SÍNTESE IMPOSSÍVEL
Por maior que seja a má vontade do chamado “mercado” com o governo Dilma, é impossível deixar de reconhecer que o programa do ministro Nelson Barbosa
tem começo, meio e fim. Infelizmente, ele foi muito mal recebido pelo
grupo do pensamento “mágico” do PT, que continua escravo da paixão
ideológica. Não adianta tentar ignorar a realidade: 2012-2016 será um
período completamente diferente de 2003-2011.
É a profunda diferença entre eles que sugere que já não há
espaço para as políticas econômicas que foram, inegavelmente,
bem-sucedidas nas mãos de Lula
na crise de 2008-2009. É impossível deixar de reconhecer, por outro
lado, que as relações de confiança entre o setor privado e o governo se
deterioraram contínua e lentamente a partir de 2012, quando ele se
assustou com a perspectiva de uma redução do crescimento e do emprego.
De fato, o ano terminou com um crescimento medíocre de 1,9%, ante os
excelentes 3,9% que Dilma obtivera em 2011. Em resposta àquele susto, o
governo iniciou uma sucessão inacreditável de intervenções voluntaristas
pontuais que assustaram, também, o setor privado.
É preciso lembrar que de 2011 ao meado de 2013, com todos seus problemas, a popularidade de Dilma
nunca deixou de crescer. Isso sugere que não é conveniente administrar o
País só de olho nas pesquisas da volátil e descompromissada opinião
pública. Elas podem revelar entusiasmo de curto prazo mesmo quando se
acumulam imensos riscos não pressentidos no longo prazo. Quando esses
chegam, reduz-se a pó a efêmera popularidade... Essa é a mensagem que
está dando ao PT o ilustre ministro Nelson Barbosa.
A queda da economia mundial
prevista para 2012 chegou poderosa em 2013. Os países desenvolvidos
reduziram seu ritmo de crescimento e os emergentes estagnaram, mas no
Brasil a situação deu um suspiro. Crescemos 3% ante 1,9% de 2012, graças
à espetacular recuperação do setor agrícola (8,4% diante de menos 3,1%
em 2012) e à resposta do setor industrial (2,2% antes menos 0,7% em
2012), pela maior atenção dada à política cambial (entre 2011 e 2013, a
taxa cambial se desvalorizou 30%). O superávit primário caiu para 1,7%
do PIB e o déficit fiscal nominal foi de 3,1% do PIB. É preciso entender
que o crescimento escondeu os problemas, de forma que a dívida bruta
como proporção do PIB reduziu-se de 54%, em 2012, para 52%, em 2013.
O verdadeiro drama aconteceu em 2014, quando Dilma, o seu
partido e o seu marqueteiro, seguindo Niccolò Machiavelli, decidiram que
o primeiro dever do governo é continuar governo. A partir do segundo
trimestre do ano, abandonou-se a preocupação com o mais fundamental de
todos os equilíbrios, o fiscal. Houve um aumento exponencial da relação
da dívida bruta com o PIB em consequência da forte deterioração do
déficit fiscal e a aparição de déficit primário, o que não se via desde o
primeiro mandato de FHC.
O ministro Nelson Barbosa tem toda
razão, temos de dar ao desequilíbrio fiscal estrutural uma solução
estrutural, com medidas constitucionais e infraconstitucionais, dentre
as quais se destacam, em primeiro lugar, enfrentar com inteligência,
coragem e determinação o problema previdenciário e, em segundo, eliminar
as vinculações de despesas à receita para melhorar a qualidade da
administração dos gastos, o que produzirá rapidamente uma redução da
taxa de juro real, além de dar um horizonte para a mobilização do setor
privado na direção do desenvolvimento econômico. E, ao mesmo tempo,
cuidar do desequilíbrio fiscal de curto prazo, revendo a relação entre o
custo e o benefício de cada programa incluído no Orçamento, o que vai
melhorar a qualidade do gasto público. Isso parece estar sendo feito
quietamente pelo ministro Valdir Simão.
Que não haja ilusão. O discurso de Nelson Barbosa, segundo
Dilma, e o do PT são antíteses para as quais não há síntese dialética
possível. Ela vai ter de escolher. Foi eleita para isso e pagará o preço
da sua escolha.
Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto
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