ANÁLISE: AINDA HÁ ESPAÇO PARA
DÓLAR CAIR E BOLSA SUBIR
COM IMPEACHMENT
(Bloomberg) -- A ida de Henrique Meirelles para o ministério da
Fazenda, dada como certa pelos jornais no caso de confirmação do
impeachment da presidente Dilma, tem ajudado a valorizar o real e o
Ibovespa.
A principal dúvida parece ser se o otimismo com a
mudança política já foi precificado ou se o mercado ainda tem espaço
para andar. O ponto de consenso entre os analistas é que o fator
decisivo será a capacidade de o novo governo implementar as reformas
prometidas.
"Se o novo governo fizer tudo o que tem sido falado,
o espaço para melhora (do mercado) é grande", diz Rodrigo Borges, chefe
de renda fixa na Franklin Templeton Invest Brasil. O governo quer dar
um "choque de confiança no mercado" com as reformas da Previdência e
trabalhista e a desvinculação do reajuste do salário mínimo, diz Borges.
"O discurso é música para os ouvidos. Depende de o governo entregar."
O traquejo político de Meirelles pode ser importante na aprovação de
medidas no Congresso, diz Borges. Para ele, agradam ainda ao mercado as
notícias de que o novo ministro terá peso na indicação de outros nomes
da equipe econômica. "É preciso ter coesão, pois o barco anda melhor
quando todos remam para o mesmo lado."
Mesmo após a confirmação
do impeachment e o encaminhamento das reformas, o executivo da Templeton
observa que as perspectivas podem variar de acordo com os ativos. No
caso do câmbio, por exemplo, a valorização do real pode ser suavizada
pelo BC por meio de leilões de swap reverso.
Em entrevista à TV
Bloomberg, o presidente do conselho da Templeton, Mark Mobius, disse que
o impeachment ainda não foi totalmente precificado e destacou o
potencial de ganho das ações brasileiras.
"Estamos adicionando
dinheiro no Brasil", disse o investidor. "Se você olhar para onde
caminhamos, em comparação com as altas anteriores, notará que há um
longo caminho a percorrer. Talvez mais 100% a 200%."
Dólar caiu com Meirelles no BC
Entre 2003 e 2010, quando Meirelles comandou pelo BC, o dólar caiu 54%,
de R$ 3,54 para R$ 1,66. Na mínima, a moeda americana chegou a R$ 1,56,
com o mercado otimista pelo fato de o então presidente Lula ter mantido
a política econômica herdada de FHC e também graças ao cenário externo,
que era mais positivo.
Hoje, o quadro externo é mais incerto e "não dá para imaginar o dólar
voltando àqueles níveis", diz Matheus Gallina, operador de renda fixa da
Quantitas Gestão de Recursos.
Ele lembra ainda que o desempenho
da economia "não é confortável", o que não recomenda uma maior
valorização do real. O estoque grande de swaps que o BC ainda precisa
reverter também pode limitar a queda do dólar, diz o operador.
Gallina, porém, considera possível um dólar um pouco mais baixo do que o
nível atual, entre R$ 3 e R$ 3,50, no caso de as perspectivas atuais
mais positivas sobre as mudanças no governo se confirmarem. "O ganho de
credibilidade de uma nova equipe econômica pode deixar o investidor mais
confortável em trazer recursos para o Brasil."
Maurício Oreng,
estrategista do Banco Rabobank no Brasil, considera que a expectativa de
melhora do cenário doméstico, com arrefecimento da crise política e
aprovação de algumas reformas, pode estar bastante precificada, embora
não totalmente.
"Talvez o câmbio possa chegar a tocar um patamar
entre R$ 3,30 e R$ 3,40, mas achamos que seria algo temporário." Para
ele, um cenário externo menos favorável para as moedas de países
emergentes pode levar o dólar de volta a R$ 3,75 no segundo semestre.
Gallina, da Quantitas, considera que a nova equipe do BC tende a
mostrar um perfil ortodoxo. Enquanto para o câmbio isso pode significar
menos intervenção, para os juros o sinal poder ser de adiamento do
esperado corte de taxas previsto para o segundo semestre.
Mesmo
com as expectativas melhorando e o dólar em queda, o novo BC tenderia
adiar a queda da Selic em uma ou duas reuniões do Copom para consolidar
melhor o cenário para a inflação, diz Gallina.
Fonte: UOL Economia
Por Josué Leonel
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