terça-feira, 5 de abril de 2016

CRISE ECONÔMICA

 REQUER  URGÊNCIA
Mesmo os críticos mais tolerantes e com discreto viés pró-governo estão perplexos com a sua falta de habilidade na condução de um processo político-econômico que se autoalimenta e se agrava exponencialmente. Tudo lhe é adverso, mas é inútil insistir que não são consequências diretas de suas próprias ações.

Tentar construir a teoria de que o Executivo é vítima de uma conspiração da “burguesia reacionária paulista” faz pouco da inteligência nacional e tem baixa probabilidade de êxito. Tentar estimular, artificialmente, um conflito com o Legislativo e o Judiciário é perigoso para a consolidação do sistema democrático.

Felizmente, no comício do dia 18, em São Paulo, o ex-presidente Lula revelou, mais uma vez, o seu pragmatismo e a sua inteligência. Reincorporou a persona do Lula “paz e amor”, que sabe ser a única compatível com o respeito às nossas instituições.

Tudo isso tem um ar abstrato, mas esconde uma formidável tragédia. Em condições normais de pressão e temperatura é provável que a nomeação do ex-presidente Lula para a chefia da Casa Civil tivesse condições de levar o PT a apoiar Dilma e cooptar a “velha” base política para aprovar as medidas constitucionais que o País precisa.

Por quê? Primeiro, porque o PT sem Lula será sempre um pequeno partido reacionário controlado pelo funcionalismo público e pelo sindicalismo míope que se opõem ao progresso tecnológico.

Segundo, porque talvez ele tivesse condições, ainda que seja um pouco tarde, de recuperar a confiança do PMDB que Dilma, imprudente e inutilmente, dividiu. Terceiro, porque teria condições de compor com os menores, mas agressivos partidos da “esquerda”. Quarto, porque os partidos de oposição, PSDB e DEM, viriam por gravidade, uma vez que não teriam condições de votar contra elas. 

Infelizmente, depois dos “grampos” e da resistência legal à nomeação de Lula, a situação está longe das condições normais de pressão e temperatura... Agora tudo mudou. Iniciado o processo de impeachment, ele passará a controlar o “tempo” político e será condicionado pelas revelações diárias da Operação Lava Jato, ambos, por sua própria natureza, insensíveis à enorme urgência do “tempo econômico”, cada vez mais acelerado.

É preciso lembrar que os dois mecanismos de expansão do PIB e do emprego são: 1. O aumento dos investimentos líquidos, hoje provavelmente negativos. Estamos comendo a nossa infraestrutura e o estoque de capital privado. 2. As exportações, cujo quantum está respondendo ao estímulo da taxa cambial. Ela foi a única contribuição positiva para compensar a queda da demanda interna em 2015.

A volta do crescimento está, portanto, ligada ao aumento do investimento líquido como proporção do PIB, o qual só ocorrerá: 1. No setor público, quando as incertezas políticas forem superadas e as concessões de infraestrutura através de leilões bem feitos forem protegidas por agências reguladoras independentes. 2. No setor privado, quando forem eliminados os riscos e a volatilidade que emergiam da orientação aleatória da autoridade. Foi a incerteza sobre a estabilidade da regra que inibiu os investimentos.

A recuperação da credibilidade do governo, que usou mal a sua autoridade e ignorou que ela é finita, é muito difícil. Talvez possamos acreditar que há tênues sinais de uma aparente desaceleração da queda do PIB e certa estabilização da deterioração das expectativas da atividade, isto é, que estejamos perto do fundo do poço. Mas não devemos esquecer que estamos lá!

O problema real produzido pela dramática redução do nível de atividade, que atingiu o setor público federal pela queda da sua receita, existe em todas as unidades federadas e, também, no setor privado com a redução de suas vendas, a ampliação das suas dívidas pela desvalorização cambial e a queda do seu valor nos mercados, revelados na piora generalizada dos indicadores financeiros de seus balanços.

Resolvido o problema político, eles não vão desaparecer por encanto. Seu enfrentamento exigirá uma coordenação rigorosa entre a política econômica, inclusive a administração da dívida pública, e a regulação adequada do crédito pelo Banco Central para organizar e financiar uma desalavancagem que não termine numa crise financeira. É isso que nos espera quando se decidir, contra ou a favor, o processo de impeachment

Fonte: CartaCapital
Por Delfim Netto 
 

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