terça-feira, 24 de junho de 2014

 O PIBINHO ENTRA NA CAMPANHA


Aquilo que no começo do ano parecia pessimismo exagerado de alguns economistas liberais começa a tomar contornos de realidade. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro não decolou em 2014 e, se as últimas projeções do mercado financeiro estiverem corretas, o crescimento do País cairá pela metade, em relação ao ano passado – será de 1,2% ante 2,5%. Diante de um cenário de quase estagflação, com economia morna e inflação elevada, os comitês de campanha dos dois principais candidatos da oposição à Presidência da República começam a preparar suas artilharias.

A estratégia é mostrar aos eleitores que eles conhecem os problemas e que são os mais capacitados a resolvê-los. Enquanto a presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição, tenta conquistar o apoio dos empresários com mais um pacote de bondades, anunciado na quarta-feira 18, em Brasília, os oposicionistas Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) disparam críticas contra “as soluções de curto prazo” do governo federal. “É um pacote do desespero”, afirmou Aécio, em visita a Pernambuco, na semana passada. “O Brasil não pode ficar fazendo mais do mesmo”, disse Campos, em Salvador, no começo do mês.

A ordem da cúpula das campanhas é evitar perda de tempo com troca de farpas políticas e encampar a famosa frase: “É a economia, estúpido”, de James Carville, assessor do ex-presidente americano Bill Clinton, em 1992, que apostava que a economia define o jogo eleitoral. A batalha não é tão simples assim. Embora tenha perdido pontos nas principais pesquisas, a presidenta Dilma ainda é a favorita no pleito de outubro. A seu favor, ela tem um baixo índice de desemprego, além da expansão dos programas sociais e da ascensão de milhões de brasileiros à nova classe média.

Já a missão da oposição é mostrar que o crescimento médio anual do atual governo está muito baixo – 1,8%, contra 4,1% de Lula e 2,3% de FHC – e que, nesse ritmo, a população perderá rapidamente conquistas recentes. Nesse contexto, o ressurgimento da ameaça inflacionária tende a apimentar a campanha. Trata-se de um assunto que, além de resgatar fantasmas do passado, afeta diretamente o bolso dos consumidores. Não à toa, o Banco Central (BC) elevou os juros nos 12 últimos meses, com a Selic passando de 7,25% para 11% ao ano.

Além do receituário monetário tradicional, o governo apostou em medidas polêmicas, como o represamento de preços administrados, incluindo os de combustível, energia e transporte público. O problema é como desarmar essa bomba-relógio no ano que vem. “Ninguém vai fazer isso numa paulada”, diz Aécio, sobre a liberação dos preços determinados pelo governo. Já a equipe do PSB pensa de forma diferente. “A correção dos preços administrados deve ser feita de uma só vez”, afirma o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, que assessora Campos e sua vice, Marina Silva.

A meta de inflação é outro ponto de disputa. Desde 2005, o Conselho Monetário Nacional define o alvo em 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Na reunião da quinta-feira 26, o governo Dilma deve decidir pela manutenção da meta em 2015 e 2016. Para o candidato socialista Eduardo Campos, que é economista de formação, seria possível reduzi-la em meio ponto a partir de 2016, encerrando o próximo mandato com um alvo de 3%. Aécio tem visão parecida e propõe encurtar o tamanho da banda de tolerância.

Um dos pontos mais polêmicos do debate é o mecanismo de reajuste do salário mínimo. A regra atual, que prevê a reposição da inflação mais a variação do PIB de dois anos antes, expira em 2015. Caberá ao dono da faixa presidencial, a partir do ano que vem, decidir se a altera ou não. O tema já rendeu desencontros no PSDB. No mês passado, o ex-presidente do BC, Armínio Fraga, declaradamente o guru econômico do candidato tucano, disse que “o salário mínimo cresceu muito nos últimos anos e que é preciso analisar custos e benefícios”.

Diante da repercussão negativa, Aécio afirmou que apoia a manutenção das regras até 2019. Já Campos admite a possibilidade de discutir a política de salário mínimo “sem tirar o direito do trabalhador de obter um reajuste real”. Como parte da estratégia para conquistar o apoio empresarial, que vinha demonstrando simpatia pela oposição, a presidenta Dilma tornou permanente a desoneração da folha de pagamentos para 56 setores, que trocam uma alíquota de 20% do INSS por um percentual de 1% a 2% do faturamento.

Para Giannetti, o correto seria uma desoneração horizontal da folha, válida para todos os setores da economia. O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) Samuel Pessôa, que assessora o tucano Aécio Neves na formulação de sua agenda econômica, concorda que não faz sentido escolher alguns beneficiados. “A impressão que dá é que quem faz mais lobby entra na lista”, afirma Pessôa. “Além disso, o empresário ganha com a desoneração e perde com a alta dos juros, fruto de uma piora fiscal. Outra bandeira empunhada pelos candidatos de oposição é o resgate da confiança dos empresários, que precisam desengavetar seus projetos.

Para o economista André Lara Resende, um dos pais do Plano Real e que atualmente assessora informalmente a dupla Campos e Marina, o pessimismo do setor produtivo decorre da dificuldade que o atual governo tem de modernizar a infraestrutura e aumentar a produtividade da economia. “Desde 2008 a política econômica brasileira é uma versão anacrônica e incompetente do velho desenvolvimentismo dos anos 50 do século passado”, afirmou Resende, em uma rara entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

Para Pessôa, a atual política econômica deixou de priorizar as regras estáveis, criando muitas exceções. Além disso, os próprios empresários têm uma parcela de culpa. “Eles pediram a redução do custo da energia, a desoneração da folha, os excessos do BNDES e o resultado foi muito ruim”, diz o economista. “Mas a equipe econômica, que executou tudo isso, tem a maior responsabilidade.” É justamente essa teórica capacidade de conduzir o País de forma mais eficiente que a oposição vai tentar vender aos eleitores. Será uma campanha contra o Pibinho.

Fonte: Isto É Dinheiro

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