HÁ 30 ANOS A FAMÍLIA ROSADO
SE DIVIDIA POLITICAMENTE
"Vingt desliga-se do PDS e vai para o PMDB". Com essa manchete do O
Mossoroense, edição de 10 de outubro de 1985, era noticiado o fato
histórico ocorrido no dia anterior: a principal liderança política da
família Rosado estava encontrando um novo rumo político. Há 30 anos, um
dos mais tradicionais agrupamentos políticos do Rio Grande do Norte se
dividia.
Nas manchetes das edições dos jornais nos dias seguintes
se aborda a aceitação da nova conjuntura política dentro do PMDB,
endosso de lideranças do partido na região ao novo aliado e o
acompanhamento do então prefeito Dix-huit Rosado (então no segundo dos
três mandatos à frente da cidade).
Mas, ao mesmo tempo em que os
irmãos migravam para uma nova aliança política com Aluísio Alves, o
sobrinho deles, Carlos Augusto Rosado, ficava no PDS. Ele tinha uma
decisão a tomar: seguir os tios no novo agrupamento político ou
manter-se ao lado do então governador José Agripino, à época ferrenho
adversário de Aluísio Alves. Não era uma decisão simples. Para entender o
que aconteceu naquele outubro de 1985, é preciso voltar no tempo.
Mas,
por quê? É que a cisão política dos Rosados foi um processo longo. Não
foi algo do dia para a noite. Foram dez anos com alguns acontecimentos
marcantes.
Tudo começou numa noite de 1978, quando o agrupamento se
reuniu para decidir que rumos tomar em relação ao novo governador que
tomaria posse no ano seguinte. Ao longo do Regime Militar, os
governadores eram nomeados pelo presidente. Dix-huit Rosado tinha batido
na trave duas vezes. Em 1970 perdeu a disputa para Cortez Pereira.
Quatro anos depois, ele disputou com Osmundo Faria (pai do governador
Robinson Faria) e tinha perdido na articulação. Quando estava tudo certo
para o anúncio para a escolha de Osmundo, o general Dale Coutinho, que
endossara a escolha, morreu de infarto fulminante. Dix-huit volta ao
páreo, mas termina vendo Tarcísio Maia ser o escolhido.
Em 1978, tudo
caminhava para Dix-huit ser o governador, mas Tarcísio fez força para
que o primo dele, o médico Lavoisier Maia Sobrinho, fosse o escolhido.
Pesou nessa história a garantia dada por “Lavô” de que o engenheiro José
Agripino Maia seria nomeado prefeito biônico de Natal, o que de fato
aconteceu em 1979.
Depois disso, a relação entre os irmãos Vingt e
Dix-huit com Tarcísio nunca mais foi a mesma. Por isso, a reunião
naquela noite de 1978. "Vingt reuniu todos os sobrinhos e cogitou romper
com Tarcísio Maia e na hora todos foram contra. Vingt disse que todo
mundo poderia ficar com Tarcísio, mas ele ia seguir com Dix-huit. Na
hora todos recuaram e ficaram com os tios", relata o ex-deputado federal
Laíre Rosado.
O segundo ato do afastamento político, foi a eleição
de 1982. Para os mossoroenses ela é marcada pelo "Voto Camarão". Nesse
ponto é preciso entender as regras daquele pleito atípico. Foram
realizadas eleições para vereador, prefeito, deputado estadual, deputado
federal, senador e após 17 anos (o último pleito direto para governador
tinha sido em 1965) disputa para governador. Prefeitos de capitais só
voltaram a ser eleitos em 1985. Presidente da República só voltou a ter
eleição direta em 1989.
Por conta do temor de uma vitória
avassaladora das oposições foi instituído o voto vinculado. O eleitor
era obrigado a votar apenas em candidatos da mesma chapa.
Naquela
eleição a disputa pelo Governo do RN foi entre José Agripino (PDS) e
Aluízio Alves (PMDB). Vingt não aceitou a escolha de Agripino. Ele
integrou o grupo do "Pacto da Solidão", alusão a Fazenda Solidão onde
foram realizadas algumas reuniões em favor de Fernando Bezerra, que
viria a ser senador na virada do século.
Diante do quadro do voto
vinculado, Vingt pediu aos seus seguidores que praticassem o "voto
camarão" cortando a cabeça (sufrágio para governador) e votando no
resto. Naquele momento Carlos Augusto Rosado votou em Vingt para
federal, mas não anulou voto para o Governo do Estado. Seguiu José
Agripino. "Fazia quase 20 anos que a gente não votava para governador.
Vingt estava no voto camarão e a gente era muito jovem. Tivemos que
tomar partido e ficamos com José Agripino", explica o ex-deputado
estadual Carlos Augusto Rosado.
As relações ficaram ainda mais
distanciadas até 1985, quando Vingt decidiu ir para o PMDB no momento em
que Carlos Augusto, então um coadjuvante da política mossoroense,
organizava a fundação do Partido da Frente Liberal (PFL) na região Oeste
do Estado.
Mas o processo de ruptura política só se concluiu nas
eleições para prefeito ocorridas em 1988, quando o distanciamento
político foi evidenciado com o embate entre Laíre Rosado (PMDB), então
deputados estadual, e a médica Rosalba Ciarlini (PDT), esposa de Carlos
Augusto.
Depois disso a política de Mossoró nunca mais foi a mesma.
Retorno do pluripartidarismo
facilitou a divisão política
Impossível
compreender o longo processo de ruptura dos Rosados sem enquadrá-lo no
contexto nacional. No período em que as relações entre Vingt e Tarcísio
Maia estavam estremecidas foi instaurado o pluripartidarismo.
O ano é
1980. O Regime Militar avançava na abertura política e temia a força da
oposição aglutinada dentro do Movimento Democrático Brasileiro (MDB)
que naquele ano ganharia a palavra "Partido" convertendo-se em PMDB.
Para
dividir a oposição que estava reunida dentro de uma legenda que era uma
torre de babel ideológica (as esquerdas misturadas com a oposição de
direita ao regime) foi criado o pluripartidarismo.
Aí surgem o PT, o PDT
e o PP (Partido Popular que nada tem a ver com o atual Partido
Progressista) que ficava no centro entre PDS (que substituía a Arena) e
PMDB. O PTB é recriado e alvo de disputa entre Leonel Brizola e Ieda
Vargas, filha de Getúlio, que leva a melhor.
Com o pluripartidarismo,
essas legendas se articulam para as eleições de 1982 com o PP sendo
incorporado pelo PMDB ao longo do processo.
Com o pluripartidarismo
as alternativas se tornaram maiores para os políticos e ficava difícil
manter um bloco político grande como o dos Rosados e Maias dentro da
mesma agremiação.
Isso tornou viável o afastamento partidário
concretizado em 1985, com a dissidência de Carlos Augusto que seguiu ao
lado de José Agripino e Tarcísio Maia.
Especialistas analisam fato histórico
Enquanto
acontecimento histórico, a opinião de especialistas em história e
política divide opiniões sobre o que representou a cisão do agrupamento
familiar.
Há uma tese de que os Rosados se dividiram para somar. Mas,
aos poucos novas pesquisas surgem e mostram que a divisão foi provocada
por uma conjuntura política e que a tal "soma" que dificultou o
surgimento de novas forças foi uma consequência não planejada. "Quando
você analisa o rompimento dos Rosados tem que observar a conjuntura
nacional com a criação do pluripartidarismo e o fim do Regime Militar. A
saída de Vingt para o PMDB é justamente parte de um contexto político
das brigas internas que o PDS vivia em nível nacional na escolha entre
Sarney e Maluf para a eleição no Colégio Eleitoral. Quem apoiava Sarney
saiu quando Maluf ganhou na disputa interna. Vingt votou em Tancredo e
depois foi para o PMDB", afirma o professor Marcílio Falcão do
Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte (Uern).
O professor Anchieta Alves, que atuava na política
mossoroense naquela época, reforça o entendimento de que se tratou de um
longo processo. "O rompimento da família Rosado para mim começou mesmo
em 1982 com a eleição de José Agripino. Os problemas começaram antes, a
partir de 1978, quando Lavoisier foi indicado por Tarcísio Maia para ser
governo em vez de Dix-huit. Isso estava condicionado à indicação de
José Agripino para prefeito de Natal, mas Dix-huit não deu certeza da
nomeação. Lavô deu e foi escolhido. Voltando a 1982, teve o episódio do
voto camarão em que Vingt não votou em Agripino, mas Carlos Augusto não
acompanhou os tios. Já em 1988 ficou bem claro para as pessoas quando
Tarcísio lançou Rosalba contra Laíre", relembra.
Para Lemuel
Rodrigues, do Departamento de História da Uern, a divisão foi
estratégica para evitar o surgimento de forças políticas fora da
família. "A pretensa ruptura representou um marco na política da cidade.
Pois, ao mesmo tempo que aparentou fragilidade e crise, dividiu o
eleitor fragilizando os grupos opositores à família. No entanto, a
divisão não conseguiu fortalecer o grupo na última década, mesmo tendo
chegado ao Governo do Estado", avaliou.
O jornalista Carlos Santos
pensa diferente. Entende que o impedimento do surgimento de novas forças
de fato foi provocado pela divisão, mas ele pondera que para ele não
foi algo planejado embora as relações sociais tenham se mantido e em
alguns momentos os grupos tenham tratado de política. "Há uma corrente
de pensamento que aponta que eles se dividiram para somar. Não concordo.
Mas tenho certeza e provas, que de lá para cá combinaram o jogo algumas
vezes, para que nada forte pudesse ameaçá-los. Estarão juntos em algum
momento lá na frente, por necessidade, mesmo que existam diferenças
irreconciliáveis entre certos nomes", prevê.
Fonte: O Mossoroense
Por Bruno Barreto - Editor de Política
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