sábado, 27 de fevereiro de 2010

POR EDMILSON LOPES JUNIOR


ENTRE BMWS E FERRARIS, O PT DO RN ESCOLHE CORRER DE FUSQUINHA POR UMA VAGA NO SENADO

Como já é quase certo que o PT do Rio Grande do Norte marchará com a candidatura do Vice-Governador, Iberê Ferreira de Sousa (PSB), ao Governo do Estado, resta ao partido dar um melhor contorno à engenharia política da sua chapa para o Senado. Uma candidatura já está definida, aquela da governadora Vilma de Faria. Mas, como em outubro próximo o eleitor votará em dois candidatos ao Senado, o PT deseja que o segundo nome na chapa situacionista seja seu. E, para sermos sinceros, isso é o mínimo que se espera de um partido com a sua trajetória no estado. Mas não se trata de uma equação fácil. O jogo de forças no interior do partido não é coisa para principiante, e nem para sonhadores, herdeiros dos ideais do PT do início da década de 1980. A disputa pela vaga deve revelar “os piores instintos” dos concorrentes e seus promotores...

E essa briga de foice no escuro não é gratuita. Uma candidatura do PT ao senado não é nada desprezível. O postulante do partido, só para se ter uma idéia, terá o dobro do tempo de TV de Vilma de Faria. Serão quase oito minutos semanais. Se não me engano, nem Garibaldi (PMDB) e nem José Agripino (DEM) disporão desse latifúndio televisivo. Trata-se, portanto, no mínimo, de uma vitrine qualificada, que pode impulsionar positivamente uma carreira política. E mais: com a disputa renhida entre as três principais candidaturas – Garibaldi, Agripino e Vilma -, o candidato do PT pode vir a se beneficiar de uma parcela considerável do “segundo voto” de muitos eleitores identificados primariamente com alguma das outras candidaturas. Caso isso venha a ocorrer, o que inicialmente objetivava ser apenas uma vitrine transformar-se-á em uma bela surpresa.

Diante desse quadro, como o PT local está reagindo? Como sói ocorrer com freqüência na sua história recente, com visão paroquial. As duas pré-candidaturas lançadas não parecem dotadas das condições necessárias para uma ocupação competente do espaço acima mencionado. Hugo Manso e Fernando Lucena, são, sejamos francos!, dois candidatos a vereador. Vão para a disputa para o Senado pensando de olho em outra coisa (bem menor!). Querem acumular forças para os seus projetos, mais do que legítimos, de voltar à Câmara Municipal de Natal... Prá eles, tudo bem; para o PT, um deslizar na maionese.

Falemos francamente: as duas pré-candidaturas lançadas até agora somam quase nada ao projeto de consolidação do partido no Estado. São paroquiais! Dialogam com demandas corporativas e expressam discursos políticos limitados, anacrônicos e que não potencializam o alargamento da base social do PT no RN. Hugo Manso é até um pouco melhor, tem uma boa retórica, mas, dificilmente, conseguirá fazer pontes substantivas com a nova configuração social do Rio Grande do Norte. E já é um nome batido, tantas vezes foi candidato... Não é novidade em nenhum sentido. Fernando Lucena está mais distante ainda do perfil ideal para representar uma aposta séria para o senado. Com uma trajetória política assentada no corporativismo, e mais conhecido por suas bravatas anti-políticas, autoritárias e grosseiras (“vassourada na cambada!” foi um dos seus motes em uma disputa eleitoral...), Lucena tem no ressentimento anti-intelectualista e anti-cultura o eixo de sua, como direi?, produção discursiva. A seu favor, sejamos justos, tem a capacidade de dialogar com o lumpesinato. Mas isso é muito pouco para um partido que queira produzir um diferencial positivo na política estadual. Ademais, lumpesinato é lumpesinato. Desde que Karl Marx escreveu uma seminal análise de conjuntura a respeito de um golpe de estado perpetrado por um certo Luís Bonaparte na França de meados do século XIX, ninguém, em sã consciência, acha que é possível construir um projeto político republicano e democrático tendo esse setor da sociedade como base de sustentação...

Caso tenha objetivos maiores, como reforçar a candidatura presidencial de Dilma Roussef e, ao mesmo tempo, construir as bases para uma performance qualitativamente superior em 2012, o PT do RN deveria lançar uma candidatura ao senado que expressasse mais do que a busca de um mandato de... vereador em Natal. Que critérios levar em conta na escolha desse nome? Eis alguns elementos:
a) um nome que tenha condições intelectuais e éticas de sustentar um debate qualificado com as outras candidaturas;
b) esse nome deve ter expressão em algum setor da sociedade, que sirva de referência e alavanca positiva para as informações sobre a candidatura;
c) um(a) candidato(a) que ao propor o diálogo construtivo com a classe média o faça a partir de posições seguras, alicerçadas em uma prática anterior facilmente identificável, e não de uma forma retórica, frágil e oportunista;
e) um(a) candidato(a) que, pela novidade, impacte positivamente a envelhecida e triste disputa para o senado no Rio Grande do Norte;
f) um(a) candidato(a) com formação intelectual e dotado de conhecimento técnico de alguma área da gestão pública ou da vida econômica do RN;
f) um(a) candidato(a) que, pelo seu perfil, tenha um trânsito razoável entre os grupos internos do partido, mas cuja candidatura não seja imediatamente associada como tendo o objetivo de ajudar “A” ou “B”.

Existe esse nome? Claro que existe! O problema é que, envolvidos na disputa internista e buscando garantir os seus interesses imediatos (ou, o que é mais comum, que os adversários não avancem um milímetro), os petistas têm dificuldade de enxergá-lo(a). Posso citar até quatro nomes... Mas, por enquanto, fiquemos com dois. Então, vamos lá!

O primeiro nome que se enquadra no figurino acima desenhado é o da ex-Secretária de Planejamento de Natal, a economista Vírginia Ferreira. Tem história, trajetória administrativa, competência técnica, visão política e capacidade de se sair bem no debate público. A sua entrada em cena teria um impacto positivo para o partido, e para o ambiente político do estado.

O segundo nome é o do Professor Hanna Safieh. Tem vínculos históricos com o PT, possui competência técnica, e demonstra capacidade de intervir propositivamente no debate público do estado. E, melhor de tudo, o Professor Hanna encarna uma visão que, à falta de outra denominação, poderíamos identificar como sendo a de um nacional-desenvolvimentismo sustentável e internacionalmente articulado. Além disso, o Professor Hanna teria condições de dialogar positivamente com setores empresariais locais.

Bom. A disputa para o Senado é como uma corrida automobilística em uma pista longa e asfaltada. As candidaturas postas estão montadas em Ferraris e BMWs. O PT do RN não tem condições de se aboletar em carrão desses, mas poderia montar em uma Parati ou, quem sabe!, em um Honda Civic. Até agora parece disposto a seguir de fusquinha... É esperar para ver o veículo que escolherá. Como diz a propaganda daquela revista: “você faz as suas escolhas; suas escolhas fazem você”. Ou, sendo menos rastaqüera, e citando Hegel: “naquilo com que um ser se contenta, mede-se a dimensão de sua perda...”



À HUGO MANSO O QUE É DE HUGO MANSO

Ontem pela manhã recebi um telefonema de Hugo Manso. Eu estava na ante-sala de um consultório médico e não pude, e nem ele queria, esticar a conversa. Mas o político petista deixou o seu recado. Ou sua bronca. Hugo estava chateado. Disse-me que havia ficado “triste” e tinha sentido “dor” com o post EntreBMWs e Ferraris, o PT do RN escolhe correr de fusquinha na disputa por uma vaga no senado.

Não lhe nego o direito de ficar chateado. Políticos, como de resta todos os torcedores do Flamengo, adoram elogios e têm ojeriza à crítica. Hugo sentiu-se desrespeitado com o texto. Após falar, emocionado, sobre a sua trajetória no PT, analisou cada um dos critérios que eu coloquei no texto como crivos para a escolha da candidatura ao Senado pelo PT e disse que se enquadrava em todas eles. Mais ainda: inverteu os pontos ali elencados e se disse ofendido porque, indiretamente, eu estaria identificando-o como antiético e despreparado intelectualmente, dentre outras coisas.

Nem sempre, quando escrevemos, conseguimos passar exatamente o que queremos. Muitas vezes, os nossos leitores (no caso deste blog, alguns poucos, mas que me honram muito com o seu acompanhamento) decodificam mensagens que estão há anos-luz daquilo que efetivamente queríamos dizer.

Dito isto, vamos por partes, como diria um famoso Jack. Vejamos, naquele texto, onde a menção explicita a Hugo aparece (a citação é longa, mas vale a pena recuperá-la...):

Diante desse quadro, como o PT local está reagindo? Como sói ocorrer com freqüência na sua história recente, com visão paroquial. As duas pré-candidaturas lançadas não parecem dotadas das condições necessárias para uma ocupação competente do espaço acima mencionado. Hugo Manso e Fernando Lucena, são, sejamos francos!, dois candidatos a vereador. Vão para a disputa para o Senado pensando de olho em outra coisa (bem menor!). Querem acumular forças para os seus projetos, mais do que legítimos, de voltar à Câmara Municipal de Natal... Prá eles, tudo bem; para o PT, um deslizar na maionese.

Falemos francamente: as duas pré-candidaturas lançadas até agora somam quase nada ao projeto de consolidação do partido no Estado. São paroquiais! Dialogam com demandas corporativas e expressam discursos políticos limitados, anacrônicos e que não potencializam o alargamento da base social do PT no RN. Hugo Manso é até um pouco melhor, tem uma boa retórica, mas, dificilmente, conseguirá fazer pontes substantivas com a nova configuração social do Rio Grande do Norte. E já é um nome batido, tantas vezes foi candidato...


No restante do parágrafo acima, faço comentários críticos sobre a pré-candidatura de Fernando Lucena. Concluo as apreciações das duas pré-candidaturas com o seguinte trecho: “Caso tenha objetivos maiores, como reforçar a candidatura presidencial de Dilma Roussef e, ao mesmo tempo, construir as bases para uma performance qualitativamente superior em 2012, o PT do RN deveria lançar uma candidatura ao senado que expressasse mais do que a busca de um mandato de... vereador em Natal.”

Ora, se apontei critérios, eles não se referiam MAIS nem a Hugo Manso e nem (menos ainda!) a Fernando Lucena. As duas pré-candidaturas, do ponto de vista da lógica interna do texto (que não é, e nem parece que vai ser, a do PT do RN), já ESTAVAM DESCARTADAS. Hugo Manso tem todo o direito de sentir-se ferido e discordar do meu entendimento de que a sua candidatura é paroquial, mas não pode se sentir ferido (assim como Fernando Lucena) pelos critérios que eu apontei. SIMPLESMENTE PORQUE NÃO ESTAVA MAIS ME REFERINDO A ELES. Se eles se enquadram ou não naqueles critérios, isso, no conjunto do desenvolvimento do texto, estava fora de questão. Por quê? Pelo simples fato de que eu já os havia excluído da minha escolha.

É arbitrário esse tipo de posicionamento? Claro que é. Mas, ora bolas!, sou o único responsável pelo meu texto. E penso mesmo que as duas pré-candidaturas são negativas. Mesmo que toda a torcida do Flamengo pense o contrário, eu, de minha parte, não dou a mínima. Penso assim e coerente com o que penso, posiciono-me. E, obviamente, arco com as conseqüências. Como não pertenço a partido, seita ou torcida organizada nenhuma, escrevo o que penso. Sempre.

Claro que, como diria o Zeca Baleiro, Hugo Manso pode passar com a sua dor. Mas, qualquer um que siga um raciocínio lógico, entendeu que os critérios apontados por mim e que ele tomou como ofensivos a sua pessoa, não se referiam MAIS a ele. Os critérios são medidas, certo? E eu não quis medir Hugo e Lucena. Pronto. Como são construções subjetivas, os dois podem achar que se enquadram perfeitamente. Essa discussão não me interessa. O que me interessava (e ainda me interessa) chamar a atenção é para o fato de que, tendo um espaço para ser ocupado de forma competente e que poderia potencializar a sua presença no RN (a candidatura de senador), o PT abra brechas para projetos que eu (euzinho, sem mais ninguém do lado) entendo como menores.

É isso...
Clique aqui e entre no conceituada blog do amigo Edmilsin Lopes Junior

Nenhum comentário :