e assisti aos vários depoimentos,
todos pungentes e verdadeiros. Abracei alguns familiares que encontrei,
todos profundamente comovidos com o infortúnio grave, irreversível
e repentino. É um milagre estarmos vivos. Vivemos à própria sorte.
Li alguns depoimentos que mostram Miguel Josino com a sua face conhecida
de conciliador, amigo generoso dos amigos e dos bons livros e vinhos;
pai, marido, filho, etc., apaixonado; recebi fotos da adolescência
em 1977, na casa de Titico Maia, com Toinho Pitel, meu cunhado, Fred
Câncio, Osório Sampaio, Paulo Maia, Moacir Vilar, Júnior Maia, Januário
Fernandes, Edilson Maia, Delevam, Marcos Mendes e o professor Janjão.
Reportagens inteiras nos principais jornais da cidade elogiando o grande
jurista, professor, profissional do direito, procurador do estado, humanista,
escritor, acadêmico imortal das letras jurídicas, todos, em uníssono,
deixando o seu registro sobre essa grande figura inesquecível.
Artigos no Jornal de Hoje de Vicente Serejo e Alex Medeiros que retratam
características bem verdadeiras do Miguel sedento por cultura.
Conheci a biblioteca jurídica de Miguel Josino e fiquei impressionado.
Na época ele tinha 32 anos de idade e a quantidade de livros era impressionante.
No seu escritório havia uma coleção de girafas. Porque girafas?,
perguntei. Porque gosto de girafas!, respondeu. Numa viagem que fiz
trouxe uma girafa para Miguel, mas do pescoço bem curto. Ele não gostou
muito, mas disfarçou e agradeceu, sensibilizado. Precisei dele para
as minhas filhas advogadas, Carla e Bruna, fazerem estágio no seu escritório,
foi na hora. Precisei para filhos e filhas de amigos, também foi de
uma presteza imediata. Vou usar um lugar comum, comuníssimo: quem era
amigo de Miguel não estava só.
É uma injustiça todos nós perdermos um homem amigo, fraterno, generoso
e íntegro como Miguel Josino Neto. Os pais, irmãos, filhos, enteados
(mesmo que filhos), todos os parentes, amigos e aderentes e principalmente
minha amiga Karla, muita força nessa hora!
* Armando Negreiros é médico.
Fonte: Armando Negreiros,
médico (armandoanegreiros@hotmail.com )
Enviado por Toinho Pitel
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