O BRASIL VIU A MORTE
DE PERTO. E VOLTOU
O Mineirão estava lindo. E aconteceu algo diferente em relação aos
três primeiros jogos. A torcida gritava “o campeão voltou” antes mesmo
da seleção brasileira pisar no gramado. Era um chamado claro. Venham a
campo e nos representem. Vaiou o hino do Chile. Deselegante, mas
compreensível. Essa torcida das arenas ainda tem dúvidas sobre como se
portar diante de uma Copa do Mundo realizada aqui. É como uma criança
largada numa loja de brinquedos. Não sabe ao certo qual caminho deve
arriscar e acaba derrubando algumas prateleiras.
Mas veio a pancada. Neymar levantou rápido, mas, quando pisou no
chão, mancou. E caminhou com dificuldade para receber aquela água benta
do preparador físico. O Mineirão calou-se por segundos intermináveis. Aí
caiu Hulk. Mas dentro da área. As câmeras mostram o pênalti com a
lentidão precisa, tão cruel aos olhos do árbitro.
O erro do juiz logo foi esquecido. Porque David Luiz transformou o
nervosismo em euforia. O carismático David. Que fez um garoto chorar
simplesmente por retribuir um abraço. O segundo jogador mais festejado
pela torcida nessa Copa. Enquanto isso, a arquibancada sabiamente
resgatava o “Explode Coração”, um dos maiores sucessos carnavalescos da
história.
Mas como todo Carnaval tem seu fim, veio o gol do Chile. Um mau recuo
da bateria, e Alexis Sanchez empatou a partida que parecia sob
controle. O Mineirão, mais uma vez, era atingido por um silenciador. A
seleção voltava a depender da genialidade solitária de Neymar ou da
mística do bigode de um combalido Fred. À beira do gramado, Felipão
distribuía impropérios para os chilenos que insistiam em tirar o seu
camisa 10 da partida, algo extremamente correto numa Copa do Mundo.
Qualquer pai faria o mesmo para proteger seus filhos.
Segundo tempo. E as câmeras novamente jogam a dúvida na cara do juiz.
Hulk marca o gol, mas é marcado um toque de mão que ninguém consegue
cravar se existiu. O cartucho gasto logo de cara na partida contra a
Croácia cobrava o seu preço. Se a Copa do Mundo estava comprada, como
alguns garantiam, foi devolvida sem o termo de garantia. Mas a polêmica
não poderia esconder o fato: o Chile era melhor na partida. E jogava com
uma tranquilidade que faltava ao Brasil.
Neymar estava distante. Como um adolescente que se cansa de ser
cobrado por todos os lados. As rugas acentuadas de Felipão denunciavam
que o fim estava próximo. A prorrogação foi só o prolongamento do
sofrimento. O Brasil melhorou, mas aí nada mais dava certo. Nos últimos
minutos, a bola na trave de Júlio Cesar provocou a primeira parada
cardíaca.
Os pênaltis são a prova final de qualquer time. Sobreviver a essa
disputa é ver a morte de perto e voltar. Júlio Cesar chorou.
Descontroladamente. Ninguém mais do que o goleiro poderia reverter o
fracasso de 2010. Ele assumiu. Ele enfrentou a morte. Não há um cidadão
brasileiro que não esteja completamente esgotado nesse momento. O Brasil
está vivo. Ofegante, mas vivo. Descontrolado, mas vivo. Machucado, mas
vivo. Confiante e mais vivo do que nunca.
Fonte: Esporte Fino - Carta Capital
Foto: François Xavier Marit/AFP
Foto: François Xavier Marit/AFP
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