SECOVI: 'VAI FALTAR DINHEIRO PARA
FINANCIAMENTO DA CASA PRÓPRIA'
O setor de construção civil já viveu dias melhores. E hoje sofre, muito, com a crise da economia brasileira.
Desemprego, excesso de oferta e preços em baixa. Não bastasse esse
cenário, há a perspectiva de falta de crédito para o financiamento da
casa própria.
Nesta entrevista ao portal da DINHEIRO, o atual presidente do Secovi-SP, o sindicato da habitação, Cláudio Bernardes, revela os problemas do setor.
De que maneira o setor da construção civil está se comportando com a crise econômica?
Estamos com uma dificuldade muito grande de viabilizar negócios e com
queda nas vendas. A perspectiva de curto e médio prazo não é tão boa. O
setor deve desempregar este ano 500 mil pessoas, o que é muito. Em 2014,
foram outras 200 mil demissões, isto é, 700 mil demissões em dois anos.
A âncora que se pode ter em uma economia fragilizada como a nossa é a
manutenção do emprego e isto está em xeque.
O setor viveu há alguns anos uma espécie de bolha, não?
Não houve bolha imobiliária como se diz. O que existiu foi uma
recuperação de preços entre 2010 e 2012, um aumento fruto do aquecimento
da economia, uma situação de falta de condições para atender essa
demanda. Naquela época tivemos uma situação de aumento de poder
aquisitivo, taxa de juro mais baixas, inclusão social com ascensão de
brasileiros no consumo. Lembro que houve momentos que não existiam
equipamentos (para construções), engenheiros e imóveis para entregar.
E depois, o que ocorreu?
Houve uma estabilidade a partir de 2013. Em 2014 começou um ciclo mais
difícil com Carnaval tardio, Copa do Mundo e eleições presidenciais. Ao
final do ano passado tínhamos alguns fundamentos econômicos ainda
intactos, mas já não havia mais confiança tanto dos empresários quanto
consumidores. Em 2015 esse processo acentuou, e se não houver uma
mudança na economia, na política do País, vai ser difícil sair no curto
prazo dessa crise.
E o que é preciso ser feito, objetivamente?
Precisamos diminuir muito o tamanho do estado. Não sairemos desta crise
se não diminuirmos o peso do estado na economia. Obviamente temos uma
crise política, de ética. E ambas precisam ser contornadas, sem contar a
crise moral no País. Mas o primeiro passo é encolher o tamanho da
máquina pública no Brasil.
Pelo seu diagnóstico, se nada for feito o cenário é de piora para a construção civil?
Não só para a construção civil, mas para toda a economia brasileira.
No caso do programa Minha Casa Minha Vida está previsto um corte em sua fase três. O quanto isto impacta para uma retomada do setor?
Hoje temos um grave problema em relação aos empreendimentos já em
andamento do Minha Casa Minha Vida, que é o fato dos fornecedores não
estarem recebendo. São atrasos de 60 a 90 dias no pagamento, o que está
enforcando várias empresas. Quanto à fase três do Programa, o que
ouvimos é que ocorrerão cortes. Mas sem dúvida é um trabalho social
muito importante em relação à geração de empregos.
Em relação ao crédito, qual o cenário?
O crédito para o mercado imobiliário é um pouco diferente. Tem uma
vinculação diferente com a taxa de juro, porque o financiamento para
compra de casa própria é carimbado, vem de um funding (recursos) da
caderneta de poupança. A taxa de juros na poupança é tabelada, e o
problema não é tanto o juro neste momento.
Qual é o problema?
O problema é que cada vez mais temos saques na poupança, e os recursos
para este funding estão acabando. Gente que está tirando dinheiro da
caderneta para pagar suas contas, sair do vermelho. A Caixa Econômica
Federal já não tem mais dinheiro para este fim, Bradesco e Itaú ainda
têm alguma coisa até o fim do ano. Mas se trata de um problema, porque
mercado imobiliário sem crédito não funciona. A continuar nesta toada,
talvez no fim do ano tenhamos dificuldade de ter crédito novamente.
E o câmbio?
A questão do câmbio tem conseqüências na ponta da produção, quando a
construtora opera com muito material importado ou de componentes. Nesses
casos, a crise cambial impacta muito fortemente essas empresas.
Como está o mercado hoje? Há muitos produtos, descontos, boas barganhas?
O que acontece hoje no mercado é que temos um estoque alto na cidade de
São Paulo, cerca de 28 mil unidades, isto é, unidades em produção e já
prontas. Esse estoque é muito alto, o normal seria em torno de 17 mil
unidades. Este desequilíbrio, uma oferta muito maior que a demanda,
acaba afetando o preço dos imóveis. Essa demanda está reprimida por uma
série de fatores: desemprego e falta de confiança no futuro. Isto tudo
influencia para uma baixa de preços. Mas o curioso é que em São Paulo
existe um movimento inverso também, de alta de preços, em função do
Plano Diretor da Prefeitura.
De que forma o Plano Diretor puxa para cima os preços?
Há uma série de aspectos como o zoneamento prescrito, as chamadas
outorgas onerosas, limitações de vagas de garagem e do tamanho da
unidade, em determinados terrenos é preciso fazer doações de áreas. Tudo
isso impacta diretamente no custo.
Mas há mais imóveis de baixa renda, média ou de luxo?
Há ofertas em todos esses segmentos. E existe obviamente um estoque
maior nos imóveis de dois dormitórios, em que há maior oferta. Este é
produto carro-chefe do País, em função da distribuição etária que existe
hoje.
Qual é a dica para quem quiser comprar um imóvel hoje?
Tem que procurar bastante. Há boas oportunidades no mercado, bons descontos. Quem tem dinheiro guardado tem uma condição de barganha muito maior.
Fonte: Isto É Dinheiro
Por Carlos Dias
Nenhum comentário :
Postar um comentário