LÁ VEM O BRASIL
DESCENDO A LADEIRA
DEPOIS DO FIM DO BRASIL, EMPIRICUS
PREVÊ DEZ ANOS DE RECESSÃO
Parece título de filme apocalíptico, mas, depois de “O Fim do
Brasil”, enfrentaremos “Dez Anos de Recessão”. A avaliação é do
economista Felipe Miranda, sócio da Empiricus, a casa de análises
independente que causou urticárias nos militantes mais aguerridos do PT,
durante a campanha eleitoral de 2014. Em junho daquele ano, Miranda
lançou a primeira versão da análise “O Fim do Brasil”, em que previa que
o modelo desenvolvimentista adotado após 2008 levaria o País à crise.
Processado pelo partido da presidente – e então candidata à reeleição –
Dilma Rousseff, Miranda foi inocentado pela Justiça e viu a crise chegar
a números piores que as suas previsões. Agora, ele afirma que estamos
diante de uma década de carestia.
Em um vídeo veiculado no site
da Empiricus e no YouTube, Miranda afirma que a maior bolha de ativos
financeiros da história global está prestes a estourar. Ela foi criada
pela ação dos bancos centrais de todo o mundo, após a crise de 2008. No
afã de estimular as economias locais, as autoridades monetárias
injetaram maciças doses de dinheiro no sistema, a taxas de juros muito
baixas – ou até mesmo, zeradas. Segundo Miranda, cerca de US$ 12
trilhões entraram em circulação desde aquele ano, para evitar que uma
profunda crise.
“Os preços inflados estão na raiz do problema”, diz o economista. Por trás da sofisticação dos jargões e das contas, o raciocínio é simples. Se há muito dinheiro em circulação, o crédito fica mais acessível e mais barato. As pessoas começam a se endividar para consumir. A demanda eleva os preços – de carros a imóveis, passando por qualquer coisa. No mercado financeiro e de capitais, ocorre o mesmo. Bancos e investidores continuam tendo acesso a crédito farto e barato. O dinheiro é usado para comprar ações, títulos de dívida de países e empresas, imóveis.
“Os preços inflados estão na raiz do problema”, diz o economista. Por trás da sofisticação dos jargões e das contas, o raciocínio é simples. Se há muito dinheiro em circulação, o crédito fica mais acessível e mais barato. As pessoas começam a se endividar para consumir. A demanda eleva os preços – de carros a imóveis, passando por qualquer coisa. No mercado financeiro e de capitais, ocorre o mesmo. Bancos e investidores continuam tendo acesso a crédito farto e barato. O dinheiro é usado para comprar ações, títulos de dívida de países e empresas, imóveis.
Bolhas
A
bolha se forma, quando o valor desses bens e investimentos se descola
da realidade. Como medir isso? Um exemplo é comparar o preço das ações
com o quanto as empresas lucram. Segundo Miranda, o S&P 500, um dos
principais indicadores da Bolsa de Nova York, mostra a maior distância
entre o valor das ações que compõem o índice e o retorno que as empresas
geram, desde 2008.
Outro exemplo é a capacidade de pagamento dos
bancos centrais. Somente o Federal Reserve, dos Estados Unidos, tem
obrigações de US$ 4,3 trilhões em títulos de dívida circulando pelo
mercado. O problema é que seus ativos (a soma dos bens que possui)
totalizam apenas US$ 56 bilhões. Antes da crise de 2008, o nível de
alavancagem do Fed era de 22 para 1. Agora, está em 77 para 1. Isso
significa que, para cada 1 dólar de capital próprio, o banco central
americano possui 77 dólares em dívidas contraídas. De prático, apenas
parte dos investidores desconfiarem que o Fed não terá condições de
pagar seus compromissos e decidirem antecipar a cobrança para se
garantir, o banco quebra.
A China também é destaque, entre as
preocupações de Miranda. A economia chinesa vem desacelerando e muitos
apontam que o país vive uma “fraude do crescimento”. O motivo seria o
impulso artificial da construção civil. Antes da crise, em 2008, a
construção respondia por 17% do PIB dos Estados Unidos. Na China atual, o
porcentual é de 50%. Além disso, às vésperas do estouro da crise das
hipotecas americanas, um cidadão demorava, em média, 4,3 anos para
quitar sua casa. Para os chineses, esse tempo é de 18 anos. Traduzindo: a
construção tem mais peso, com dívidas mais longas, no Oriente.
Nas sombras
Além
de tudo, grande parte do dinheiro que gira a economia chinesa passa
pelo que os especialistas chamam de “shadow banks”, ou bancos obscuros.
Trata-se de instituições fora do sistema financeiro regulamentado, uma
espécie de agiotas mais sofisticados. Estima-se que, em 2012, 69% do PIB
do país fosse movimentado por esses mecanismos paralelos. Isso torna
difícil, por exemplo, mensurar o real impacto de uma desaceleração na
economia local.
E o que tudo isso tem a ver com uma possível nova
década perdida para o Brasil? Miranda afirma, no vídeo, que o estouro
da bolha de ativos gerada pelos bancos centrais vai gerar uma “crise sem
precedentes em esfera global”, com o “colapso generalizado” do sistema
financeiro. O estouro seria traduzido pela reavaliação do preço desses
investimentos. Ou seja: se o mercado entender que os governos não têm
condições de honrar os títulos que venderam, o preço desses papéis vai
despencar, arrastando todos os outros.
Os efeitos globais dessa
desconfiança serão a queda de cerca de 50% no valor das ações em todo o
mundo; a insolvência de bancos; o desmantelamento da Zona do Euro; o
estouro das bolhas de crédito e imobiliária na China; uma crise de
capacidade de pagamento de dívidas de diversos países; a pulverização
das moedas de nações emergentes e o fim do fluxo de capitais para essas
regiões.
Brasil
Haveria vários canais de
contaminação do Brasil. O primeiro é que a China é, atualmente, nossa
maior parceira comercial, respondendo por 20% das exportações. O segundo
é que dependemos de capital externo para financiar projetos importantes
no País, como obras de infraestrutura e o pré-sal. Por isso, Miranda
afirma que os dez anos de recessão serão antecedidos por alguns sinais:
a) forte desvalorização do dólar, que pode bater em R$ 4; b) perda do
grau de investimento do Brasil; c) aumento dos juros pagos pelo Brasil
para captar dinheiro; d) forte queda no valor das ações; e) aumento do
desemprego; f) queda dos salários e deterioração dos indicadores de
distribuição de renda. “Os avanços sociais conquistados desde os anos 90
estarão em risco”, afirma, no vídeo.
Os prognósticos não são
agradáveis e já despertam críticas de militantes políticos em redes
sociais. O ponto, porém, é que, até aqui, Miranda acertou suas
projeções, apesar do terremoto que causou com “O Fim do Brasil”. Em
junho do ano passado, quando o publicou, o economista previa uma alta do
dólar para R$ 2,60, a queda do superávit primário para cerca de 1% do
PIB e um crescimento da economia da ordem de 1,3% para 2014. A
realidade, porém, mostrou-se bem mais sombria: a moeda americana fechou
cotada a R$ 3,246 nesta segunda-feira 16. As contas do governo fecharam
com um rombo (déficit primário) de 0,63%, o primeiro em mais de dez
anos; e já há quem projete uma queda do PIB do ano passado, a ser
divulgado no fim de março.
Em entrevista à DINHEIRO, em janeiro,
Miranda afirmou que a deterioração do cenário “foi pior do que
imaginava”. Antigamente, dizia-se que um resfriado na economia global
gerava uma pneumonia no Brasil. Com a economia enfraquecida, o risco de
cair de cama novamente está cada vez maior. Diante da nova previsão de
uma década perdida, a maior preocupação é de que, novamente, a realidade
seja pior do que as estimativas.
Fonte: Isto É Dinheiro
Por Márcio JULIBONI
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