AO CONTRÁRIO DO QUE DIZ O
GOVERNO, LUZ MAIS CARA
VEIO PARA FICAR
O consumidor de energia já percebeu a forte elevação de sua conta de
energia elétrica. O aumento médio das tarifas em 2015 será de 50%.
Os aumentos se iniciaram em janeiro com a adoção das bandeiras
tarifárias, regime que não altera a remuneração das distribuidoras, ou
de qualquer outro agente do setor, mas busca sincronizar as tarifas aos
custos correntes de geração de energia.
A perspectiva é de que a
"bandeira vermelha" vigore o ano inteiro, refletindo condições mais
custosas de geração de energia e elevando a receita tarifária em 16% no
ano.
O segundo impacto sobre a tarifa ocorreu em março, quando a
Aneel, reguladora do setor, efetuou a revisão extraordinária das
tarifas de 62 distribuidoras com intuito de restabelecer o equilíbrio
econômico-financeiro, fortemente abalado. Esse efeito resultou num
aumento médio de 23% das tarifas.
A terceira frente de aumentos
deve ocorrer ao longo do ano, na data de reajuste anual de cada
distribuidora. Estima-se que os reajustes resultem num aumento de 10%,
em média.
O governo afirma que os aumentos são passageiros e
causados pela estiagem, que por sua vez reduziu a oferta de geração
hidrelétrica. A estiagem, de fato, explica uma parte da escassez de
oferta, mas outra parte decorre de atrasos na entrada de novas usinas e
linhas de transmissão.
No entanto, a escassez de oferta causada
por estiagem e atrasos responde por apenas 54% da alta das tarifas de
2015, e seu impacto nas tarifas hoje é maior que no passado. Isso
aconteceu porque a renovação das concessões hidrelétricas no novo regime
de cotas, estabelecido em 2012 pela Medida Provisória 579, transferiu o
risco hidrológico dos geradores aos consumidores.
Outros 11% do
aumento das tarifas de 2015 decorrem de erros de gestão por parte do
governo na contratação de energia. O governo administra essa contratação
por meio dos leilões de energia, mas, desde o final de 2012, o governo
deixou de realizar o leilão anual para recontratação de energia de
usinas existentes.
Sendo assim, uma parcela da energia vem sendo
comprada semanalmente no mercado de curto prazo a preços elevadíssimos.
Esse impacto teria sido menor se os consumidores estivessem 100%
protegidos com contratos de longo prazo.
Os 35% restantes, que
explicam o aumento das tarifas em 2015, decorrem da elevação do encargo
CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), que aumentou 1.013%, de R$
1,7 bilhão em 2014 para R$ 18,9 bilhões em 2015. A CDE arca com os
custos das políticas públicas do governo no setor elétrico, tais como:
- Subsídios aos consumidores rurais, de baixa renda e de sistemas isolados na região Norte;
- Subsídios para a energia utilizada em saneamento e irrigação;
- Incentivos para a geração a partir de fontes alternativas;
- Programa de universalização do fornecimento de energia;
- Subsídios para a aquisição de carvão mineral;
- Pagamento de indenizações da reversão de ativos de concessões vincendas.
Esses programas governamentais deveriam ser custeados pela União, como
foi feito em 2013 e 2014, no entanto, com a deterioração de suas
finanças, o governo voltou a embuti-los na conta de luz.
A
explosão da CDE tem ainda um agravante: a regra de rateio desse encargo
não foi concebida para arcar com todos esses programas, o que tem
distorcido as tarifas e resultado numa elevação exacerbada das tarifas
dos consumidores, principalmente nas regiões Centro-Oeste, Sul e
Sudeste.
Percebe-se, portanto, que uma parcela da elevação das
tarifas não é temporária e veio para ficar. Mais de um terço da elevação
se deve a encargos que só diminuirão se houver alteração de políticas
públicas. Além disso, pagaremos os empréstimos contraídos nesse período
de crise pelos próximos quatro anos.
Os custos de geração também
não devem reduzir tão cedo, pois o governo está determinado a evitar um
racionamento a qualquer custo, levando-nos a terminar 2015 com os
reservatórios nos seus limites mínimos novamente. Isso significa que, se
não houver chuvas extraordinárias no próximo verão, 2016 será mais um
ano de custos altíssimos para o consumidor.
As medidas tomadas
pela Aneel voltadas ao realismo tarifário são importantes para o
reordenamento do setor e para a restauração de sua sustentabilidade
econômico-financeira. Esperamos que daqui pra frente intervenções
governamentais sejam mais cuidadosas, porque o preço cobrado do
voluntarismo pré-eleitoral tardou, mas chegou.
Fonte: UOL Economia
Por Claudio J.D.Sales/Richard Lee Hoshstetler
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