POR GUSTAVO BOLÃO
MARADONA: O MITO
O dia 30 de outubro deste ano pode ser um sábado comum para os brasileiros. Ir à praia, ao shopping, trabalhar, estudar. Um dia normal. Não para nossos ‘hermanos’. Todo ano, nessa data a Argentina para. Literalmente. Muitos não trabalham, muitos rezam. E agradecem. Algo especial aconteceu nesse dia. É como se fosse Natal. E, por um coeso ponto de vista, é mesmo. Afinal, há 50 anos nascia o salvador de uma pátria inteira. Um gigante de 1,66m de altura, capaz de unir o miserável ao milionário. Por um só motivo: amor à pátria.
Não há ser mais amado no mundo por seu berço do que Diego Armando Maradona. Muito mais que um ídolo. Unanimidade. Um deus. Ou melhor, ‘Dios’. Dono de religião, estádio, museu, homenagens intermináveis, poder. E muito amor. O eterno camisa 10 da seleção argentina não conquistou só a Copa de 1986 ou os gramados pelo mundo afora. Com uma personalidade insana, brigou com quem fosse preciso para expor e pôr em prática seu ponto de vista. Encantou a Argentina pelos seus dribles e pela paixão ao povo e, sobretudo, à própria nação. Criou inimigos, mas fez questão de aniquilá-los, rápido e ágil, como se estivesse saindo de uma falta violenta na final de uma Copa.
Rápido, veloz, driblador, forte, com um ótimo passe, um excelente visão de jogo e uma finalização simplesmente perfeita. Um jogador completo. Um craque genial. O maior da História depois de Pelé. Revelado no Argentino Juniors, aos 16 anos já estreava na equipe profissional e já chamava a atenção dos jornais argentinos. Choviam matérias sobre o promissor garoto das categorias de base do pequeno clube argentino. Não demorou a chamar a atenção do Boca Juniors, por onde ficou e brilhou até 82, contratado pelo Barcelona, na maior transação do futebol mundial a época.
Na Espanha, os dribles rápidos, ora curtos ora longos, enchiam qualquer estádio ou coração. Deitava e rolava aonde fosse e por quem fosse. Fez a torcida do Real Madrid aplaudir, de pé, pela primeira vez na história, um jogador catalão, após um dos mais belos gols do Estádio Santiago Bernabéu. Até que Goikoetxea, com uma entrada criminosa, fraturou seu tornozelo esquerdo. Um ano fora. Voltou e logo parou de novo. Dessa vez, por causa de uma punição imposta pela FIFA, após armar uma batalha campal contra o Athletic Bilbao.
Para muitos ganhou sozinho a Copa de 86. Para ele, não. Fez gol de mão, de cabeça, de placa. Também o mais bonito de todos os Mundiais, driblando, praticamente, um time inteiro de ingleses, como se estivesse nas suas peladas em Villa Florito, na Grande Buenos Aires. Ganhou o mundo pela primeira vez. Depois da Copa, na Argentina não se falava em outra coisa, em outro nome. Era impossível não amar Diego Armando Maradona.
Depois do Barça, foi parar no Napoli. Na Itália, podia jogar sem problemas. E dando problemas aos zagueiros que o marcavam. Na verdade, o acompanhavam. Poucos conseguiam o fazer de perto. O jeito era para na falta, na porrada, mas até nisso Maradona era bom. Em Nápoles, ganhou de tudo e de todos. É o maior ídolo do clube. É lá que, neste sábado, o tempo também irá parar. E os napolitanos, provavelmente, irão rever as glórias do passado, os gols de Maradona, os sorrisos arrancados por um argentino. Vai bater uma saudade... Tal como na sua saída do clube, em nova punição, por antidoping em cocaína.
O mundo da bola começou a ficar pequeno para os dribles e as confusões de Dieguito. Após rápida passagem pelo Sevilla, voltou para a Argentina. Estava perto do fim. Maradona continuava xingando e criticando cartolas, poderosos, entre outros. E sorrindo para o povo, seu grande patrimônio. Impressionante como ele é adorado na Argentina, em Nápoles...
Incrível, também, como ele é perdoado por seus seguidores. Desde as inúmeras confusões dentro de campo, como a batalha campal de 1984, quando ainda jogava pelo Barcelona, passando pelo envolvimento com as drogas e o antidoping de 1994, em plena Copa do Mundo dos Estados Unidos, 1994. Ali, o baque foi grande. A Argentina chorou junto com seu camisa 10. Foi punido com 15 meses de afastamento do futebol. “Me cortaram as pernas”, disse à época.
Virou técnico, e depois, conciliou duas funções: comandante e jogador. Não deu muito certo. Entre idas e vindas entre o vestiário e o campo, resolveu parar. Aos 37 anos, anunciou o fim da carreira mais vitoriosa de um argentino, esportivamente. Muitos cairiam no esquecimento de seus fãs. Com muitos foi assim. Com Ele não. Ele é maior que qualquer despedida. Maradona continuou mais vivo do que nunca no coração dos argentinos, mas não no seu próprio. Abusou da bebida, da cocaína, das mulheres, do prazer. Quase lhe cortou o coração. Acabou internado. Do lado de fora do hospital, milhares de torcedores e ‘maraddonistas’(seguidores da religião ‘maradoniana’, oficial na Argentina), com faixas e cartazes. O deus deles estava internado. E mais vivo do que nunca em seus corações.
O tempo passava e Maradona sumia um pouco dos holofotes. A seleção alternava bons e péssimos momentos. Com um time fraco e uma campanha ruim nas Eliminatórias para a Copa, o futebol argentino precisava de um algo a mais. O povo também. As ruas pareciam mais cinzentas, o céu mais escuro, as rosas mais verdes. O sol que ilumina a bandeira e o caminho dos argentinos parecia estar um pouco apagado.
Até que ele voltou. Numa função um tanto quanto estranha para alguém de sua personalidade e ideologia. Era o novo técnico da seleção que ajudou a consagrar mundialmente. Criticado pela imprensa, amado pelo povo, cumpriu à risca sua missão de classificar o país para a Copa da África. E ainda foi capaz de dar um toque à argentina. Fez do objetivo que era pra ser simples e fácil, difícil e complicado. Suado. Sofrido. Argentino.
Em seguida, agiu como um suburbano de La Boca, ou de Lanús, onde nasceu. Xingou, esperneou. Chorou. De alegria, tristeza e emoção. Fez a Argentina inteira se emocionar junto com ele. E os jornalistas presentes na coletiva de imprensa da vitória sobre o Uruguai, em Montevidéu, com um gol aos 39 da segunda etapa, num jogo que só a vitória interessava aos argentinos, morrerem de raiva com os urros e ofensas direcionadas a quem o criticava e duvidava de seu trabalho. Exagerou, como sempre. Foi Maradona.
Nada conseguiu na Copa do Mundo, a não ser atrair, em mais uma entre as tantas vezes, a atenção e todo o mundo, prometendo sair nu no Obelisco, caso conquistasse o Mundial. Tudo conseguiu nesses 49 anos de vida. No sábado, mais do que homenageá-lo, os argentinos irão idolatrá-lo mais ainda. Irão agradecê-lo por tantos sorrisos e lágrimas. Tomara que ele exagere, passe dos limites, xingue, grite, chore,e, - por que não? -, faça embaixadinhas. Será aplaudido de pé. Por uma legião de pessoas que se apaixonaram por um homem que tinha tudo para se perder no mundo dos maus caminhos. Não há nada mais Maradona que isso.
Não há ser mais amado no mundo por seu berço do que Diego Armando Maradona. Muito mais que um ídolo. Unanimidade. Um deus. Ou melhor, ‘Dios’. Dono de religião, estádio, museu, homenagens intermináveis, poder. E muito amor. O eterno camisa 10 da seleção argentina não conquistou só a Copa de 1986 ou os gramados pelo mundo afora. Com uma personalidade insana, brigou com quem fosse preciso para expor e pôr em prática seu ponto de vista. Encantou a Argentina pelos seus dribles e pela paixão ao povo e, sobretudo, à própria nação. Criou inimigos, mas fez questão de aniquilá-los, rápido e ágil, como se estivesse saindo de uma falta violenta na final de uma Copa.
Rápido, veloz, driblador, forte, com um ótimo passe, um excelente visão de jogo e uma finalização simplesmente perfeita. Um jogador completo. Um craque genial. O maior da História depois de Pelé. Revelado no Argentino Juniors, aos 16 anos já estreava na equipe profissional e já chamava a atenção dos jornais argentinos. Choviam matérias sobre o promissor garoto das categorias de base do pequeno clube argentino. Não demorou a chamar a atenção do Boca Juniors, por onde ficou e brilhou até 82, contratado pelo Barcelona, na maior transação do futebol mundial a época.
Na Espanha, os dribles rápidos, ora curtos ora longos, enchiam qualquer estádio ou coração. Deitava e rolava aonde fosse e por quem fosse. Fez a torcida do Real Madrid aplaudir, de pé, pela primeira vez na história, um jogador catalão, após um dos mais belos gols do Estádio Santiago Bernabéu. Até que Goikoetxea, com uma entrada criminosa, fraturou seu tornozelo esquerdo. Um ano fora. Voltou e logo parou de novo. Dessa vez, por causa de uma punição imposta pela FIFA, após armar uma batalha campal contra o Athletic Bilbao.
Para muitos ganhou sozinho a Copa de 86. Para ele, não. Fez gol de mão, de cabeça, de placa. Também o mais bonito de todos os Mundiais, driblando, praticamente, um time inteiro de ingleses, como se estivesse nas suas peladas em Villa Florito, na Grande Buenos Aires. Ganhou o mundo pela primeira vez. Depois da Copa, na Argentina não se falava em outra coisa, em outro nome. Era impossível não amar Diego Armando Maradona.
Depois do Barça, foi parar no Napoli. Na Itália, podia jogar sem problemas. E dando problemas aos zagueiros que o marcavam. Na verdade, o acompanhavam. Poucos conseguiam o fazer de perto. O jeito era para na falta, na porrada, mas até nisso Maradona era bom. Em Nápoles, ganhou de tudo e de todos. É o maior ídolo do clube. É lá que, neste sábado, o tempo também irá parar. E os napolitanos, provavelmente, irão rever as glórias do passado, os gols de Maradona, os sorrisos arrancados por um argentino. Vai bater uma saudade... Tal como na sua saída do clube, em nova punição, por antidoping em cocaína.
O mundo da bola começou a ficar pequeno para os dribles e as confusões de Dieguito. Após rápida passagem pelo Sevilla, voltou para a Argentina. Estava perto do fim. Maradona continuava xingando e criticando cartolas, poderosos, entre outros. E sorrindo para o povo, seu grande patrimônio. Impressionante como ele é adorado na Argentina, em Nápoles...
Incrível, também, como ele é perdoado por seus seguidores. Desde as inúmeras confusões dentro de campo, como a batalha campal de 1984, quando ainda jogava pelo Barcelona, passando pelo envolvimento com as drogas e o antidoping de 1994, em plena Copa do Mundo dos Estados Unidos, 1994. Ali, o baque foi grande. A Argentina chorou junto com seu camisa 10. Foi punido com 15 meses de afastamento do futebol. “Me cortaram as pernas”, disse à época.
Virou técnico, e depois, conciliou duas funções: comandante e jogador. Não deu muito certo. Entre idas e vindas entre o vestiário e o campo, resolveu parar. Aos 37 anos, anunciou o fim da carreira mais vitoriosa de um argentino, esportivamente. Muitos cairiam no esquecimento de seus fãs. Com muitos foi assim. Com Ele não. Ele é maior que qualquer despedida. Maradona continuou mais vivo do que nunca no coração dos argentinos, mas não no seu próprio. Abusou da bebida, da cocaína, das mulheres, do prazer. Quase lhe cortou o coração. Acabou internado. Do lado de fora do hospital, milhares de torcedores e ‘maraddonistas’(seguidores da religião ‘maradoniana’, oficial na Argentina), com faixas e cartazes. O deus deles estava internado. E mais vivo do que nunca em seus corações.
O tempo passava e Maradona sumia um pouco dos holofotes. A seleção alternava bons e péssimos momentos. Com um time fraco e uma campanha ruim nas Eliminatórias para a Copa, o futebol argentino precisava de um algo a mais. O povo também. As ruas pareciam mais cinzentas, o céu mais escuro, as rosas mais verdes. O sol que ilumina a bandeira e o caminho dos argentinos parecia estar um pouco apagado.
Até que ele voltou. Numa função um tanto quanto estranha para alguém de sua personalidade e ideologia. Era o novo técnico da seleção que ajudou a consagrar mundialmente. Criticado pela imprensa, amado pelo povo, cumpriu à risca sua missão de classificar o país para a Copa da África. E ainda foi capaz de dar um toque à argentina. Fez do objetivo que era pra ser simples e fácil, difícil e complicado. Suado. Sofrido. Argentino.
Em seguida, agiu como um suburbano de La Boca, ou de Lanús, onde nasceu. Xingou, esperneou. Chorou. De alegria, tristeza e emoção. Fez a Argentina inteira se emocionar junto com ele. E os jornalistas presentes na coletiva de imprensa da vitória sobre o Uruguai, em Montevidéu, com um gol aos 39 da segunda etapa, num jogo que só a vitória interessava aos argentinos, morrerem de raiva com os urros e ofensas direcionadas a quem o criticava e duvidava de seu trabalho. Exagerou, como sempre. Foi Maradona.
Nada conseguiu na Copa do Mundo, a não ser atrair, em mais uma entre as tantas vezes, a atenção e todo o mundo, prometendo sair nu no Obelisco, caso conquistasse o Mundial. Tudo conseguiu nesses 49 anos de vida. No sábado, mais do que homenageá-lo, os argentinos irão idolatrá-lo mais ainda. Irão agradecê-lo por tantos sorrisos e lágrimas. Tomara que ele exagere, passe dos limites, xingue, grite, chore,e, - por que não? -, faça embaixadinhas. Será aplaudido de pé. Por uma legião de pessoas que se apaixonaram por um homem que tinha tudo para se perder no mundo dos maus caminhos. Não há nada mais Maradona que isso.
Nenhum comentário :
Postar um comentário