O DISCURSO DA CULPA
A decisão
de incluir no discurso de 7 de Setembro o dissimulado pedido de
desculpas assumido pela presidenta Dilma Rousseff pelos supostos erros
cometidos na condução da política econômica durante o primeiro governo dela foi mais um tropeço político desfavorável, obviamente, a quem já anda pelas tabelas.
O mentor dessa inclusão na fala da
presidenta pode não ser o mesmo, mas tem a mesma percepção daquele
assessor que, em agosto de 2005, sugeriu ao então presidente Lula ir a
público e se desculpar pelas trapalhadas do PT e de aliados, chamadas de “mensalão”. Guardadas as diferenças circunstanciais, as coisas se parecem.
Em ambos os casos, o tema desculpa e
arrependimento circulou pela imprensa antes de ser adotado oficialmente
por Lula e por Dilma. De nada adiantou a ele, nem adiantará a ela. A
soma de dois erros nunca resultará em acerto. Ao contrário, o erro do
passado é acumulado ao erro do presente.
Dilma, titubeante no discurso difundido
pelas redes sociais, afirmou com uma convicção estranha a ela: “Se
cometemos erros, e isso é possível, vamos superá-los e seguir em
frente”. Em seguida, alertou todos os que viam e ouviam: “Quero dizer a
vocês: alguns remédios para essa situação, é verdade, são amargos, mas
são indispensáveis”.
Ela fez um disparo. O remédio amargo foi um tiro no próprio pé. Na pauta de possibilidades, o projétil pode ricochetear na população já bastante sacrificada pela inflação e o desemprego. Essa
solução econômica traduzida em efeito político significa o aumento no
risco de uma queda ainda maior na aprovação (Ótimo/Bom) da presidenta
Dilma, hoje entre 7% e 8%.
Sempre alerta, a oposição simbolizada em
carne e osso por Aécio Neves, está à espreita. Após uma fase de
calmaria, renasceu nos últimos dias no Congresso a retomada do tema “impeachment já” embora, nas circunstâncias atuais, pareça um sonho impossível.
Após um giro por esse circuito, em São Paulo, com a presença de empresários influentes na formação do PIB, Michel Temer, um aliado ladino, entrou em oposição ao essencial no discurso de Dilma. “Eu
tenho sustentado o corte de despesas (...) As pessoas não querem no
geral qualquer aumento de tributo (...) Nós temos que evitar remédios
amargos.” Os mais ricos, além do fôlego natural, parecem blindados contra o aumento de impostos.
Depois de um longo tempo, precisamente
quatro anos, em silêncio carrancudo, o vice-presidente não sossega mais.
Rega o próprio canteiro contando com a decisão do PMDB de apresentar
candidatura própria em 2018. E só conta com ele. É a explicação mais
consistente para o distanciamento dele da presidenta e, principalmente,
do PT.
Em caso de emergência, Temer estará pronto. Se o cavalo passar arreado, ele monta. Por
tais razões Dilma não pode tomar uma dose forte do remédio amargo. Não
pode promover a exclusão social demolindo os programas de inclusão do
governo Lula. Esses novos cidadãos entraram pela porta da
frente. Agora correm o risco de sair pela porta dos fundos. E podem
voltar a sair de cena.
Fonte: CartaCapital
Por Mauricio Dias
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