quarta-feira, 11 de maio de 2016

SÓ A POLÍTICA SALVA A ECONOMIA
É um fato, estamos sem governança efetiva há alguns meses. Um economista marciano desembarcado hoje no Brasil concluiria, talvez apressadamente, que não ter governança efetiva parece preferível a tê-la.

Nos últimos três meses, os indicadores financeiros mais visíveis e voláteis deram sinais animadores. A Bovespa subiu 34%, o câmbio ajustou-se e caiu 12%, e os Credit Default Swap, uma medida do risco-Brasil, caiu 30%.

Quando encontrasse um colega terráqueo, seria surpreendido com trágicas informações físicas. A estimativa do PIB anual, com base no quarto trimestre de 2015 sobre seu homólogo de 2014, mostra que ele caiu 6% e somamos, ao já elevado estoque de desempregados, mais de 2 milhões de cidadãos!

As finanças públicas estão arrasadas, espera-se um déficit fiscal da ordem de 10% do PIB e a continuação da perversa dinâmica da relação entre a dívida bruta e o PIB. Como conciliar dois blocos de informações tão díspares? Nosso economista aprendeu em Marte que as “expectativas” costumam antecipar os “fatos”. Por que essa esperança pode materializar-se? 

Talvez porque Michel Temer, o vice-presidente eleito com os mesmos 54 milhões de votos de Dilma, promete que, se o impeachment passar e ele tomar posse, proporá ao País um novo programa. No fundo, uma intersecção de diagnósticos razoáveis:

1. Restabelecer as condições do equilíbrio fiscal estrutural.

2. Dar maior flexibilidade à execução do orçamento submetido ao escrutínio da relação custo-benefício de cada programa.

3. Estimular o investimento público com projetos realistas e submetidos a leilões bem-feitos.

4. Apoiar o investimento privado por meio de regulação efetiva da concorrência.

5. Estimular o entendimento dentro das empresas, entre trabalhadores e empresários, para que, sob a vigilância dos sindicatos e respeitados todos os direitos constitucionais das duas partes, encontrem livremente a melhor acomodação dos seus interesses.

6. Um conjunto de pequenas medidas administrativas, fiscais e monetárias que, se bem coordenadas, produzirão grandes efeitos sobre a produtividade geral. 

É preciso insistir. Trata-se, apenas, de medidas que resultam de um quase consenso entre as pessoas de bom senso! Não objetivam reduzir direitos adquiridos e, muito menos, os programas de inclusão social, fundamentais para construir a igualdade de oportunidades para todos, ou seja, tornar o destino de cada um menos dependente do local em que nasceu.

Trata-se de proteger, realmente, os mais necessitados e não o esperto corporativismo de classe média que parasita tais programas. Trata-se, principalmente, de reduzir a espantosa ineficiência da administração da Educação e da Saúde nos três níveis de governo.

Na eventualidade de assumir o poder, Temer precisa estar preparado e ter condições de honrá-lo. Como ele mesmo tem afirmado, não existe, felizmente, nenhuma divergência importante de diagnóstico de nossos problemas e, muito menos, escassez de talentos para resolvê-los. O que falta? A construção de uma sólida maioria no Congresso Nacional para executá-lo.

Esse não é um problema técnico, onde um economista talvez levasse vantagem. Trata-se de um problema político. Quem aprendeu a fazer tricô com quatro agulhas, dos quais Temer é um sobrevivente, tem enormes vantagens comparativas e pode criar as condições para salvar o economista!

A construção preliminar de uma coalizão política é condição “necessária” para alcançar o sucesso. A condição “suficiente” só será obtida se ele continuar a fazer política 24 horas por dia para dar eficiência à equipe que está construindo.

Se for o caso, Temer poderá ter sucesso, porque compreendeu isso. Saberá que o dedo do destino lhe deu a oportunidade rara de se alçar do que é hoje, um político eficaz, à condição de estadista. Saberá que não tem mais passado.

A história o avaliará pelo que souber e puder fazer no futuro. Terá a chance de coordenar os partidos da nova coalizão na retomada do caminho da construção da sociedade civilizada, onde a busca da igualdade de oportunidades dentro da liberdade é o valor supremo.

Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto 
 

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