DEBATE SOBRE IMPEACHMENT
ESCONDE PROBLEMA MAIOR:
O DEFÍCIT DE 9% DO PIB
ESCONDE PROBLEMA MAIOR:
O DEFÍCIT DE 9% DO PIB
(Bloomberg) -- O esforço para derrubar a presidente Dilma Rousseff
já não se concentra mais no escândalo de corrupção que inicialmente
complicou o seu governo. Agora é condução da política fiscal que passou a
justificar os pedidos de impeachment. O que talvez seja apropriado,
pois poucos problemas no Brasil são mais graves do que a explosão do
deficit orçamentário.
O deficit subiu para R$ 536 bilhões (US$
141 bilhões), e já é equivalente a mais de 9% do produto interno bruto. O
deficit não é apenas o maior em pelo menos duas décadas; cresceu numa
velocidade sem precedentes no momento em que o país mergulha numa
prolongada recessão. Há 18 meses, o deficit era de 3% do PIB.
Embora ninguém considere um calote como algo provável no curto prazo -- e
os yields dos títulos confirmam a inexistência desta preocupação--,
muitos dizem que essa situação está alimentando a inflação e poderá
empurrar o país em direção a uma crise da dívida.
Pego em um
ciclo vicioso de recessão e queda das receitas, o governo brasileiro se
encontra entre a cruz e a espada. Em outras palavras, apesar da dinâmica
atual da dívida parecer insustentável, tentar conter a situação com
cortes orçamentários tem poucas chances de sucesso em meio uma recessão,
na opinião de Geoffrey Dennis, do UBS Securities LLC.
Dilma
iniciou seu segundo mandato prometendo reequilibrar as contas públicas
para reconquistar a confiança do investidor. Em vez disso, as medidas de
austeridade fizeram o Congresso se rebelar e a popularidade dela cair. A
confiança do investidor e do consumidor despencou e a recessão se
aprofundou. E inflação continua subindo: chegou 9,9% nos últimos 12
meses, a mais rápida em mais de uma década.
Os truques contábeis
que a oposição diz justificarem a queda de Dilma custaram ao governo R$
57 bilhões este ano, que precisam ser pagos aos bancos estatais e a
outras entidades governamentais, segundo a comissão de orçamento do
Congresso. E este é apenas um de uma longa lista de motivos para o
aumento do deficit orçamentário do Brasil, que inclui créditos
subsidiados e incentivos fiscais para compra de casas, carros, máquinas
de lavar roupa e outros bens de consumo. |
Apenas em 2015 o
Brasil deverá perder R$ 109,3 bilhões em receitas devido aos incentivos
fiscais implementados desde 2010, segundo a Receita Federal. O salário
mínimo aumentou 163% na última década, mais do que o dobro da taxa de
inflação, ajudando a elevar os pagamentos previdênciários, que são
indexados ao mínimo.
"O governo explorou todos os caminhos
possíveis da irresponsabilidade", disse John Welch, estrategista macro
do Canadian Imperial Bank of Commerce. "Isso vai além da falta de visão.
Foi pura e simples negligência".
Reservas do BC
Alguns rejeitam esse pessimismo e afirmam que, diferentemente, da crise
de 2002, quando o governo estava à beira do calote, o país tem um
balanço muito melhor, com reservas internacionais próximas a um recorde e
dinheiro no caixa do Tesouro.
Contudo, para impulsionar a
economia e aumentar as receitas, o Banco Central precisaria cortar as
taxas de juros para estimular o consumo, o que não é uma opção com a
inflação próxima a dois dígitos. A depreciação de 30% da moeda poderá
ampliar as exportações, mas elas respondem por apenas 12% do PIB,
aproximadamente.
"O Brasil precisa perceber que seus níveis de
gastos não são compatíveis com suas receitas", disse Jankiel Santos,
economista-chefe do Haitong. "No fim das contas, o país vai ter de
imprimir dinheiro, gerando mais inflação", se não frear seu deficit.
Fonte: UOL Economia
Por Andre Soliani e Raymond Colitt
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