DESAFIO DA PETROBRAS AGORA É
AUMENTAR A TRANSPARÊNCIA
NAS OPERAÇÕES
A divulgação atrasada do balanço contábil da Petrobras
nesta quarta-feira 22 foi um bom sinal para o mercado, mas a
recuperação da empresa não depende apenas de boa contabilidade. Segundo
analistas financeiros ouvidos pela DW Brasil, o principal desafio agora é
manter a transparência nas operações de investimento.
O documento, que tem o aval da auditoria PricewaterhouseCoopers
(PwC), mostra que a estatal teve um prejuízo de 21,6 bilhões de reais no
ano de 2014, a primeira perda anual desde 1991. O resultado é
praticamente inverso ao de 2013, quando a Petrobras registrou lucro de
23,6 bilhões de reais.
O escândalo de corrupção revelado pela operação Lava Jato resultou no
desvio de 6,2 bilhões de reais no período entre 2004 e 2012. O cálculo
foi baseado nas investigações do Ministério Público Federal,
principalmente nos depoimentos em delação premiada de executivos que
participaram do esquema.
Ver os números finalmente no papel tem um resultado positivo, avalia
Miguel Daoud, diretor da Global Financial Advisor. "A Petrobras deu uma
satisfação ao mercado. O valor do desvio pode ser maior", especula, "mas
a divulgação desses números já é um bom sinal."
Além de corrupção, problemas de planejamento e baixa no preço
internacional do petróleo, as perdas da empresa foram puxadas pela
desvalorização dos ativos, calculada em 44 bilhões de reais.
"Fomos conservadores nos números ligados à corrupção para dar ênfase à
recuperação de todos os desvios praticados no passado", afirmou o
presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, durante a divulgação dos
resultados na sede da companhia, no Rio de Janeiro.
O prejuízo é 50% menor do que o divulgado no balanço não auditado de
janeiro, que culminou na demissão da ex-presidente da estatal Graça
Foster. Em novembro, o dinhero desviado em propina havia sido lançado
indevidamente como investimento, o que levou a auditoria a se recusar a
aprovar o balanço.
Diante dos resultados divulgados nesta quarta-feira, a
Petrobras anunciou que não vai pagar dividendos – a parte dos lucros que
é distribuída aos acionistas – este ano.
"Num primeiro momento, isso é negativo, porque a empresa gerou um
prejuízo contábil e não vai pagar os dividendos", avalia o analista
Flávio Conde, da Gradual Investimentos. "Alguns acionistas vão se
assustar com os valores e vender as ações rapidamente", prevê.
Por outro lado, a reavaliação dos ativos tem um lado positivo,
observa Conde: a empresa limpa um passado de grandes projetos de
eficiência duvidosa, gastos desnecessários e corrupção e, "com tudo
esclarecido", deve voltar a ter lucros.
"Muitos investidores de médio prazo devem pensar que o pior já passou
e que a empresa vai voltar a andar na linha com projetos mais
rentáveis, menos investimentos e redução de dívidas", afirma.
A decisão de não pagar os dividendos foi tomada para preservar o
caixa da companhia, que fechou 2014 com 68,9 bilhões de reais. Também
foram cancelados os investimentos nas refinarias do Comperj, no Rio de
Janeiro, e Abreu e Lima, em Pernambuco, embora a empresa não descarte
retomar esses investimentos no futuro.
De acordo com o relatório, a dívida líquida da Petrobras passou
de 282 bilhões de reais. O endividamento total da companhia foi de 351
bilhões de reais, 31% a mais do que no ano anterior.
Para Daoud, a Petrobras cumpriu a obrigação que tinha com seus
acionistas de divulgar o balanço auditado. Mesmo assim, a situação não
muda muito na prática.
"A companhia tem um alto nível de endividamento e não tem selo de bom
pagador. Muitas ações correm na justiça", afirma. "O recado para os
investidores é que a Petrobras ainda tem problemas e que o balanço não
soluciona todas as questões."
Com a divulgação do balanço, porém, o risco de antecipação das
dívidas, principalmente de credores dos Estados Unidos, fica afastado.
Bendine destacou que processos judiciais contra a companhia nos EUA
estão em estágio inicial e que a Petrobras tentará reaver todos os
valores desviados por pessoas físicas e empresas.
Para o especialista, a empresa ainda tem uma série de oportunidades
para alavancar lucros, mas precisa de investimentos. "O investimento só
virá se a Petrobras conseguir ter mais transparência e trazer de volta a
confiança e a credibilidade", ressalta.
Um dia antes da divulgação do balanço, a agência de avaliação de
risco Moody’s afirmou que os "efeitos da saga da Petrobras devem
perdurar" prevendo um "declínio da atividade em toda a cadeia de
suprimento de óleo e gás."
Durante a apresentação do balanço contábil ao lado dos demais
membros do conselho de administração da estatal, Aldemir Bendine disse
que o balanço auditado é um "passo fundamental" para a recuperação da
imagem da Petrobras.
O presidente da companhia destacou a criação da diretoria de
governança e afirmou que ela está revendo o plano de negócios. "Os dados
são resultado de um intenso esforço. O balanço foi ratificado pela
auditoria externa sem nenhuma ressalva", afirmou.
O analista Flávio Conde considera que o posicionamento da nova
diretoria aumenta a credibilidade da Petrobras. "Eles foram bem
realistas e estão mudando procedimentos que devem diminuir as chances de
novos desvios."
"A Petrobras foi vítima. Temos um sentimento de vergonha", declarou
Bendine. Apesar dos números de 2014, ele enumerou motivos para acreditar
na recuperação da companhia. Entre eles, destacou que a empresa tem um
índice de sucesso em exploração de petróleo acima da média mundial. "Um
em cada três barris de petróleo descobertos no mundo nos últimos dez
anos foram da Petrobras."
Fonte: CartaCapital
Por Karina Gomes
Por Karina Gomes
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