sábado, 21 de julho de 2012

Por José Romero Araújo Cardoso*



JOÃO PEDRO TEIXEIRA E A LUTA

PELA REFORMA AGRÁRIA


Quando dos turbulentos anos sessenta do século passado sobressaiu-se entre os canaviais da várzea do Paraíba a figura mitológica de um camponês semi-analfabeto que ousou bradar pela reforma agrária enquanto sinônimo de melhoria da qualidade de vida de um povo submetido ao descalabro semi-servil do cambão, inserido na época em relações pré-capitalistas que incluíam a parceira e o foro.

João Pedro Teixeira e sua esposa Elisabete catalisaram os interesses da população campesina que não agüentava mais a violência do latifúndio enquanto forma de afirmar interesses secularmente atrelados à questão da posse da terra, sobretudo em uma área extremamente fértil que vem sustentando há quase quinhentos anos a monocultura açucareira de forma imperialista.

Os princípios que nortearam a luta de João Pedro Teixeira podem ser classificados como louváveis, pois, não obstante as propostas e as tentativas de suborno por parte dos donos do poder, nunca ousou abandonar a bandeira que ergueu em prol da reforma agrária, visando contribuir para o fim da escravidão moral que tornava a vida dos seus semelhantes indigna a cada dia que se passava, tendo em vista que a truculência do latifúndio em incorporar terras marginais aos grandes notabilizava a forma como a modernização no campo vinha sendo implementada naqueles anos de contestação.

Para o latifúndio a eliminação física de João Pedro Teixeira foi a saída para fazer valer os seus propósitos de ordem e progresso. Quando retornava de encontro com advogado das ligas camponeses em João Pessoa/PB, o líder camponês tombou morto no dia dois de abril de 1962 na estrada de Café do Vento.

Mortalmente atingido por descargas dos capangas do latifúndio, João Pedro Teixeira trazia material escolar para os filhos, tentativa heróica de buscar futuro melhor para sua descendência a partir da ênfase à educação.

A luta pela reforma agrária encampada por João Pedro Teixeira não passou despercebida aos membros do Centro Popular de Cultura da UNE. Liderados pelo cineasta Eduardo Coutinho, a equipe tentou filmar a saga campesina em diversos momentos que antecederam a deflagração do golpe militar de primeiro de abril de 1964. 

As sequências de “Cabra marcado para Morrer” estavam sendo rodadas no engenho Galiléia, localizado no município pernambucano de Vitória de Santo Antão/PE,  palco da primeira experiência de ligas camponesas, quando os militares eclodiram o movimento armado que depôs o presidente constitucional João Goulart, implantando a ditadura que perduraria até 1985.

Símbolo da luta pela terra, João Pedro Teixeira marcou de forma proeminente o acirramento dos protestos contra a dominação latifundiária que ainda subjuga boa parte da população brasileira aos ditames do processo de formação sócio-econômica do País, o qual não teve nenhuma modificação desde a doação de sesmarias há tempos imemoriais.

(*) José Romero Araújo Cardoso é Geógrafo e Professor-adjunto da UERN.



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