TERCEIRIZAÇÃO, MAIS UMA PALAVRA
Trabalho com Recursos Humanos desde 1970, contabilizando 45 anos atuando e observando a evolução de nossas relações trabalhistas no Brasil. Nos anos de 1970, não havia mão de obra temporária, então trabalhávamos com mão de obra sazonal.
Trabalhei numa empresa que tinha produtos demandados apenas numa
época do ano. Desta forma, dois terços dos recursos humanos da empresa
(mão-de-obra para produção e para manutenção) eram constituídos de mão
de obra sazonal. Como recrutador da empresa, admitia cerca de mil
funcionários por ano, para demiti-los em seguida, uma vez terminada a
fase de produção ou de manutenção.
Como esta empresa, encontramos cidades e/ou regiões onde a economia
gira em torno de eventos, feiras, turismo ou algo que o valha, onde
sempre se necessita recrutar mão de obra para atender determinada
demanda naquele determinado momento. Vamos nos lembrar de que vivíamos
os anos de 1970, quando o País crescia a taxas médias de 10% ao ano. Um
crescimento compatível ao chinês de agora.
Sofríamos terrivelmente pela falta de pessoas capazes. Era um leilão
absurdo de mão-de-obra. Lembro-me de que em uma semana admiti 126
pessoas para perdê-las no mesmo mês. E eu não tinha como recorrer a uma
empresa especializada em mão de obra terceirizada. Se não tínhamos nem a
lei de “partimes”, imagine a lei sobre “terceirizados”, pauta somente
agora no congresso nacional. Importante lembrar de que atualmente temos
algo próximo de 12 milhões de brasileiros sendo terceirizados no país
sem respaldo legal.
O Brasil mudou muito desde então. E o mundo inteiro também mudou e
sempre na nossa frente. Nossas leis e as leis mundiais evoluíram, em
especial nos países desenvolvidos, os tais chamados de primeiro mundo.
Nesses países encontram-se empresas especializadas em mão-de-obra terceirizada. E aqui vou trazer à tona alguns números essenciais para tornarmos interessante e útil nossa conversa.
O mercado de seleção consultiva de executivos (cobra na frente
parte dos honorários) fatura no globo algo próximo de US$ 15 bilhões. Se
considerarmos todo o tipo de recrutamento, incluindo os “Contractors” e o “intering management”
(mão de obra terceirizada) vamos chegar a uma cifra próxima de US$ 200
bilhões por ano, somente com honorários pagos às empresas especializadas
em recrutamento.
Se levarmos em conta ainda o custo das empresas clientes (quem
paga os honorários) em âmbito global com suas áreas de recrutamento e
seleção (custo de pessoas, instalações, processos, tecnologia etc.) o
custo total com recrutamento de pessoas chega a US$ 2 trilhões anuais.
Isso equivale ao volume de negócios que gira no globo relacionado à
indústria bélica. Então, falamos que vivenciamos neste início de século
uma terceira guerra mundial por talentos.
Chegamos ao âmago da questão. Ter empresas especializadas em
recrutamento seja para mão de obra efetiva (aquela que será registrada
na empresa cliente) em todos os níveis ou para mão de obra terceirizada
(temporária – paga por projeto ou por atividade específica), também em
todos os níveis, é altamente vantajoso para todas as partes.
A empresa especializada em recrutamento ou alocação de mão de
obra terceirizada cumpre com todas suas obrigações legais. Sabe, porque
se especializa nesse tipo de negócio, onde estão os melhores
profissionais e sua disponibilidade. Então, rapidamente (tem até
cadastro para tal) consegue suprir a demanda de uma empresa cliente com
as pessoas necessárias para operacionalizar uma determinada estratégia
de negócios.
O trabalhador não precisa ficar como um louco correndo atrás de
emprego. O emprego o procurará e o encontrará, onde quer que esteja. A
empresa cliente tem seu trabalhador colaborador a tempo e a hora. Tem
condições de se planejar com antecedência sabendo que poderá cumprir com
eficácia o seu cronograma de produção para operacionalizar as
estratégias de negócios traçadas.
O trabalhador que participar de projetos de mão de obra terceirizada
não é visto como instável no emprego, podendo concorrer sem receios para
qualquer posição em aberto em qualquer empresa. O trabalhador sendo
alocado como mão de obra terceirizada tem seu desempenho acompanhado
pela empresa cliente que poderá ou não vir a contratá-lo para posições
fixas na empresa. Se tiver um bom desempenho, sem dúvidas terá seu nome
lembrado para convites futuros para posições fixas na empresa.
A empresa contratante de mão de obra terceirizada poderá focar no seu
negócio, quando melhorará sua produtividade e aumentará a
lucratividade, revertendo para todos os colaboradores boa parte da
lucratividade adicional, na forma de aumentos salariais ou melhorias de
benefícios. Este é o caminho normal de quem joga o jogo Ganha X Ganha
(eu ganho, você ganha e todos ganham). Ganha a empresa, ganha o
trabalhador e ganha o país, porque tem sua economia rodando a pleno
vapor.
Ficaria aqui horas falando das grandes vantagens para o Brasil em
evoluir para estágio de país desenvolvido neste quesito. Se lá fora
descobriram as grandes vantagens em ter todos como cúmplices nesta
relação Trabalho X Capital, então também será bom para o Brasil. Afinal,
são US$ 200 bilhões pagos em honorários anualmente para se ter o melhor
talento. O mundo não estaria investindo todo este dinheiro se não fosse
ótimo para todos. Quem tem o melhor talento consegue ter o melhor
produto ou o melhor serviço atendendo com melhor preço a demanda da
sociedade.
Fonte: CartaCapital
Por Alfredo Assumpção
* Alfredo Assumpção é Chairman & Partner da Fesap, holding
das empresas Fesa, Asap Recruiters e Fesa Advisory.
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