O PIBINHO ENTRA NA CAMPANHA
Aquilo que no começo do ano parecia pessimismo exagerado de alguns
economistas liberais começa a tomar contornos de realidade. O Produto
Interno Bruto (PIB) brasileiro não decolou em 2014 e, se as últimas
projeções do mercado financeiro estiverem corretas, o crescimento do
País cairá pela metade, em relação ao ano passado – será de 1,2% ante
2,5%. Diante de um cenário de quase estagflação, com economia morna e
inflação elevada, os comitês de campanha dos dois principais candidatos
da oposição à Presidência da República começam a preparar suas
artilharias.
A estratégia é mostrar aos eleitores que eles
conhecem os problemas e que são os mais capacitados a resolvê-los.
Enquanto a presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição, tenta
conquistar o apoio dos empresários com mais um pacote de bondades,
anunciado na quarta-feira 18, em Brasília, os oposicionistas Aécio Neves
(PSDB) e Eduardo Campos (PSB) disparam críticas contra “as soluções de
curto prazo” do governo federal. “É um pacote do desespero”, afirmou
Aécio, em visita a Pernambuco, na semana passada. “O Brasil não pode
ficar fazendo mais do mesmo”, disse Campos, em Salvador, no começo do
mês.
A ordem da cúpula das campanhas é evitar perda de tempo com
troca de farpas políticas e encampar a famosa frase: “É a economia,
estúpido”, de James Carville, assessor do ex-presidente americano Bill
Clinton, em 1992, que apostava que a economia define o jogo eleitoral. A
batalha não é tão simples assim. Embora tenha perdido pontos nas
principais pesquisas, a presidenta Dilma ainda é a favorita no pleito de
outubro. A seu favor, ela tem um baixo índice de desemprego, além da
expansão dos programas sociais e da ascensão de milhões de brasileiros à
nova classe média.
Já a missão da oposição é mostrar que o
crescimento médio anual do atual governo está muito baixo – 1,8%, contra
4,1% de Lula e 2,3% de FHC – e que, nesse ritmo, a população perderá
rapidamente conquistas recentes. Nesse contexto, o ressurgimento da
ameaça inflacionária tende a apimentar a campanha. Trata-se de um
assunto que, além de resgatar fantasmas do passado, afeta diretamente o
bolso dos consumidores. Não à toa, o Banco Central (BC) elevou os juros
nos 12 últimos meses, com a Selic passando de 7,25% para 11% ao ano.
Além
do receituário monetário tradicional, o governo apostou em medidas
polêmicas, como o represamento de preços administrados, incluindo os de
combustível, energia e transporte público. O problema é como desarmar
essa bomba-relógio no ano que vem. “Ninguém vai fazer isso numa
paulada”, diz Aécio, sobre a liberação dos preços determinados pelo
governo. Já a equipe do PSB pensa de forma diferente. “A correção dos
preços administrados deve ser feita de uma só vez”, afirma o economista
Eduardo Giannetti da Fonseca, que assessora Campos e sua vice, Marina
Silva.
A meta de inflação é outro ponto de disputa. Desde 2005, o
Conselho Monetário Nacional define o alvo em 4,5%, com tolerância de
dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Na reunião da
quinta-feira 26, o governo Dilma deve decidir pela manutenção da meta em
2015 e 2016. Para o candidato socialista Eduardo Campos, que é
economista de formação, seria possível reduzi-la em meio ponto a partir
de 2016, encerrando o próximo mandato com um alvo de 3%. Aécio tem visão
parecida e propõe encurtar o tamanho da banda de tolerância.
Um
dos pontos mais polêmicos do debate é o mecanismo de reajuste do
salário mínimo. A regra atual, que prevê a reposição da inflação mais a
variação do PIB de dois anos antes, expira em 2015. Caberá ao dono da
faixa presidencial, a partir do ano que vem, decidir se a altera ou não.
O tema já rendeu desencontros no PSDB. No mês passado, o ex-presidente
do BC, Armínio Fraga, declaradamente o guru econômico do candidato
tucano, disse que “o salário mínimo cresceu muito nos últimos anos e que
é preciso analisar custos e benefícios”.
Diante da repercussão
negativa, Aécio afirmou que apoia a manutenção das regras até 2019. Já
Campos admite a possibilidade de discutir a política de salário mínimo
“sem tirar o direito do trabalhador de obter um reajuste real”. Como
parte da estratégia para conquistar o apoio empresarial, que vinha
demonstrando simpatia pela oposição, a presidenta Dilma tornou
permanente a desoneração da folha de pagamentos para 56 setores, que
trocam uma alíquota de 20% do INSS por um percentual de 1% a 2% do
faturamento.
Para Giannetti, o correto seria uma desoneração
horizontal da folha, válida para todos os setores da economia. O
pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio
Vargas (Ibre-FGV) Samuel Pessôa, que assessora o tucano Aécio Neves na
formulação de sua agenda econômica, concorda que não faz sentido
escolher alguns beneficiados. “A impressão que dá é que quem faz mais
lobby entra na lista”, afirma Pessôa. “Além disso, o empresário ganha
com a desoneração e perde com a alta dos juros, fruto de uma piora
fiscal. Outra bandeira empunhada pelos candidatos de oposição é o
resgate da confiança dos empresários, que precisam desengavetar seus
projetos.
Para o economista André Lara Resende, um dos pais do
Plano Real e que atualmente assessora informalmente a dupla Campos e
Marina, o pessimismo do setor produtivo decorre da dificuldade que o
atual governo tem de modernizar a infraestrutura e aumentar a
produtividade da economia. “Desde 2008 a política econômica brasileira é
uma versão anacrônica e incompetente do velho desenvolvimentismo dos
anos 50 do século passado”, afirmou Resende, em uma rara entrevista ao
jornal O Estado de S. Paulo.
Para Pessôa, a atual política
econômica deixou de priorizar as regras estáveis, criando muitas
exceções. Além disso, os próprios empresários têm uma parcela de culpa.
“Eles pediram a redução do custo da energia, a desoneração da folha, os
excessos do BNDES e o resultado foi muito ruim”, diz o economista. “Mas a
equipe econômica, que executou tudo isso, tem a maior
responsabilidade.” É justamente essa teórica capacidade de conduzir o
País de forma mais eficiente que a oposição vai tentar vender aos
eleitores. Será uma campanha contra o Pibinho.
Fonte: Isto É Dinheiro
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