É PRECISO MUDAR
Por maior que
seja o nosso respeito pela pessoa da presidenta Dilma Rousseff, é
impossível rejeitar a hipótese de que ela colhe as consequências
acumuladas dos equívocos econômicos cometidos a partir de 2012. Em 2011, fez uma excelente administração. O PIB cresceu 3,9%, o nível de desemprego
foi reduzido a 6%, o índice de desigualdade de Gini caiu, as despesas
do governo federal em relação ao PIB foram mantidas no mesmo nível da
média do quadriênio anterior. O rating soberano do Brasil foi
elevado pelas agências S&P e Moody’s, o superávit primário atingiu
2,9% do PIB, o déficit nominal do setor público chegou a 2,5% e a
relação entre a dívida bruta e o PIB caiu de 51,8% para 51,3%!
De 2012 em diante, Dilma praticou uma
política voluntarista mal projetada e pior executada. Revelou uma nova
face, a angústia curto-prazista que namora o mesmo velho populismo que
sempre dá errado no longo prazo. A intervenção no setor de energia foi
insensata, reduziu o preço aos consumidores no curto prazo sob o aplauso
da sociedade exibido nas pesquisas do Datafolha. Seu custo foi a
destruição das empresas do setor, prejuízos monumentais para o Tesouro
Nacional e o fantástico aumento de tarifa, também revelado
posteriormente pela rejeição ao governo no Datafolha.
A intervenção na taxa de juros não foi melhor, pois não deu ao Banco Central
o suporte fiscal para ampará-la. Dilma atingiu o máximo de sua
popularidade de curto prazo quando estava no máximo de seus erros de
longo prazo. Os futuros mandatários deveriam recolher esta lição: o
apoio que o intervencionismo insensato obtém no curto prazo, revelado
nas pesquisas de opinião, é apenas a antecipação da rejeição que nelas
colherão no longo prazo.
Para qualquer observador imparcial, era
evidente que Dilma tinha pouca probabilidade de ser reeleita.
Incorporando a ideia de que o primeiro dever do governo é continuar
governo, ela decidiu convocar o “Diabo”! Seus marqueteiros
competentemente superaram tudo que se havia visto até então em campanhas
eleitorais, na falta de respeito à verdade e na desqualificação dos
adversários. Seu primeiro ato depois de reeleita deixou perplexos seus
eleitores. Escolheu, sem ao menos dar-lhes alguma satisfação, o programa
econômico do adversário que havia demonizado! Para executá-lo, chamou
um competente economista cuja concepção do mundo é antípoda à do partido
que a sustenta, quando lhe é conveniente.
Foi instantaneamente abandonada pela maioria dos que nela haviam depositado a sua confiança. Enfraquecida e sem credibilidade,
decidiu promover uma guerra com a Câmara dos Deputados, na tentativa de
intervir na eleição do seu presidente. Fracassou. A combinação das
tolices econômicas com a absoluta indisposição para o exercício da
política tirou-lhe todo o protagonismo. Na sua ida ao Congresso, na
abertura dos trabalhos de 2016, perdeu sua última oportunidade de
recuperá-lo. Em lugar de levar propostas concretas para as necessárias
mudanças constitucionais e pôr o Congresso a trabalhar, preferiu
prometê-las. No País de São Tomé, ninguém a levou a sério.
A situação é muito grave. Entre o último
trimestre de 2014 e o mesmo período de 2015, o PIB caiu 6%, o desemprego
atingiu 11 milhões de trabalhadores, o déficit do setor público ameaça
repetir os 10% do PIB de 2015 e o déficit primário caminha para 2% do
PIB. Pior, a relação dívida bruta reforçou sua dinâmica preocupante e de
57% do PIB no fim de 2014 ameaça atingir 74% em 2016 e, se nada mudar,
talvez 80% em 2017.
Essa é, talvez, a principal razão pela
qual as agências vêm rebaixando a nota soberana brasileira numa rapidez
preocupante. A Fitch, a mais paciente com o Brasil, não quis perder a
corrida e nos tirou no dia 5 de maio mais um grau no mundo especulativo
em que já estamos, igualando-se à S&P e à Moody’s.
Não é provável que o governo possa recuperar o seu protagonismo
e dar à sociedade alguma esperança. Nada é mais significativo do que a
fria recepção ao excelente Plano Safra 2016-2017, da competente ministra
Kátia Abreu. Infelizmente, é preciso mudar.
Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto
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