CRISE ECONÔMICA
REQUER URGÊNCIA
Mesmo os críticos
mais tolerantes e com discreto viés pró-governo estão perplexos com a
sua falta de habilidade na condução de um processo político-econômico
que se autoalimenta e se agrava exponencialmente. Tudo lhe é adverso,
mas é inútil insistir que não são consequências diretas de suas próprias
ações.
Tentar construir a teoria de que o
Executivo é vítima de uma conspiração da “burguesia reacionária
paulista” faz pouco da inteligência nacional e tem baixa probabilidade
de êxito. Tentar estimular, artificialmente, um conflito com o
Legislativo e o Judiciário é perigoso para a consolidação do sistema democrático.
Felizmente, no comício do dia 18, em São
Paulo, o ex-presidente Lula revelou, mais uma vez, o seu pragmatismo e a
sua inteligência. Reincorporou a persona do Lula “paz e amor”, que sabe ser a única compatível com o respeito às nossas instituições.
Tudo isso tem um ar abstrato, mas esconde
uma formidável tragédia. Em condições normais de pressão e temperatura é
provável que a nomeação do ex-presidente Lula para a chefia da Casa Civil
tivesse condições de levar o PT a apoiar Dilma e cooptar a “velha” base
política para aprovar as medidas constitucionais que o País precisa.
Por quê? Primeiro, porque o PT sem
Lula será sempre um pequeno partido reacionário controlado pelo
funcionalismo público e pelo sindicalismo míope que se opõem ao
progresso tecnológico.
Segundo, porque talvez ele tivesse condições, ainda que seja um pouco tarde, de recuperar a confiança do PMDB que
Dilma, imprudente e inutilmente, dividiu. Terceiro, porque teria
condições de compor com os menores, mas agressivos partidos da
“esquerda”. Quarto, porque os partidos de oposição, PSDB e DEM, viriam
por gravidade, uma vez que não teriam condições de votar contra elas.
Infelizmente, depois dos “grampos”
e da resistência legal à nomeação de Lula, a situação está longe das
condições normais de pressão e temperatura... Agora tudo mudou. Iniciado
o processo de impeachment, ele passará a controlar o “tempo” político e será condicionado pelas revelações diárias da Operação Lava Jato, ambos, por sua própria natureza, insensíveis à enorme urgência do “tempo econômico”, cada vez mais acelerado.
É preciso lembrar que os dois mecanismos
de expansão do PIB e do emprego são: 1. O aumento dos investimentos
líquidos, hoje provavelmente negativos. Estamos comendo a nossa
infraestrutura e o estoque de capital privado. 2. As exportações, cujo quantum
está respondendo ao estímulo da taxa cambial. Ela foi a única
contribuição positiva para compensar a queda da demanda interna em 2015.
A volta do crescimento está, portanto,
ligada ao aumento do investimento líquido como proporção do PIB, o qual
só ocorrerá: 1. No setor público, quando as incertezas políticas forem
superadas e as concessões de infraestrutura através de leilões bem
feitos forem protegidas por agências reguladoras independentes. 2. No
setor privado, quando forem eliminados os riscos e a volatilidade que
emergiam da orientação aleatória da autoridade. Foi a incerteza sobre a
estabilidade da regra que inibiu os investimentos.
A recuperação da credibilidade do
governo, que usou mal a sua autoridade e ignorou que ela é finita, é
muito difícil. Talvez possamos acreditar que há tênues sinais de uma
aparente desaceleração da queda do PIB e certa estabilização da
deterioração das expectativas da atividade, isto é, que estejamos perto
do fundo do poço. Mas não devemos esquecer que estamos lá!
O problema real produzido pela dramática redução do nível
de atividade, que atingiu o setor público federal pela queda da sua
receita, existe em todas as unidades federadas e, também, no setor
privado com a redução de suas vendas, a ampliação das suas dívidas pela
desvalorização cambial e a queda do seu valor nos mercados, revelados na
piora generalizada dos indicadores financeiros de seus balanços.
Resolvido o problema político, eles não
vão desaparecer por encanto. Seu enfrentamento exigirá uma coordenação
rigorosa entre a política econômica, inclusive a administração da dívida
pública, e a regulação adequada do crédito pelo Banco Central para
organizar e financiar uma desalavancagem que não termine numa crise
financeira. É isso que nos espera quando se decidir, contra ou a favor, o
processo de impeachment.
Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto
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