"FALÊNCIA" DO SISTEMA PRODUTIVO
AMPLIA CRISE EM MOSSORÓ
"Crise". Este certamente tem sido o principal termo na boca dos
brasileiros este ano. Para além de um fantasma, ou de um medo distante, a
crise econômica é um fato que insiste em bater à porta do país neste
ano, e que já pode ser sentida com muita força em Mossoró.
Desemprego,
falência de empresas, atrasos salariais são apenas algumas
consequências das dificuldades vividas na cidade. Reconhecida
publicamente como uma das cidades médias com maior potencial no Brasil,
Mossoró sofre com o enfraquecimento de setores fundamentais de sua
estrutura econômica, o petróleo, a indústria salineira e a fruticultura.
Para
o professor Emanoel Márcio Nunes, especialista em desenvolvimento
econômico, nos últimos anos a Petrobras deixou de realizar uma série de
investimentos na cidade, e isso teve muita influência nos resultados
negativos que o município vem apresentando em seus indicadores.
"Os
royalties provenientes da estatal, por muito tempo foram definidores do
desenvolvimento econômico da cidade. A empresa trazia pessoas que
queriam investir, alugar casas, comprar imóveis, e isso se extinguiu",
explicou. Ele complementa que no caso da fruticultura a crise se
relaciona diretamente com uma série de incentivos que estados vizinhos,
em especial o Ceará, dão para os agricultores e que o Rio Grande do
Norte não dá.
Além disso, iniciativas como a Feira Internacional da
Fruticultura Irrigada (Expofruit), que dava espaço aos produtores da
região, vem deixando de ser realizadas, e influenciando na inibição do
mercado local.
O pesquisador afirmou que em relação ao sal,
percebe-se que a cadeia produtiva do setor está completamente exaurida,
ampliando as dificuldades da economia local. De acordo com
especialistas, a concorrência com o sal de outros países e a
inconstância do período chuvoso, foram preponderantes para o declínio da
produção.
Emanoel Nunes relembra que o recente fechamento e
enfraquecimento de várias empresas, nos setores ceramistas e de
exportação de castanhas, também contribuiu diretamente para o aumento do
desemprego e a diminuição da renda da cidade. "Ainda temos em Mossoró
uma lógica, onde as grandes empresas vêm à cidade e se valem dos
recursos humanos e naturais até exaurirem suas condições. Este modelo é
muito prejudicial, por que estas empresas vão embora quando a cidade não
oferece um retorno tão lucrativo, e deixam muito pouco em estrutura e
valores para o local", comentou.
A Secretaria de Desenvolvimento
Econômico e Trabalho de Mossoró foi procurada sem sucesso pela
reportagem do O Mossoroense por telefone e através de correio eletrônico
para falar sobre o panorama da economia da cidade. A assessoria de
comunicação da PMM informou que o secretário Nilson Gurgel estava em
reunião e, infelizmente, até o fechamento desta edição não foi enviada
nenhum resposta.
CONCESSIONÁRIAS
O fechamento
recente de duas concessionárias de veículos em Mossoró também acendeu o
sinal de alerta para os empresários do setor. De acordo com
especialistas, a queda na venda de automóveis na cidade está diretamente
ligada à crise financeira instalada e o aumento dos custos na montagem e
venda de carros no país.
Érico Fernandes, que é diretor comercial de
uma grande rede concessionária na cidade, explica que os altos gastos
das empresas, aliada a uma queda drástica no volume de vendas certamente
foi o responsável pelo fechamento das empresas.
Ele lembrou que há
hoje em Mossoró 18 concessionárias de marcas diferentes. Em Natal e
Fortaleza o número chega a 30 fabricantes diferentes, e no Brasil cerca
de 95 marcas com concessões registradas. Para Érico Fernandes, a
competição das concessionárias de carros nacionais com as de mercados
estrangeiros, em especial asiáticos, é muito difícil, em especial pela
alta taxa de juros para produção e venda de modelos produzidos no país.
"Para
que uma loja de carros se mantenha no mercado precisa ter volume. Visto
que o preço é um só em Mossoró ou nas capitais vizinhas. As margens não
passam de 5%, seja no negócio de carros ou na grande maioria dos
negócios de varejo. Ou seja, uma margem muito enxuta. Junte a isso, uma
grande necessidade de espaço e mão de obra para este tipo de operação,
com uma despesa que é alta. Eu diria que o ponto de equilíbrio de uma
loja de carros gira em torno de 15 carros/mês. Quem encerrou operações
na cidade certamente tinha volume inferior a esse número", explicou o
diretor comercial.
Comércio e lojistas
"A
situação para os lojistas de Mossoró é de instabilidade". É assim que o
presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Getúlio Vale, se
refere ao início de 2015 para o comércio em Mossoró. Para o dirigente,
existe uma preocupação instaurada entre todos os setores associados à
CDL.
"Só entre comerciantes, foram perdidos mais de 720 empregos nos
dois primeiros meses do ano. Os investidores estão sendo cautelosos, e
quem tem dinheiro guardado está evitando gastar ou investir. Temos
endividamento da população, que nos últimos anos contraiu empréstimos e
agora não consegue pagar, isso enfraquece o comércio como um todo",
afirmou.
Getúlio Vale lembrou que há um crescente aumento da taxa de
juros, fator que cria um quadro preocupante de inadimplência e aumenta a
exigência para aquisição de empréstimos. Segundo ele, todas estas
dificuldades diminuem a circulação de dinheiro na cidade. "Apesar de eu
não ter dados concretos, observo, andando pela cidade, que muitas lojas
fecharam e vão fechar as portas em breve", concluiu.
“Mossoró à venda”: crise no setor imobiliário aumenta número de imóveis disponíveis na cidade
É
espantoso andar pelo centro e periferia da cidade e perceber o número
gigantesco de imóveis que carregam em sua fachada uma placa, aviso ou
pintura comunicando venda ou disposição para aluguel. O número de casas,
apartamentos e lojas disponíveis em imobiliárias aumenta dia após dia e
promove uma crise generalizada no setor da construção civil.
"A
categoria está sendo afetada diretamente pela crise imobiliária da
cidade. As empresas estão enviando rotineiramente cartas com dezenas de
demissões. Os trabalhadores se aglomeram na porta do sindicato pedindo
ajuda e procurando por emprego. Desde janeiro a situação ficou muito
pior e a demanda de homologações aumentou muito. Todos os dias recebemos
entre 30 e 50 rescisões de contrato de trabalho", comentou o presidente
do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção em Geral e do
Mobiliário de Mossoró e Região Oeste do RN (Sintraconm/RN), Francisco
Neves.
O representante sindical afirma que hoje já há uma demanda de
desempregados na categoria muito grande, e que a falta de investimentos
públicos contribui muito para o quadro. "Parte dessa situação se dá pelo
fato de não termos obras públicas na cidade. A prefeitura encerrou seu
último trabalho no início do mês, nas obras do Governo do Estado, grande
parte dos contratados vem de Natal ou de outros estados. Apenas 20% dos
trabalhadores são de Mossoró e isso é muito ruim para a cidade como um
todo, já que os contratados terminam o serviço e voltam para as suas
cidades", explicou.
A consultora imobiliária Angélica Regina
confirmou que a situação deste ano é pior do que a dos anos anteriores e
afirmou que o quadro é bem mais sensível para quem tenta vender um
imóvel do que para quem tentar alugar. Ela explica que com a saída de
grandes empresas da cidade, o mercado sofreu uma desaquecida, e que é
hora de repensar preços e valores dos imóveis.
"Com a falta de
investimentos na cidade, e chegada de novas pessoas que vinham para
empresas como a Petrobras, casas que antes eram muito valorizadas
passaram a se desvalorizar, muitas pessoas foram embora e seus imóveis
não conseguem ser vendidos. É uma lógica que atua a partir de uma
demanda que era alta, e que agora não é mais. Vejo muitos clientes que
não entendem que casas que alugariam antes por R$ 600, R$700, hoje não
terão o mesmo apelo", narrou Angélica.
Para Jorge do Rosário,
presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscom), o
momento econômico de Mossoró, assim com de todo o país, é muito
complicado, e setores como a construção civil são completamente afetados
pela iminência de uma recessão.
"No cenário local, especificamente,
temos mais de quatro anos de seca, e enfraquecimento do setor
fruticultor, tivemos a diminuição maciça de investimentos da Petrobras
na cidade e a indústria do sal está desaquecida, visto que o produto
está completamente desvalorizado. Aliado a isso, tivemos muita
instabilidade política na cidade nos últimos anos, o que influi na falta
de investimentos. Estamos sentindo falta de obras públicas, que são
fundamentais para animar nosso setor", conclui Jorge.
Mais de 5.600 demissões marcam os dois primeiros meses do ano no município
Os
números de demissões em Mossoró têm atingido resultados alarmantes, e
que preocupam cada vez mais a sociedade. De acordo com dados do Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE),entre janeiro e fevereiro deste ano 5.621 pessoas foram
demitidas em Mossoró. O balanço do Caged avalia os postos de trabalho da
cidade, se baseando no número de demissões e admissões no período. Nos
dois primeiros meses de 2015, Mossoró perdeu 1.313 postos de trabalho.
De
acordo com um levantamento apresentado no site da Prefeitura Municipal
de Mossoró (PMM), foram criados, durante o ano passado, 2.150 empregos
na cidade. Apesar do resultado positivo, a queda na geração de trabalho
na cidade é gritante. No ano de 2010, por exemplo, o balanço de empregos
formais gerados na cidade foi de 5.683, o dobro do último registro.
A
chegada recente de um callcenter na cidade foi comemorada pelos
gestores como grande atrativo de empregos para Mossoró, abrindo mais de
mil vagas formais de trabalho. De acordo com o professor Emanoel Márcio,
porém, o impacto causado pela empresa é muito pequeno no panorama da
cidade, principalmente pelos baixos salários pagos.
"Diante da queda
de setores fundamentais para Mossoró como a fruticultura e o petróleo, a
vinda de uma empresa de grande porte ajuda a melhorar os números de
empregados na cidade, mas só isso. Economicamente falando, ela aquece
muito pouco o mercado, porque seus funcionários ganham um salário
mínimo, ou pouco mais", explicou.
Segundo os dados divulgados pelo
último balanço do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud), Mossoró possui 15% de indivíduos considerados pobres. O balanço é
realizado a partir da proporção dos indivíduos com renda domiciliar per
capita mensal igual ou inferior a R$ 140,00. Segundo o mesmo balanço,
os 10% mais ricos de Mossoró detêm 42% de toda a riqueza produzida, um
panorama que exprime uma desigualdade social.
Fonte: O Mossoroense
Por Cláudio Palheta Jr
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