sábado, 21 de junho de 2014

OITO AÇÕES PARA O RN AMPLIAR O 

FLUXO TURÍSTICO NOS PRÓXIMOS ANOS


Aproveito o clima festivo da Copa para dizer que ela vai, sim, deixar legado. Um deles é a cobrança por melhorias em nossa vida prática, agora que vimos que sobra dinheiro e capacidade de executar obras grandiosas. É a hora de pegarmos a listinha com o que foi prometido antes do Mundial e cobrarmos item por item. Estruturar a cidade é o básico. O que proponho aqui é a manutenção de um fluxo constante de turistas com opções que fogem do esquema praia, bunda e carnaval.

Não em mesmo número, mas é possível manter a cidade com alta frequência de visitantes, semelhante ao que estamos vendo nos últimos dias. Sugestões? Abaixo seguem algumas que acredito totalmente na viabilidade, sobretudo quando abrimos o Diário Oficial do Estado ou do Município e vemos uma penca de despesas fúteis ou esquisitas. A união entre poder público e classe empresarial é urgente para aproveitar todo o charme que Natal possui, mesmo com a insistência de alguns seres em estragá-lo.

1. Geografia favorece cultura marítima

Na esquina do continente, com clima agradável e relativa proximidade da Europa e Estados Unidos, Natal precisa explorar com eficiência parrachos, dunas, praias, Pipa, São Miguel do Gostoso, Pipa, o interior e demais pontos do litoral. É inadmissível ver uma capital brasileira perder estrangeiros para ilhotas caribenhas que nada mais são que meros bancos de areia, cercado por águas cristalinas. Devemos vender algo a mais, como a história da região. E para isso, facilitar a chegada dessa gente é uma obrigação do poder público. A reforma do porto, a construção da marina e a conclusão dos acessos ao novo aeroporto é para ontem.

2. Criação do Circuito Colonial Potiguar

Gringo de país desenvolvido gosta de coisas feitas pelo homem, mas aqui só pensam em vender a natureza, como um “presente de Deus que nos traz prosperidade”. Só que existe uma faixa litorânea com vários municípios cujo patrimônio arquitetônico tem alto poder de sedução para quem vem de outros continentes. De Ceará-Mirim a Baía Formosa, sobram igrejas e casarões, quase todas com forte ligação com a história portuguesa e holandesa. Desprezar essa herança é de uma ignorância absurda. Sem atrativos outros que não as praias, vimos japoneses circulando por Mãe Luiza, curiosos com as crateras abertas pelas chuvas.

3. Fortalecer os principais festivais gastronômicos

A gastronomia atrai turistas em banda de lata em países como França, Espanha e até o vizinho Peru. O Nordeste, como bem sabem os leitores, tem um enorme potencial nessa área. A variedade de ingredientes e a mistura de culturas permitem planos audaciosos. Mas, apesar de termos bons chefs, a falta de divulgação no exterior, ou mesmo em polos emissores nacionais faz com que o segmento engatinhe em suas reais possibilidades. Não foram poucos os elogios dos estrangeiros à nossa comida, o que poderia ser ampliado se a informação superar o além-mar. Sem mídia especializada presente não há cena.

4. Um torneio de verão

Agora que temos a Arena das Dunas e vimos o poder do futebol, devemos pensar em criar um torneio internacional para o calendário da cidade. Não precisa ser Barcelona ou Real Madrid, que vivem na Ásia em suas pré-temporadas. Mas que venham dois grandes times da Europa, um latino (o Boca ou a Universidad de Chile viriam por duas cocadas e uma mariola), um nacional (já pensou Flamengo ou Corinthians?) e ABC e América. Se a Espanha cobrava U$2 milhões por amistoso, antes da Copa, clubes cobram bem menos. Com apoio do trade, basta somar e ver que o gasto seria viável.

5. Precisamos de um bom festival de música

Esqueça as tranqueiras que pululam em outdoors ou páginas de jornal. Quando falo em festival de música, exclui por completo o axé baiano, o sertanejo e o forró comercial. Inúmeras localidades mediterrâneas, e inclusive caribenhas (caso do Caribbean Sea Jazz Festival, em Aruba) ganham rios de dinheiro ao mesclarem arte com beleza natural. Temos aqui no RN dois eventos legais (o MPB Jazz, no Teatro Riachuelo e o Fest Bossa & Jazz, em Pipa) que deveriam ganhar investimentos vultosos para que atrações locais, regionais, nacionais e internacionais insiram Natal no circuito do turista classe A.

6. Espetáculo ao ar livre

Nova Jerusalém capitaliza em cima de Jesus, com sua Paixão de Cristo. Por que não fazemos o mesmo com os mártires do Cunhaú e Uruaçu? Ou demais episódios fundadores do Rio Grande do Norte? Quanto custa a “Chuva de Bala” de Mossoró? Multipliquem por cinco, dez, o que for preciso, tragam diretores e atores de fora, mas encenar a matança de nativos empreendida por índios, alemães, holandeses ou portugueses seria interessante para apresentar parte da história potiguar. Parcerias entre agências de turismo poderiam oferecer pacotes para gringos com a peça no roteiro tradicional.

7. Interiorização

Dizem que o México é o berço do surrealismo. E o que tem em seus rincões? O mesmo que temos aqui. Pedra, aridez, sol claudicante, luminosidade incomum, flora agressiva e escassa. Ouvi do padre João Medeiros Filho uma história incrível sobre um cemitério judeu na divisa com o Ceará criado durante a colonização do Seridó – feita em grande parte por holandeses em fuga de Pernambuco. Cadê os voos charters para Amsterdã? Aumentem isso e botem a galera em um ônibus Sertão adentro.

8. Sem divulgação, pode esquecer sugestões anteriores

O festival Mada (Música Alimento da Alma) virou referência nacional por trazer a MTV em suas primeiras edições. Em pouco tempo, bandas e produtores souberam que em Natal existia um evento bacana, com retorno de mídia para os iniciantes. Logo a coisa pegou. Quero dizer com isso que, no caso do festival de jazz ou do torneio de futebol no verão, bancar passagens aéreas e hospedagem para veículos especializados e da grande mídia é fundamental. O que diria um jornalista do Estado de São Paulo ou da revista Down Beat ao ouvir um jazzista no cenário praiano de Pipa? Com o cachê de Ivete Sangalo se contrata vários ícones do gênero.

Fonte: Jornal de Hoje
Por Conrado Carlos
Foto: Canindé Soares

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