terça-feira, 24 de novembro de 2015

COMPASSO E DESCOMPASSO


Finalmente vêm à luz as propostas do governo pelas mudanças no esporte brasileiro. Foram apresentadas na terça-feira aos parlamentares e, na quarta, aos clubes e jornalistas. Embora se fale muito no futebol, elas têm alcance estendido a todas as modalidades desportivas pelo conjunto de medidas no seu bojo. O tramitar tem sido criterioso, além do tempo moroso dos andamentos legislativos. Apesar dos riscos, a intensidade dos debates permite melhores conclusões. Terreno minado; exige argúcia e cautela.

Ainda segue o compasso de espera, mas está dada a largada decisiva; o passo seguinte já deve ter acontecido, a assinatura da presidenta, depois um prazo de ajustes, e a prática. Na realidade, ainda há muito mistério; as medidas são anunciadas por via oral em doses homeopáticas.

A novela começou em maio do ano passado, ainda chamada Proforte, ou seja, antes da Copa já havia a consciência da necessidade de mudanças profundas. Tentou-se aprovar o texto da então chamada Lei de Responsabilidade Fiscal antes do encerramento de 2014; havia um consenso em torno das conclusões alcançadas e o temor de “passar do ponto” ou... dito e feito, um pilantra disfarçado de político tentou imiscuir num projeto estranho à matéria uma proposta de melar tudo e voltar à estaca zero. Serve de alerta para esta reta final.

Representante do Bom Senso revela-se eufórico com as propostas do governo, que ouviu todo mundo antes de elaborar sua MP. O momento político não favorece a posição dos que procuram a transformação mais consequente. Hora de mobilização de todos interessados no avanço do esporte.

Anuncia-se uma série de propostas abrangendo ampla mudança de rumo: refinanciamento da dívida dos clubes em 240 meses, vinte anos sem a entrada de 10% do lance inicial e com prestações aumentando com o tempo, o que é razoável; limite máximo de 70% com salários e previsão de aplicação nas divisões de base e futebol feminino; aposentadoria específica dos desportistas profissionais, entre outros.

O que provoca maior especulação é a parte referente à regulamentação da vida política das entidades esportivas permitindo prazo máximo de quatro anos e uma única reeleição já estabelecida na atuação dos atletas pelo Brasil. Boa parte das propostas estava na Lei Pelé original, depenadas pela Bancada dos Cartolas: olho neles.

O fato de incluir expressamente a CBF cria expectativa de reação da Fifa, sob alegação de interferência em seu sistema ultrapassado, e gera outra polêmica em torno da soberania. Do seu desdobramento vem a sugestão de promover uma divisão autônoma; a tevê pública já transmite a Série C e as empresas estatais ou mistas deveriam financiar os clubes, talvez da Série D. Uma alternativa independente, por que não? Um piloto com as condições ideais modernas, a Colômbia no passado fez o chamado Eldorado? A Fifa estabeleceria sanções inócuas.

De nosso lado, só falamos em medidas administrativas e políticas, não há outro jeito, os profissionais tratam mais de questões financeiras do que de suas atribuições técnicas. Andamos mesmo num descompasso. Do outro lado, com a bola rolando, esquenta cada vez mais o fim da temporada europeia, onde estão os melhores jogadores do momento, ainda que em termos de concepção de futebol não ande lá essas coisas.

Os jogos recentes mantiveram as emoções em nível incandescente. No empate da prorrogação entre o Chelsea e o PSG houve de tudo; culminou com o zagueiro brasileiro Thiago Silva saindo do inferno mais terrível de um pênalti inexplicável para fazer o gol da classificação às quartas no campo do adversário londrino.

Na classificação, que não é inédita, do Mônaco diante do poderoso Arsenal, um desabafo do treinador do time inglês atribuiu ao “azar” sua derrota. Isso porque ele não assistiu à vitória do Corinthians em Buenos Aires contra o San Lorenzo, a coisa mais incrível que já vi: os gols perdidos pelo time do Papa. No jogo do Atlético de Madrid o treinador adversário expressou-se assim: “Eles mordem, arranham, batem”. A melhor descrição do time do argentino Simeone.

Impressionante o predomínio dos hermanos pelo mundo: a atuação do Tevez pela Juventus contra o Dortmund alemão foi de tirar o chapéu. Ele vem fazendo isso por onde passa. Com Messi e Mascherano, formam um trio insuperável neste momento.

Pelo nosso lado, Robinho é o elo encontrado; maior exemplo para as novas gerações que queiram jogar futebol profissional. Revelou-se ainda menino, passou anos no futebol europeu e retorna com a mesma alegria e simplicidade, provando que não é necessário se entortar para sair do país ou para jogar no exterior. Vamos lá.

Fonte: CartaCapital
Por Afonsinho 

 

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