O QUE ACONTECERIA À
ECONOMIA COM LULA MINISTRO?
ESPECIALISTAS AVALIAM
A ida
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Ministério da Casa Civil
significaria, para analistas, um sinal claro de que o governo pretende
retomar sua antiga política econômica, baseada no aumento da oferta de
crédito e no estímulo ao consumo.
Os economistas, no entanto,
divergem sobre o impacto que essas iniciativas podem ter na atual crise
do país. Eles fizeram essa análise antes de ser divulgada a gravação que mostra que a presidente Dilma Rousseff teria agido para evitar possível prisão de Lula.
"Esse discurso é inapropriado para o momento", diz Otto Nogami,
economista e professor do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).
Para José Nicolau Pompeo, economista e professor da PUC-SP, a chegada
de Lula é positiva. "A entrada dele no governo está ligada a um grande
acordo que vai minimizar o impacto político da crise. E essa crise é
mais política do que econômica."
Crescimento da economia
Otto Nogami acha que a política de estímulo ao crédito pode ter efeito
positivo no curto prazo. Antes da nomeação de Lula, a expectativa era de
que a economia brasileira, que teve queda de 3,8% em 2015, tivesse uma
desaceleração ainda maior neste ano, na casa dos 4,1%, segundo ele.
Se a chegada de Lula resultar em mais crédito na praça, a população
tende a comprar mais, o que pode ajudar a melhorar essa projeção. "Mas o
resgate do crescimento sustentável, que era esperado até 2018, será
adiado", afirma.
Isso porque, segundo o professor do Insper, o
crescimento baseado no aumento do crédito resultaria em mais
endividamento no futuro.
A economista Virene Matesco, professora
da FGV, concorda. "A tendência é ficar na mesmice de editar medidas
provisórias e dar incentivos, estimular alguns setores, como a
construção civil", diz. "Ele chega desgastado, sem apoio para tomar
medidas econômicas que levariam o país a ter um crescimento sustentável,
como reformas da previdência e das leis trabalhistas."
Dívidas em alta
O aumento da inadimplência é um dos maiores efeitos negativos que podem
resultar do estímulo ao crédito, diz Nogami. Para ele, o problema está
em estimular o consumo não por meio do aumento da renda, mas por meio do
endividamento da população.
"As famílias já estão muito endividadas e isso tende a agravar a situação, tornando o problema pior no longo prazo."
Emprego
Os especialistas acreditam que o aumento do crédito e do consumo pode
resultar, no curto prazo, na alta da geração de empregos. Com mais
demanda, as empresas teriam de aumentar a produção, tenderiam a
contratar mais funcionários ou poderiam evitar demissões que estavam
previstas para este ano.
Para Nogami, o aumento no emprego será
pequeno. Pompeo acredita num efeito mais positivo. "As empresas estão
dando calote, e os números de recuperações judiciais [antigas
concordatas] triplicaram. O crédito é a única saída para evitar que as
empresas quebrem e fazer com que gerem emprego", diz.
Inflação
Se a população passar a consumir mais, e as empresas não tiverem
condições de atender ao aumento da demanda, os preços devem continuar em
alta, diz Otto Nogami.
Investimentos
Virene
Matesco não vê efeitos positivos na economia com a chegada do
ex-presidente Lula ao governo. "Ele chega com um capital político muito
menor do que o que tinha no passado. A influência dele no Congresso é
mínima", diz.
Por causa disso, segundo ela, o mercado financeiro
vê esse momento com muita desconfiança. "Há um clima de desânimo, com
queda da Bolsa e alta do dólar", afirma.
Nogami diz que as ações
de bancos devem ser muito afetadas. "Se o governo estimular o crédito
no atual cenário, que é de risco muito alto para os bancos, as ações
deles devem ter quedas expressivas."
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