quarta-feira, 25 de maio de 2016

 É PRECISO MUDAR
Por maior que seja o nosso respeito pela pessoa da presidenta Dilma Rousseff, é impossível rejeitar a hipótese de que ela colhe as consequências acumuladas dos equívocos econômicos cometidos a partir de 2012. Em 2011, fez uma excelente administração. O PIB cresceu 3,9%, o nível de desemprego foi reduzido a 6%, o índice de desigualdade de Gini caiu, as despesas do governo federal em relação ao PIB foram mantidas no mesmo nível da média do quadriênio anterior. O rating soberano do Brasil foi elevado pelas agências S&P e Moody’s, o superávit primário atingiu 2,9% do PIB, o déficit nominal do setor público chegou a 2,5% e a relação entre a dívida bruta e o PIB caiu de 51,8% para 51,3%!

De 2012 em diante, Dilma praticou uma política voluntarista mal projetada e pior executada. Revelou uma nova face, a angústia curto-prazista que namora o mesmo velho populismo que sempre dá errado no longo prazo. A intervenção no setor de energia foi insensata, reduziu o preço aos consumidores no curto prazo sob o aplauso da sociedade exibido nas pesquisas do Datafolha. Seu custo foi a destruição das empresas do setor, prejuízos monumentais para o Tesouro Nacional e o fantástico aumento de tarifa, também revelado posteriormente pela rejeição ao governo no Datafolha.

A intervenção na taxa de juros não foi melhor, pois não deu ao Banco Central o suporte fiscal para ampará-la. Dilma atingiu o máximo de sua popularidade de curto prazo quando estava no máximo de seus erros de longo prazo. Os futuros mandatários deveriam recolher esta lição: o apoio que o intervencionismo insensato obtém no curto prazo, revelado nas pesquisas de opinião, é apenas a antecipação da rejeição que nelas colherão no longo prazo.

Para qualquer observador imparcial, era evidente que Dilma tinha pouca probabilidade de ser reeleita. Incorporando a ideia de que o primeiro dever do governo é continuar governo, ela decidiu convocar o “Diabo”! Seus marqueteiros competentemente superaram tudo que se havia visto até então em campanhas eleitorais, na falta de respeito à verdade e na desqualificação dos adversários. Seu primeiro ato depois de reeleita deixou perplexos seus eleitores. Escolheu, sem ao menos dar-lhes alguma satisfação, o programa econômico do adversário que havia demonizado! Para executá-lo, chamou um competente economista cuja concepção do mundo é antípoda à do partido que a sustenta, quando lhe é conveniente.

Foi instantaneamente abandonada pela maioria dos que nela haviam depositado a sua confiança. Enfraquecida e sem credibilidade, decidiu promover uma guerra com a Câmara dos Deputados, na tentativa de intervir na eleição do seu presidente. Fracassou. A combinação das tolices econômicas com a absoluta indisposição para o exercício da política tirou-lhe todo o protagonismo. Na sua ida ao Congresso, na abertura dos trabalhos de 2016, perdeu sua última oportunidade de recuperá-lo. Em lugar de levar propostas concretas para as necessárias mudanças constitucionais e pôr o Congresso a trabalhar, preferiu prometê-las. No País de São Tomé, ninguém a levou a sério.

A situação é muito grave. Entre o último trimestre de 2014 e o mesmo período de 2015, o PIB caiu 6%, o desemprego atingiu 11 milhões de trabalhadores, o déficit do setor público ameaça repetir os 10% do PIB de 2015 e o déficit primário caminha para 2% do PIB. Pior, a relação dívida bruta reforçou sua dinâmica preocupante e de 57% do PIB no fim de 2014 ameaça atingir 74% em 2016 e, se nada mudar, talvez 80% em 2017.

Essa é, talvez, a principal razão pela qual as agências vêm rebaixando a nota soberana brasileira numa rapidez preocupante. A Fitch, a mais paciente com o Brasil, não quis perder a corrida e nos tirou no dia 5 de maio mais um grau no mundo especulativo em que já estamos, igualando-se à S&P e à Moody’s.

Não é provável que o governo possa recuperar o seu protagonismo e dar à sociedade alguma esperança. Nada é mais significativo do que a fria recepção ao excelente Plano Safra 2016-2017, da competente ministra Kátia Abreu. Infelizmente, é preciso mudar. 

Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto 
 

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