SÓ A POLÍTICA SALVA A ECONOMIA
É um
fato, estamos sem governança efetiva há alguns meses. Um economista
marciano desembarcado hoje no Brasil concluiria, talvez apressadamente,
que não ter governança efetiva parece preferível a tê-la.
Nos últimos três meses, os indicadores financeiros mais
visíveis e voláteis deram sinais animadores. A Bovespa subiu 34%, o
câmbio ajustou-se e caiu 12%, e os Credit Default Swap, uma medida do
risco-Brasil, caiu 30%.
Quando encontrasse um colega terráqueo, seria surpreendido
com trágicas informações físicas. A estimativa do PIB anual, com base
no quarto trimestre de 2015 sobre seu homólogo de 2014, mostra que ele
caiu 6% e somamos, ao já elevado estoque de desempregados, mais de 2
milhões de cidadãos!
As finanças públicas estão arrasadas, espera-se um déficit
fiscal da ordem de 10% do PIB e a continuação da perversa dinâmica da
relação entre a dívida bruta e o PIB. Como conciliar dois blocos de
informações tão díspares? Nosso economista aprendeu em Marte que as
“expectativas” costumam antecipar os “fatos”. Por que essa esperança
pode materializar-se?
Talvez porque Michel Temer, o vice-presidente eleito com os mesmos 54 milhões de votos de Dilma, promete que, se o impeachment passar e ele tomar posse, proporá ao País um novo programa. No fundo, uma intersecção de diagnósticos razoáveis:
1. Restabelecer as condições do equilíbrio fiscal estrutural.
2. Dar maior flexibilidade à execução do orçamento submetido ao escrutínio da relação custo-benefício de cada programa.
3. Estimular o investimento público com projetos realistas e submetidos a leilões bem-feitos.
4. Apoiar o investimento privado por meio de regulação efetiva da concorrência.
5. Estimular o entendimento dentro das empresas, entre
trabalhadores e empresários, para que, sob a vigilância dos sindicatos e
respeitados todos os direitos constitucionais das duas partes,
encontrem livremente a melhor acomodação dos seus interesses.
6. Um conjunto de pequenas medidas administrativas,
fiscais e monetárias que, se bem coordenadas, produzirão grandes efeitos
sobre a produtividade geral.
É preciso insistir. Trata-se,
apenas, de medidas que resultam de um quase consenso entre as pessoas de
bom senso! Não objetivam reduzir direitos adquiridos e, muito menos, os
programas de inclusão social, fundamentais para construir a igualdade
de oportunidades para todos, ou seja, tornar o destino de cada um menos
dependente do local em que nasceu.
Trata-se de proteger, realmente, os mais necessitados e
não o esperto corporativismo de classe média que parasita tais
programas. Trata-se, principalmente, de reduzir a espantosa ineficiência
da administração da Educação e da Saúde nos três níveis de governo.
Na eventualidade de assumir o poder, Temer precisa estar
preparado e ter condições de honrá-lo. Como ele mesmo tem afirmado, não
existe, felizmente, nenhuma divergência importante de diagnóstico de
nossos problemas e, muito menos, escassez de talentos para resolvê-los. O
que falta? A construção de uma sólida maioria no Congresso Nacional
para executá-lo.
Esse não é um problema técnico, onde um economista talvez
levasse vantagem. Trata-se de um problema político. Quem aprendeu a
fazer tricô com quatro agulhas, dos quais Temer é um sobrevivente, tem
enormes vantagens comparativas e pode criar as condições para salvar o
economista!
A construção preliminar de uma coalizão política é
condição “necessária” para alcançar o sucesso. A condição “suficiente”
só será obtida se ele continuar a fazer política 24 horas por dia para
dar eficiência à equipe que está construindo.
Se for o caso, Temer poderá ter sucesso, porque
compreendeu isso. Saberá que o dedo do destino lhe deu a oportunidade
rara de se alçar do que é hoje, um político eficaz, à condição de
estadista. Saberá que não tem mais passado.
A história o avaliará pelo que souber e puder fazer no
futuro. Terá a chance de coordenar os partidos da nova coalizão na
retomada do caminho da construção da sociedade civilizada, onde a busca
da igualdade de oportunidades dentro da liberdade é o valor supremo.
Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto
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