GLOBALIZAÇÃO E MUNDO
CONTEMPORÂNEO
O ponta-pé inicial à globalização
ocorreu quando da revolução marítimo-comercial, com a descoberta de novas
terras além fronteiras do velho mundo, mas a dinâmica extraordinária no fomento
a uma “aldeia global” teve sua gênese a partir do que ficou decidido em reunião
de cúpula acontecida no ano de 1944 em Bretton Woods, subúrbio d Washington D.
C. – E.U.A.
Mudança do padrão-ouro para o
padrão-dólar norte-americano e ênfase á expansão do capital industrial até
então majoritariamente concentrado no primeiro mundo para espaços
selecionadíssimos do terceiro mundo tornaram-0se elos importantes da nova ordem
econômica global pós-segunda guerra mundial.
Evitar outro colapso
econômico-financeiro catastrófico igual ao verificado em 1929, quando da quebra
da bolsa de valores de Nova York, negociadora de commodities, fundamentou as
ousadas decisões referendadas pelo capitalismo implementado no mundo
desenvolvido ávido por maximização de lucros e minimização de custos.
A geografia teorético-quantitativa
surgiu nessa época com a missão de equacionar o espaço, transformando-o em uma
planície isotrópica com sua respectiva representação matricial a fim de
garantir a consolidação dos interesses das empresas transnacionais que passaram
a exercer papel fundamental na fase que foi inaugurada depois do segundo
conflito global.
O Keynesianismo evitou o
recrudescimento dos efeitos da crise de 1929, sobretudo com relação aos
agregados macroeconômicos, entre os quais encontrava-se a preocupação com a
geração de emprego e renda em áreas deprimidas, como o Vale do Tennesse, sul
dos E.U.A., mas para corroborar os interesses dos grandes empreendimentos
industriais precisava-se ressuscitar a base da economia clássica Smithiana,
motivo pelo qual o economista austríaco Hayek lançou os princípios do
neoliberalismo.
Em alguns países periféricos, em
razão de certas impossibilidades fomentadas pelas crises cíclicas e pelo
conflito mundial, havia experiências históricas ímpares, como no Brasil, na
Argentina e na Turquia, movidas pela intervenção do Estado em buscar alicerçar
o desenvolvimento capitalista autóctone, embora tardio.
Alguns espaços elencados para receber filiais de rede produtivas interligadas à nova ordem econômica mundial viviam momentos de convulsão libertária, como era o caso do Vietnã, dividido em norte e sul conforme áreas de influências. Não satisfeitos com o resultado obtido com a partilha, o capital transnacional e seu suporte geopolítico, compreendido pela política externa norte-americana que ficou conhecida por Big Stick, responsabilizaram-se por um dos maiores massacres pós-segunda guerra mundial.
A proposta de globalização
capitaneada pelos EUA teve recuos durante décadas, em boa parte do século XX,
devido a forma como se comportou a guerra fria, marcada pelas disputas por
áreas de influência entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética.
Mas quando da derrocada do
socialismo real no leste europeu o campo de atuação e de intervenção do
capitalismo tornou-se extenso e promissor, pois a incorporação de mercados e
reopção pelo antigo modelo, caso exemplificado pela reunificação da Alemanha.
Em consonância com o aceno ao
desaparecimento dos entraves que inibiam a plena atuação do capitalismo
globalizado no planeta, contestado pelos valores e ótica socialistas, começam a
ressoar as manifestações de antigos “aliados”, insatisfeitos com a indiferença do
capital sobretudo com relação à cultura milenar que surgiu nos desertos das
arábias.
O surgimento de redes terroristas
radicais calcadas no fundamentalismo islâmico culminou com atos extremamente
marcantes no início do século XXI, a exemplo das explosões das torres gêmeas.
Conflitos no oriente médio são
alimentados e financiados pela globalização. A vida humana vale menos que o
ouro negro que se esconde pelas profundezas cretáceas das terras sagradas do
islã.
A idéia de maximização de lucros e
minimização de custos permeia o ideário das grandes empresas transnacionais,
pois se nos determos na montagem de um automóvel, à guisa de exemplo, observaremos
o que significa em teses menores a globalização. Peças são adquiridas nos mais
remotos e distantes lugares do planeta por que apresentam preços mais acessíveis
que, através das vantagens permitidas com as redes de informação, garantem o
sucesso da proposta global, a qual tanto exclui como inclui, tanto define como
redefine, tanto seleciona como marginaliza.
Tendência quase inevitável na era
da globalização é a tentativa de alguns países se organizarem em blocos
econômicos, intuindo concorrer com a apoteótica e extraordinária performance
apresentadas pelos EUA, cujo PIB trilionário demonstra bem que manda no
planeta.
A mais espetacular experiência de
busca pela integração regional no planeta observa-se através da concretização
da sonhada União Européia, cujo carro-chefe econômico encontra-se no domínio
alemão, principal expoente econômico europeu.
Não obstante inúmeras vantagens auferidas
ao longo das décadas que marcam a proposta de integração européia, problemas
vem sendo constatados no presente em razão da ineficiência econômica demonstrada
por diversos países-membros.
Previsões apocalípticas feitas há
mais de sessenta anos tornam-se verdadeiras. A fome, denunciada intensamente
pelo médico e geógrafo brasileiro Josué de Castro, vem invadindo o próprio
primeiro mundo, berço da proposta de integração global. A desnutrição crônica
deixou de ser exclusiva da periferia para integrar de forma indelével as
paisagens socais em todo planeta.
A importância do capital natural é
subestimada à exaustão, pois o fundamentalismo está concentrado no consumo,
conforme oportuna afirmação do geógrafo Milton Santos, único ser humano nascido
abaixo do equador, até o presente momento, a ganhar o Prêmio Vautrin Lud,
considerado o Nobel da Geografia.
A natureza agredida reage
violentamente, embora avisos expedidos por conceituados ambientalistas não
estejam sendo atendidos enquanto condição necessária à salvaguarda do próprio
gênero humano no planeta.
A timidez ainda é constante quando o
assunto diz respeito às reuniões internacionais visando dimensionar a
importância da preservação ecológica. Interesses sobrepõem-se acintosamente em
detrimento da melhoria da qualidade de vida da população como um todo.
Biodiversidade e emissão de gases poluentes se constituíram, desde a década de
noventa, no grande desafio à conscientização dos países ricos sobre assuntos
ambientais.
A produção de bens e a oferta de
serviços em larguíssimas escalas estão se responsabilizando por notável avanço
para a comodidade de certa parcela do gênero humano, mas a forma como a
intervenção na natureza vem sendo efetivada deixa incertezas quanto ao sucesso
a curto ou médio prazo dessa ousada etapa da história da humanidade.
*José Romero Araújo
Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto IV do Departamento de Geografia da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN.
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