terça-feira, 13 de setembro de 2011

POR JOSÉ ROMERO*



NOTAS SOBRE OS 100 ANOS DO 

"PACTO DOS CORONÉIS"


Há cem anos, mais precismanete no dia quatro de outubro de 1911, era assinado na então Vila de Joazeiro, a qual foi desmembrada do município do Crato na ocasião, acordo firmado entre a classe dominante do sul cearense.

Instigado pelo "Major" Floro Bartholomeu da Costa, o "pacto dos Coronéis"  tinha inúmeros objetivos, encontrando entre esses buscar cimentar a coesão entre os mandatários da região do Araripe.

Médico baiano chegado em 1908 ao Joazeiro, na companhia de um pretenso Conde, o engenheiro franco-belga Adolphe Achille van den Brule, Dr. Floro havia caído nas Graças do Padre Cícero Romão Batista quando resolveu à bala o litígio da mina de cobre do Coxá, localizada no município de Aurora (CE), a qual achava-se em disputa entre o pároco que protagonizou com a beata Maria de Araújo o "milagre da hóstia" e o "Coronel" Antônio Luiz Alves Pequeno, chefe político do Crato (CE) e filho do padrinho e protetor do mais importante vigário Joazeirense.

Dr. Floro se tornou a expressão maior da política conturbada do sul do Ceará, tendo se aproximado das maiores expressões do mandonismo local da sociedade sertaneja agropastoril, bem como, com ênfase, da oligarquia Accyoli que dominava o Ceará com mão de ferro.

Era algo comum as deposições políticas na região compreendida pelo domínio da chapada do Araripe no Estado do Ceará. Determinado chefe político do município X, muitas vezes apoiados por outros potentados locais, arregimentava em poucas horas centenas de jagunços e buscavam derrubar adversário, ou adversários, que dominava município Y. As contendas faziam parte do cotidiano violento do sul do Ceará. O fabuloso legado lítero-cultural do saudoso professor Joaryvar Macedo enfocou diversos momentos dessa prática rotineira que existiu na porção meridional cearense. Há destaque para opúsculo intitulado "Império do Bacamarte".

O "pacto dos Coronéis" buscou, sem muito sucesso, apaziguar os ânimos exaltados dos senhores de baraço e cutelo que dominavam historicamente o oásis fértil do cariri cearense. A prática das lutas intercoronelísticas, talvez herança da idade média, integrava de forma enfática a paisagem da refião.

Diversos clãs se digladiaram pelo poder, a exemplo da luta envolvendo a família Augusto Lima, ocasião que a matriarca Fideralina se aliou ao filho Gustavo para derrubar outro rebento de sua prole, de nome Honório Augusto Lima, da chefia política de Lavras da Mangabeira.

A assinatura do "Pacto dos Coronéis" não conseguiu controlar a conjuntura agitada dos anos dez do século passado na fértil região do Araripe Cearense , mas firmou coesão dos chefes políticos em abalizar incondicional apoio à oligarquia Acyoli e ao Dr. Antônio Pinto, pois indispensável quando da restituição deste à chefia política suprema do Estado do Ceará, o "Pacto dos Coronéis" selou eficientemente os laços de vassalagem dos mandatários políticos da região sul cearense com o expoente maior dos termos de compromisso que alicerçaram a República Velha no Brasil.

* José Romero Araújo Cardoso, geógrafo, professor-adjunto do Departamento de Geografia da UERN. 



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