INTELECTUAIS NO BRASIL, E DE FORA
DO PAÍS, PROTESTAM CONTRA GOLPE
“Há
[atualmente] políticas sociais muito mais interessantes que antes, mas a
elite que perdeu o poder tenta voltar de todas as maneiras. Temos uma
imprensa de direita que combate o PT. Não sou filiado ao partido, mas
não concordo que se elimine a democracia no Brasil através de um golpe
de Estado imoral”, disse o fotógrafo.
“Temos também que cobrar o PT, mas o balanço é o mais positivo que o Brasil já teve”, afirmou Salgado ao ser perguntado sobre as mudanças e políticas sociais dos governos do PT.
O filósofo mexicano Fernando Buen Abad Domínguez publicou, na noite do
último domingo, uma mensagem em seu Twitter na qual afirmou que “se
cometeu uma monstruosidade contra a democracia no Brasil”. “Isso só se
repara com o povo mobilizado contra os golpistas e na rua”, disse o
filósofo.
Em carta aberta dirigida a Dilma e publicada na última segunda-feira
(18) no jornal Folha de S.Paulo, a psicanalista e integrante da Comissão
Nacional da Verdade Maria Rita Kehl voltou a se posicionar contra o
impedimento. Kehl classificou Dilma como uma “personagem fundamental na
história do Brasil” e destacou a criação, em seu governo, da Comissão
Nacional da Verdade.
“Nos vemos na iminência de uma nova catástrofe: a cassação de uma
presidente séria, comprometida com o combate à corrupção, por uma Câmara
comandada por um deputado [Eduardo Cunha, PMDB-RJ] acusado de vários
crimes e repudiado pela população”, afirmou a psicanalista. “Talvez o
Brasil acorde durante o julgamento no Senado e perceba a gravidade do
que está por vir. Ou então assistiremos, estarrecidos, à repetição de um
golpe em nome da moralidade pública”, disse.
Para o analista político argentino Atilio Boron, a votação na Câmara foi
um “espetáculo lamentável e vergonhoso da direita”. “Poucas vezes em
minha vida vi, como analista político, um espetáculo tão repugnante como
o que hoje deram os deputados da direita no Brasil”, disse Boron em seu
perfil no Twitter na segunda-feira. Ele chamou de “demagogos e
corruptos até a medula” parte dos deputados que votaram a favor da
admissibilidade do processo de impeachment.
O tradutor, escritor e jornalista Eric Nepomuceno, em entrevista à
revista Calle2 publicada nesta terça, classificou a votação da Câmara
como “um circo de horrores”. “Nós temos no Brasil a pior legislatura dos
últimos 36 anos. Desde a volta da democracia não havia nada parecido”,
afirmou. De acordo com ele, “a direita saiu do armário, havia um ódio
reprimido e esse ódio foi desatado”.
“Agora não precisamos mais das Forças Armadas para derrubar um governo legítimo e constitucional. Contamos com setores da Polícia Federal, setores do Poder Judiciário absolutamente parciais e facciosos e, como em 1964, você conta com a unanimidade da grande mídia hegemônica, principalmente a Rede Globo”, disse Nepomuceno.
Com a decisão da Câmara, cabe agora ao Senado formar uma comissão para
analisar o pedido de impeachment, que depois deve seguir para o
plenário, onde a aprovação por maioria simples afastaria Dilma do cargo
por até 180 dias e alçaria Michel Temer à Presidência interina. Nesse
caso, ocorrerá um julgamento no Senado sob o comando do presidente do
STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Ricardo Lewandowski, em que é
necessária a maioria de dois terços dos senadores para que Dilma sofra o
impeachment.
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