segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Por Alexandre de Albuquerque Maranhão*



91 ANOS DE LUIZ MARANHÃO
 
 

De enorme energia revolucionária, tinha a perfeita compreensão dos riscos de sua intensa atividade política. Jamais se curvou ao endurecimento do regime militar acorrido no final da década de 1960 e os primeiros anos da década seguinte. Assim era Luiz Ignácio Maranhão Filho: ousado, coerente, digno, corajoso e ético. Derrotar o regime autoritário e substituí-lo por um Estado Democrático de Direito, com participação popular era o objetivo maior desse mártir do povo brasileiro, nascido em Natal, no dia 25 de janeiro de 1921.

Sua incansável militância e a perseguição política sofrida durante grande parte de sua vida, levou-o à clandestinidade. Não teve o prazer, e o direito sequer de viver normalmente com sua esposa Odette Roselli Garcia Maranhão, com quem casara em 10/02/1956. A intolerância, a truculência e o autoritarismo dos agentes da ditadura os deixaram separados.

Luiz Maranhão foi um homem massacrado por ter ideais humanistas e de solidariedade. Costumava dizer que “haverá uma fase da História em que ninguém irá dormir com fome. E que o ódio existirá, mas não será prevalecido. O ódio estará derrotado". Mas os torturadores de plantão não pensavam dessa forma, o vigiava constantemente. Ele vivia e trabalhava como se nunca tivesse passado pelos tormentos mais espantosos em sua vida de político de conduta séria, honesta, dinâmica e exemplar.

Todavia, na medida em que, ele intensificava a defesa do diálogo; da livre expressão de pensamento e de opinião; dos valores éticos, demo-cráticos e libertários; da convivência pacífica entre pessoas de pensamentos diferentes, era perseguido de forma impiedosa  pelos seus algozes. Contudo, Luiz Maranhão continuava a seguir no sentido oposto do poder reacionário e dominante. Apostava incondicionalmente que um outro mundo seria possível: o do respeito às diferenças, o de não querer dar o troco na moeda do fascismo e não guardar mágoa de seus perseguidores e torturadores.

Em 1951, foi morar em Recife e trabalhar no jornal A Folha do Povo. No dia 4 de dezembro de 1952, na Rua Imperial, foi sequestrado por uma patrulha da Aeronáutica comandada pelo tenente Ney Noronha. Algemado, foi transportado para Natal, onde ficou preso numa cela-túmulo da Base Aérea, em Parnamirim. Incomunicável, foi torturado durante quinze dias na presença do Coronel Honório Ferraz Koeller, que exigia “explicações" sobre várias reportagens publicadas no referido jornal, sobre torturas a presos políticos naquela base militar. No início de 1953, com mais outros 28 presos políticos civis e milita res, entre eles, o médico Vulpiano Cavalcanti, foi transferido para a Casa de Detenção do Recife, para aguardar o julgamento. Após 8 meses e 9 dias de cárcere e várias sessões de torturas, foi posto em liberdade. O Superior Tribunal Militar (STM) entendeu que "...havia falta de provas da incidência dos réus em crimes previstos na lei penal militar..."

Início da década de 1960: a disputa política foi bastante acirrada. A conspiração dos setores conservadores era evidente contra a participação popular, a democratização e contra um governo que defendia reformas estruturais na sociedade. Nesse cenário, eclode o golpe de Estado em 1964.

Mais uma vez, Luiz Maranhão foi vítima do autoritarismo e da truculência: em 10 de abril daquele ano, foi preso e levado para o Regimento de Obuses (RO), onde sofreu seguidas sessões de tortura. Na madrugada de 21 de agosto, foi retirado da prisão e levado para a Ilha de Fernando de Noronha. No final de outubro foi libertado, através da concessão de habeas-corpus.

A cada dia tornava-se mais dramático prosseguir com o trabalho político. Em 27 de março de 1974, na cidade de São Paulo, após uma conversa, que não durara mais de dez minutos com Hércules Corrêa, dirigente do PCB, Luiz Maranhão, o confidenciou que estava sentindo-se ameaçado, prestes a “cair" nas mãos das forças repressoras do regime. Ao deixar a companhia do companheiro de partido, Luiz Maranhão nunca mais foi visto. Assim como ele, sem deixar pistas, desapareceram dez dirigentes do PCB nos meses seguintes.

Coincidentemente, no mesmo dia em que se encontrara com Hércules Corrêa pela última vez, em 27 de março de 1974, o Superior Tribunal Militar, por maioria de votos, confirmava a absolvição de Luiz Maranhão.

* Alexandre Albuquerque Maranhão é Historiador


Publicado na Tribuna do Norte em 22/1/2012



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