segunda-feira, 30 de março de 2015

"FALÊNCIA" DO SISTEMA PRODUTIVO

 AMPLIA CRISE EM MOSSORÓ


"Crise". Este certamente tem sido o principal termo na boca dos brasileiros este ano. Para além de um fantasma, ou de um medo distante, a crise econômica é um fato que insiste em bater à porta do país neste ano, e que já pode ser sentida com muita força em Mossoró.

Desemprego, falência de empresas, atrasos salariais são apenas algumas consequências das dificuldades vividas na cidade. Reconhecida publicamente como uma das cidades médias com maior potencial no Brasil, Mossoró sofre com o enfraquecimento de setores fundamentais de sua estrutura econômica, o petróleo, a indústria salineira e a fruticultura.
 
Para o professor Emanoel Márcio Nunes, especialista em desenvolvimento econômico, nos últimos anos a Petrobras deixou de realizar uma série de investimentos na cidade, e isso teve muita influência nos resultados negativos que o município vem apresentando em seus indicadores.
 
"Os royalties provenientes da estatal, por muito tempo foram definidores do desenvolvimento econômico da cidade. A empresa trazia pessoas que queriam investir, alugar casas, comprar imóveis, e isso se extinguiu", explicou. Ele complementa que no caso da fruticultura a crise se relaciona diretamente com uma série de incentivos que estados vizinhos, em especial o Ceará, dão para os agricultores e que o Rio Grande do Norte não dá.
 
Além disso, iniciativas como a Feira Internacional da Fruticultura Irrigada (Expofruit), que dava espaço aos produtores da região, vem deixando de ser realizadas, e influenciando na inibição do mercado local.
 
O pesquisador afirmou que em relação ao sal, percebe-se que a cadeia produtiva do setor está completamente exaurida, ampliando as dificuldades da economia local. De acordo com especialistas, a concorrência com o sal de outros países e a inconstância do período chuvoso, foram preponderantes para o declínio da produção.
 
Emanoel Nunes relembra que o recente fechamento e enfraquecimento de várias empresas, nos setores ceramistas e de exportação de castanhas, também contribuiu diretamente para o aumento do desemprego e a diminuição da renda da cidade. "Ainda temos em Mossoró uma lógica, onde as grandes empresas vêm à cidade e se valem dos recursos humanos e naturais até exaurirem suas condições. Este modelo é muito prejudicial, por que estas empresas vão embora quando a cidade não oferece um retorno tão lucrativo, e deixam muito pouco em estrutura e valores para o local", comentou.
 
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de Mossoró foi procurada sem sucesso pela reportagem do O Mossoroense por telefone e através de correio eletrônico para falar sobre o panorama da economia da cidade. A assessoria de comunicação da PMM informou que o secretário Nilson Gurgel estava em reunião e, infelizmente, até o fechamento desta edição não foi enviada nenhum resposta.

CONCESSIONÁRIAS
 
O fechamento recente de duas concessionárias de veículos em Mossoró também acendeu o sinal de alerta para os empresários do setor. De acordo com especialistas, a queda na venda de automóveis na cidade está diretamente ligada à crise financeira instalada e o aumento dos custos na montagem e venda de carros no país.
 
Érico Fernandes, que é diretor comercial de uma grande rede concessionária na cidade, explica que os altos gastos das empresas, aliada a uma queda drástica no volume de vendas certamente foi o responsável pelo fechamento das empresas.
 
Ele lembrou que há hoje em Mossoró 18 concessionárias de marcas diferentes. Em Natal e Fortaleza o número chega a 30 fabricantes diferentes, e no Brasil cerca de 95 marcas com concessões registradas. Para Érico Fernandes, a competição das concessionárias de carros nacionais com as de mercados estrangeiros, em especial asiáticos, é muito difícil, em especial pela alta taxa de juros para produção e venda de modelos produzidos no país.
 
"Para que uma loja de carros se mantenha no mercado precisa ter volume. Visto que o preço é um só em Mossoró ou nas capitais vizinhas. As margens não passam de 5%, seja no negócio de carros ou na grande maioria dos negócios de varejo. Ou seja, uma margem muito enxuta. Junte a isso, uma grande necessidade de espaço e mão de obra para este tipo de operação, com uma despesa que é alta. Eu diria que o ponto de equilíbrio de uma loja de carros gira em torno de 15 carros/mês. Quem encerrou operações na cidade certamente tinha volume inferior a esse número", explicou o diretor comercial.

Comércio e lojistas
 
"A situação para os lojistas de Mossoró é de instabilidade". É assim que o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Getúlio Vale, se refere ao início de 2015 para o comércio em Mossoró. Para o dirigente, existe uma preocupação instaurada entre todos os setores associados à CDL.
 
"Só entre comerciantes, foram perdidos mais de 720 empregos nos dois primeiros meses do ano. Os investidores estão sendo cautelosos, e quem tem dinheiro guardado está evitando gastar ou investir. Temos endividamento da população, que nos últimos anos contraiu empréstimos e agora não consegue pagar, isso enfraquece o comércio como um todo", afirmou.
 
Getúlio Vale lembrou que há um crescente aumento da taxa de juros, fator que cria um quadro preocupante de inadimplência e aumenta a exigência para aquisição de empréstimos. Segundo ele, todas estas dificuldades diminuem a circulação de dinheiro na cidade. "Apesar de eu não ter dados concretos, observo, andando pela cidade, que muitas lojas fecharam e vão fechar as portas em breve", concluiu.

“Mossoró à venda”: crise no setor imobiliário aumenta número de imóveis disponíveis na cidade

É espantoso andar pelo centro e periferia da cidade e perceber o número gigantesco de imóveis que carregam em sua fachada uma placa, aviso ou pintura comunicando venda ou disposição para aluguel. O número de casas, apartamentos e lojas disponíveis em imobiliárias aumenta dia após dia e promove uma crise generalizada no setor da construção civil.
 
"A categoria está sendo afetada diretamente pela crise imobiliária da cidade. As empresas estão enviando rotineiramente cartas com dezenas de demissões. Os trabalhadores se aglomeram na porta do sindicato pedindo ajuda e procurando por emprego. Desde janeiro a situação ficou muito pior e a demanda de homologações aumentou muito. Todos os dias recebemos entre 30 e 50 rescisões de contrato de trabalho", comentou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção em Geral e do Mobiliário de Mossoró e Região Oeste do RN (Sintraconm/RN), Francisco Neves.
 
O representante sindical afirma que hoje já há uma demanda de desempregados na categoria muito grande, e que a falta de investimentos públicos contribui muito para o quadro. "Parte dessa situação se dá pelo fato de não termos obras públicas na cidade. A prefeitura encerrou seu último trabalho no início do mês, nas obras do Governo do Estado, grande parte dos contratados vem de Natal ou de outros estados. Apenas 20% dos trabalhadores são de Mossoró e isso é muito ruim para a cidade como um todo, já que os contratados terminam o serviço e voltam para as suas cidades", explicou.
 
A consultora imobiliária Angélica Regina confirmou que a situação deste ano é pior do que a dos anos anteriores e afirmou que o quadro é bem mais sensível para quem tenta vender um imóvel do que para quem tentar alugar. Ela explica que com a saída de grandes empresas da cidade, o mercado sofreu uma desaquecida, e que é hora de repensar preços e valores dos imóveis.
 
"Com a falta de investimentos na cidade, e chegada de novas pessoas que vinham para empresas como a Petrobras, casas que antes eram muito valorizadas passaram a se desvalorizar, muitas pessoas foram embora e seus imóveis não conseguem ser vendidos. É uma lógica que atua a partir de uma demanda que era alta, e que agora não é mais. Vejo muitos clientes que não entendem que casas que alugariam antes por R$ 600, R$700, hoje não terão o mesmo apelo", narrou Angélica.
 
Para Jorge do Rosário, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscom), o momento econômico de Mossoró, assim com de todo o país, é muito complicado, e setores como a construção civil são completamente afetados pela iminência de uma recessão.
 
 "No cenário local, especificamente, temos mais de quatro anos de seca, e enfraquecimento do setor fruticultor, tivemos a diminuição maciça de investimentos da Petrobras na cidade e a indústria do sal está desaquecida, visto que o produto está completamente desvalorizado. Aliado a isso, tivemos muita instabilidade política na cidade nos últimos anos, o que influi na falta de investimentos. Estamos sentindo falta de obras públicas, que são fundamentais para animar nosso setor", conclui Jorge.

Mais de 5.600 demissões marcam os dois primeiros meses do ano no município

Os números de demissões em Mossoró têm atingido resultados alarmantes, e que preocupam cada vez mais a sociedade. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE),entre janeiro e fevereiro deste ano 5.621 pessoas foram demitidas em Mossoró. O balanço do Caged avalia os postos de trabalho da cidade, se baseando no número de demissões e admissões no período. Nos dois primeiros meses de 2015, Mossoró perdeu 1.313 postos de trabalho.
 
De acordo com um levantamento apresentado no site da Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM), foram criados, durante o ano passado, 2.150 empregos na cidade. Apesar do resultado positivo, a queda na geração de trabalho na cidade é gritante. No ano de 2010, por exemplo, o balanço de empregos formais gerados na cidade foi de 5.683, o dobro do último registro.
 
A chegada recente de um callcenter na cidade foi comemorada pelos gestores como grande atrativo de empregos para Mossoró, abrindo mais de mil vagas formais de trabalho. De acordo com o professor Emanoel Márcio, porém, o impacto causado pela empresa é muito pequeno no panorama da cidade, principalmente pelos baixos salários pagos.
 
"Diante da queda de setores fundamentais para Mossoró como a fruticultura e o petróleo, a vinda de uma empresa de grande porte ajuda a melhorar os números de empregados na cidade, mas só isso. Economicamente falando, ela aquece muito pouco o mercado, porque seus funcionários ganham um salário mínimo, ou pouco mais", explicou.
 
Segundo os dados divulgados pelo último balanço do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Mossoró possui 15% de indivíduos considerados pobres. O balanço é realizado a partir da proporção dos indivíduos com renda domiciliar per capita mensal igual ou inferior a R$ 140,00. Segundo o mesmo balanço, os 10% mais ricos de Mossoró detêm 42% de toda a riqueza produzida, um panorama que exprime uma desigualdade social.

Fonte: O Mossoroense
Por Cláudio Palheta Jr


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