segunda-feira, 2 de junho de 2014

Por Armando Negreiros*

MIGUEL JOSINO NETO, UMA 

UNANIMIDADE SÁBIA

 
É uma tristeza perder um grande amigo do quilate de Miguel Josino. Há cerca de vinte anos o conheci, na casa do meu irmão Fernando. Família boa e fácil de conviver. Ficamos íntimos de toda a família areia-branquense. O Sebastião pai, o Sebastião filho, Daniel, Rodrigo, enfim, todos passamos a nos frequentar e criamos uma sólida amizade.
 
O acidente que levou o nosso amigo ocorreu no seu apartamento, uma queda de menos de três metros de altura, quando preparava um churrasco. Escorregou, caiu de mau jeito, traumatismo craniano e medular, com morte cerebral.
 
Telefonemas no início da noite do domingo (18 de maio de 2014) e pela madrugada da segunda já davam conta de morte cerebral. A noite inteira acordado pensando e imaginando todo o mundo pronunciando a palavra “fatalidade”. Para quem tinha tanta fé, era devoto de tantos santos, deveria ter sido amparado em sua queda, que o conduziu para a extinção terrena, para continuar difundindo a sua generosidade e inteligência. Mas... é a tal fatalidade, o tal livre arbítrio... por aí...
 
Miguel Josino Neto era portador de uma convergência perigosíssima: inteligência, erudição, memória e amizade. Convivi, e convivo, com poucas pessoas que agregam essas qualidades. São tão criativas que conseguem mesmerizar e cativar os circunstantes; ora recitando e interpretando textos em prosa, poesia ou até mesmo discursos, de memória; ora telefonando nos momentos mais inesperados com convites irrecusáveis; ora com demonstrações de carinho e afeto elogiando algo que você fez. Sempre sem a inibição de demonstrar interesse em manter o contato, o diálogo, a aproximação. Quando todas essas qualidades são direcionadas para o bem não há o menor perigo, obviamente.
 
Fui até a Unidade de Tratamento Intensivo, mas não quis ver o corpo que já estava em fase de doação de órgãos, atitude nobre que todos nós devemos ter. Fui ao velório e assisti aos vários depoimentos, todos pungentes e verdadeiros. Abracei alguns familiares que encontrei, todos profundamente comovidos com o infortúnio grave, irreversível e repentino. É um milagre estarmos vivos. Vivemos à própria sorte.
 
Li alguns depoimentos que mostram Miguel Josino com a sua face conhecida de conciliador, amigo generoso dos amigos e dos bons livros e vinhos; pai, marido, filho, etc., apaixonado; recebi fotos da adolescência em 1977, na casa de Titico Maia, com Toinho Pitel, meu cunhado, Fred Câncio, Osório Sampaio, Paulo Maia, Moacir Vilar, Júnior Maia, Januário Fernandes, Edilson Maia, Delevam, Marcos Mendes e o professor Janjão. Reportagens inteiras nos principais jornais da cidade elogiando o grande jurista, professor, profissional do direito, procurador do estado, humanista, escritor, acadêmico imortal das letras jurídicas, todos, em uníssono, deixando o seu registro sobre essa grande figura inesquecível.
 
Artigos no Jornal de Hoje de Vicente Serejo e Alex Medeiros que retratam características bem verdadeiras do Miguel sedento por cultura.
 
Conheci a biblioteca jurídica de Miguel Josino e fiquei impressionado. Na época ele tinha 32 anos de idade e a quantidade de livros era impressionante. No seu escritório havia uma coleção de girafas. Porque girafas?, perguntei. Porque gosto de girafas!, respondeu. Numa viagem que fiz trouxe uma girafa para Miguel, mas do pescoço bem curto. Ele não gostou muito, mas disfarçou e agradeceu, sensibilizado. Precisei dele para as minhas filhas advogadas, Carla e Bruna, fazerem estágio no seu escritório, foi na hora. Precisei para filhos e filhas de amigos, também foi de uma presteza imediata. Vou usar um lugar comum, comuníssimo: quem era amigo de Miguel não estava só.

É uma injustiça todos nós perdermos um homem amigo, fraterno, generoso e íntegro como Miguel Josino Neto. Os pais, irmãos, filhos, enteados (mesmo que filhos), todos os parentes, amigos e aderentes e principalmente minha amiga Karla, muita força nessa hora! 

 * Armando Negreiros é médico.

Fonte: Armando Negreiros, médico (armandoanegreiros@hotmail.com)
Enviado por Toinho Pitel

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