OS DESAFIOS DO BRASIL
PARA VOLTAR A CRESCER
Depois de o IBGE divulgar nesta
sexta-feira 27 que o Produto Interno Bruto (2015) ficou praticamente
estagnado em 2014, as expectativas para 2015 são pouco animadoras. O
último Boletim Focus – pesquisa realizada semanalmente junto a
instituições financeiras e economistas – prevê retração de 0,83% na economia brasileira neste ano.
Para especialistas ouvidos pela DW Brasil, para o país crescer, a
presidente Dilma Rousseff terá, entre outros desafios: reconquistar a
confiança de empresários, sinalizar que vai manter o ajuste fiscal,
controlar a inflação e reequilibrar as contas públicas.
"Saímos de 2014 com um PIB que se desacelerou substancialmente e
entramos em um ano em que o ajuste de demanda já começou, mas há ainda
uma série de etapas a serem cumpridas", afirma o economista Vinícius
Botelho, da FGV/IBRE. "O PIB do primeiro trimestre de 2015 deve ficar
próximo de zero e, com a confiança nos piores patamares, deve haver a
continuação do processo de deterioração da economia."
Botelho afirma diz que somente o ajuste fiscal não é necessário. Para
ele, é necessária uma agenda regulatória e microeconômica para tentar
retomar o crescimento brasileiro. "Houve muita intervenção nos preços,
taxas de juros e funcionamento do mercado. É preciso devolver essa
estabilidade para que os setores deslanchem", afirma o especialista.
O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), é um das taxas que estão em
queda. Em março, o índice voltou a cair e registrou o menor patamar
desde 1999, quando a pesquisa começou a ser feita. A taxa caiu para 37,5
pontos e está 19 pontos abaixo da média histórica. A venda de carros em
fevereiro caiu 28,9% na comparação com o mesmo mês de 2014.
O ajuste fiscal de Joaquim Levy, ministro da Fazenda, em sua primeira
etapa já contemplou cortes nos gastos de ministérios e investimentos,
aumento de impostos e da taxa básica de juros. Além disso, deixou-se de
gastar dinheiro para segurar o câmbio, deixando-o flutuante. Todas essas
ações tiveram o objetivo de reequilibrar o Orçamento público, atingir a
meta de superávit primário e manter a nota das agências de
classificação de risco para a dívida do país.
"O aperto fiscal e a mudança da política monetária geram diversos
efeitos na economia. Entre eles, a cessação de repasses a obras e
serviços anteriormente contratados e os que seriam realizados, elevação
da taxa básica de juros e redução na oferta de crédito ", afirma Marcos
Sarmento Melo, professor de finanças do Ibmec/DF.
Para o especialista, tais medidas reduzem exponencialmente o volume
de bens e serviços contratados. A empresa que não vende para o governo
não compra insumos e serviços de outras, num efeito multiplicador na
economia.
"A redução na oferta de crédito e o aumento das taxas de juros tornam
menos rentáveis e atraentes os investimentos que poderiam ser feitos
pelas empresas e tornam mais difícil para o consumidor adquirir bens",
afirma Melo.
A economia brasileira cresceu 0,1% em 2014, no pior resultado
desde 2009, auge da crise econômica global, quando registrou uma
retração de 0,2%. O resultado de 2014 é também o pior do governo Dilma
Rousseff.
A taxa de crescimento é inferior à de 2013, quando o Brasil cresceu
2,7% – índice já revisado e divulgado também nesta segunda-feira.
Originalmente, o PIB no período havia crescido 2,5%. Além do cálculo de
2014, o IBGE revisou também os dados dos dois anos anteriores. Em 2012, a
taxa de crescimento passou de 1% para 1,8%; e em 2013, de 2,5% para
2,7%.
"A revisão da metodologia não ocorreu para favorecer os resultados do
governo. Diversos países já vinham adotando tais correções
metodológicas para padronizar comparações e tornar os números mais
realistas", diz Melo. "Os gastos em pesquisa e desenvolvimento foram
tomados como investimentos com efeito de elevar o crescimento econômico,
como de fato acontece. Isso não era anteriormente considerado no
cálculo do PIB."
Em relação aos setores da economia, a indústria teve queda de 1,2% em
2014. A agropecuária cresceu 0,4%, e os serviços, 0,7%. Já a Formação
Bruta de Capital Fixo (FBCF), que representa os investimentos, diminuiu
4,4% em 2014 por conta do descrédito dos empresários na economia
brasileira. Entre os motivos estão o aumento dos juros, crédito mais
escasso e a piora do cenário fiscal do país.
Já o consumo das famílias (0,9%) e o consumo do governo (1,3%)
aumentaram em relação a 2013, mas perderam fôlego. Os mesmos índices
foram de 2,9% e 6,1% na comparação entre 2013 e 2012, já levando em
conta a revisão do IBGE. Em 2014, o PIB fechou em 5,521 trilhões de
reais. Um dos vilões do consumo das famílias é a pressão sobre a
inflação.
O PIB per capita diminuiu pela primeira vez desde 2009 e registrou
uma queda de 0,7%, para 27.229 reais. Houve recuo em 2014 porque o
crescimento da população foi de 0,9%, ou seja, registrou um avanço
superior ao da economia. Em 2013, o PIB per capita teve um crescimento
de 1,8% em relação a 2012.
Em relação ao terceiro trimestre, o PIB do quarto trimestre de 2014
cresceu 0,3%, já levando em conta a revisão do governo. A agropecuária
registrou um aumento de 1,8%, a indústria se manteve estável (-0,1%) e o
setor de serviços teve alta de 0,3%. Em comparação ao quarto trimestre
de 2013, o PIB variou -0,2% – a indústria recuou 1,9%, enquanto os
serviços (0,4%) e a agropecuária (1,2%) aumentaram.
Fonte: CartaCapital
Por Deutsche Welle
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