COMPASSO E DESCOMPASSO
Finalmente vêm à luz as
propostas do governo pelas mudanças no esporte brasileiro. Foram
apresentadas na terça-feira aos parlamentares e, na quarta, aos clubes e
jornalistas. Embora se fale muito no futebol, elas têm alcance
estendido a todas as modalidades desportivas pelo conjunto de medidas no
seu bojo. O tramitar tem sido criterioso, além do tempo moroso dos
andamentos legislativos. Apesar dos riscos, a intensidade dos debates
permite melhores conclusões. Terreno minado; exige argúcia e cautela.
Ainda segue o compasso de espera, mas
está dada a largada decisiva; o passo seguinte já deve ter acontecido, a
assinatura da presidenta, depois um prazo de ajustes, e a prática. Na
realidade, ainda há muito mistério; as medidas são anunciadas por via
oral em doses homeopáticas.
A novela começou
em maio do ano passado, ainda chamada Proforte, ou seja, antes da Copa
já havia a consciência da necessidade de mudanças profundas. Tentou-se
aprovar o texto da então chamada Lei de Responsabilidade Fiscal antes do
encerramento de 2014; havia um consenso em torno das conclusões
alcançadas e o temor de “passar do ponto” ou... dito e feito, um
pilantra disfarçado de político tentou imiscuir num projeto estranho à
matéria uma proposta de melar tudo e voltar à estaca zero. Serve de
alerta para esta reta final.
Representante do Bom Senso revela-se
eufórico com as propostas do governo, que ouviu todo mundo antes de
elaborar sua MP. O momento político não favorece a posição dos que
procuram a transformação mais consequente. Hora de mobilização de todos
interessados no avanço do esporte.
Anuncia-se uma série de propostas abrangendo ampla mudança
de rumo: refinanciamento da dívida dos clubes em 240 meses, vinte anos
sem a entrada de 10% do lance inicial e com prestações aumentando com o
tempo, o que é razoável; limite máximo de 70% com salários e previsão de
aplicação nas divisões de base e futebol feminino; aposentadoria
específica dos desportistas profissionais, entre outros.
O que provoca maior especulação é a parte
referente à regulamentação da vida política das entidades esportivas
permitindo prazo máximo de quatro anos e uma única reeleição já
estabelecida na atuação dos atletas pelo Brasil. Boa parte das propostas
estava na Lei Pelé original, depenadas pela Bancada dos Cartolas: olho
neles.
O fato de incluir expressamente a CBF
cria expectativa de reação da Fifa, sob alegação de interferência em seu
sistema ultrapassado, e gera outra polêmica em torno da soberania. Do
seu desdobramento vem a sugestão de promover uma divisão autônoma; a
tevê pública já transmite a Série C e as empresas estatais ou mistas
deveriam financiar os clubes, talvez da Série D. Uma alternativa
independente, por que não? Um piloto com as condições ideais modernas, a
Colômbia no passado fez o chamado Eldorado? A Fifa estabeleceria
sanções inócuas.
De nosso lado, só falamos em medidas administrativas e
políticas, não há outro jeito, os profissionais tratam mais de questões
financeiras do que de suas atribuições técnicas. Andamos mesmo num
descompasso. Do outro lado, com a bola rolando, esquenta cada vez mais o
fim da temporada europeia, onde estão os melhores jogadores do momento,
ainda que em termos de concepção de futebol não ande lá essas coisas.
Os jogos recentes mantiveram as emoções
em nível incandescente. No empate da prorrogação entre o Chelsea e o PSG
houve de tudo; culminou com o zagueiro brasileiro Thiago Silva saindo
do inferno mais terrível de um pênalti inexplicável para fazer o gol da
classificação às quartas no campo do adversário londrino.
Na classificação, que não é
inédita, do Mônaco diante do poderoso Arsenal, um desabafo do treinador
do time inglês atribuiu ao “azar” sua derrota. Isso porque ele não
assistiu à vitória do Corinthians em Buenos Aires contra o San Lorenzo, a
coisa mais incrível que já vi: os gols perdidos pelo time do Papa. No
jogo do Atlético de Madrid o treinador adversário expressou-se assim:
“Eles mordem, arranham, batem”. A melhor descrição do time do argentino
Simeone.
Impressionante o predomínio dos hermanos
pelo mundo: a atuação do Tevez pela Juventus contra o Dortmund alemão
foi de tirar o chapéu. Ele vem fazendo isso por onde passa. Com Messi e
Mascherano, formam um trio insuperável neste momento.
Pelo nosso lado, Robinho é o elo
encontrado; maior exemplo para as novas gerações que queiram jogar
futebol profissional. Revelou-se ainda menino, passou anos no futebol
europeu e retorna com a mesma alegria e simplicidade, provando que não é
necessário se entortar para sair do país ou para jogar no exterior.
Vamos lá.
Fonte: CartaCapital
Por Afonsinho
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