PEDRO SIMON: "SE HOUVER
IMPEACHMENT, O IDEAL PARA
O BRASIL É TEMER RENUNCIAR"
Com a bagagem de quem vive de perto, há 60 anos, a política nacional,
o ex-senador pelo PMDB Pedro Simon - que durante 40 anos lutou para
que empreiteiros corruptos fossem para a cadeia - fez uma análise sobre
o cenário nacional. Em entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil,
Pedro Simon - o mais digno dos políticos brasileiros vivos - defendeu
que, caso o impeachment de Dilma Rousseff seja aprovado, o
vice-presidente Michel Temer deve renunciar e convocar novas eleições.
"Domingo é o grande dia. Talvez o dia mais importante da nossa
história."
JB - Como o senhor está vendo o conturbado cenário
político atual e a atuação de personagens importantes, como o presidente
da Câmara, Eduardo Cunha, e o vice-presidente Michel Temer? Como o
senhor vê a condução do processo do impeachment?
Pedro Simon -
Tenho 86 anos, dos quais 60 com cargos eletivos. Não tive um dia sem
ter um mandato. Acompanhei a vida do Brasil. Realmente vivemos uma crise
institucional que acompanho desde 1945. Acompanhei a queda de Getúlio
Vargas, depois a sua volta e o seu suicídio. A derrubada de João
Goulart, os 21 anos de ditadura, e agora os anos que estamos vivendo
depois da retomada da democracia. Quando vejo análises sobre o Brasil,
com relação a situação que estamos vivendo, posso dizer que temos
problemas profundos que vêm ao longo do tempo e ao longo da história. Em
todos estes movimentos, nós não conseguimos dar uma orientação, uma
diretriz, uma norma com respeito à ética, à dignidade, à moralização, ao
povo brasileiro. Tivemos a revolução de 30, o Getúlio Vargas, em 1954 o
[Carlos] Lacerda dizendo que o Catete era um mar de lama... Derrubaram
Getúlio, derrubaram o Jango, a ditadura ficou este tempo todo, depois
nós derrubamos a ditadura e voltou a democracia, mas nunca se mexeu na
tentativa de se fazer um novo pacto federativo, uma revolução de
costumes.
JB - Apesar de todo este histórico, não houve um aprendizado...
PS
- Nunca se tentou mudar a coisa que deveria ser mudada. Tanto que se
diz que na história do mundo moderno, em países democratas com
liberdade, nunca houve corrupção igual à do Brasil. E que não é novidade
porque ela vem ao longo do tempo. Não é neste governo. Ela sempre
existiu. Mas agora o fato novo no Brasil não se deve ao governo. É que
uma equipe de juízes, de procuradores e da Polícia Federal resolveu
discutir e debater a impunidade no Brasil. Nunca acontecia nada, a não
ser com ladrão de galinha. Com gente importante, empresários, políticos,
com estes nunca acontecia nada. E aí veio esta Operação Lava Jato.
JB - Como o senhor vê esta operação? Há setores que questionam a forma como ela vem sendo conduzida
PS
- Eu nem discuto isso. Eu discuto apenas que, pela primeira vez, as
coisas estão acontecendo. Pela primeira vez presidente de partido vai
para a cadeia, senadores vão para a cadeia. Grandes empresários vão para
a cadeia. Pela primeira vez descobriram os roubos da Petrobras e o
roubo das grandes empreiteiras. Agora a Lava Jato está indo numa posição
onde as pessoas vão ter o seu devido lugar. Tem muita gente assustada
com a Lava Jato. E não é problema de um partido. E a minha preocupação é
que ela não chegue ao final. Eu defendo o seguinte neste momento: nós
temos domingo a votação do impeachment. Pela maneira que falam, a
probabilidade de passar são grandes. Se não passar e o governo ficar, a
situação é muito triste. O governo, para tentar ficar, está fazendo
conchavos, está vendendo a alma. Vamos viver uma confusão que não tem
como ser. E se o impeachment for aprovado, também teremos uma confusão.
Dilma está fazendo uma aliança terrível com tanta gente que não se sabe
como ela vai governar. E se o impeachment passar, esse pessoal que está
aí para entrar, com este presidente da Câmara e companhia, como é que
vão governar?
JB - Como o senhor vê a atuação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha?
PS
- Tem gente que diz uma coisa interessante: ele tem um lado positivo
porque está deixando as coisas irem. Mas todo mundo sabe que a dívida
dele é grande. Os problemas dele são realmente sérios.
JB - E com relação ao impeachment? Diante deste cenário, qual deveria ser então a solução para o país?
PS
- O ideal era o [vice-presidente Michel] Temer renunciar e se partir
para a convocação de uma eleição para presidente. Temer poderia fazer um
grande entendimento, chamar todos e, primeiro, garantir de
independência para a Operação Lava Jato. Depois, dar prosseguimento para
a escolha de um novo presidente e vice-presidente. Seria uma saída
espetacular.
JB - Como o senhor viu o vazamento do áudio em que Temer falava como se o impeachment já tivesse sido aprovado na Câmara?
PS
- A explicação de que houve um engano por parte dele é muito ingênua. O
que a gente está interpretando é que ele fez questão de dizer que se
ele assumir, ele vai fazer um governo de entendimento, chamar a todos.
Foi uma jogada que ele fez. Mas o que nós temos que ficar atentos é que,
se a política for para a implosão, se por exemplo Dilma ganhar, ela vai
se impor, mudar o ministro da Justiça, que por sua vez pode mudar a
direção da Polícia Federal, e vai acabar com a Lava Jato. E se for o
outro lado, é capaz de acontecer a mesma coisa. Então o ideal é um
grande entendimento.
A Espanha fez isso quando Franco morreu. Era uma
guerra civil que parecia que nunca iria terminar. Aí sentaram na mesa e
disseram: peraí, vamos fazer um entendimento e vamos olhar para a
frente. E deu certo até hoje. O Brasil está na beira de uma guerra
civil. Na beira de um momento em que ninguém vai se entender. Dezenas de
partidos, facções para todos os lados. Hoje cada deputado é um partido.
Ninguém sabe o que quer. Neste momento uma voz de esclarecimento, uma
pausa para meditação, um chamamento geral a um grande entendimento é a
grande solução. A corrupção está parecendo tão grande, envolvendo tanta
gente, a gente sabe que qualquer lugar que se levanta encontra a mesma
coisa, que nós não podemos continuar empurrando para debaixo do tapete.
Se terminarem com a Operação Lava Jato, aí eu não sei. Se não apurarem
nada, esquecerem tudo, não sei como é que vai ser. Para se mudar, não é
prendendo ladrão de galinha. É botando os grandes escândalos. No momento
em que forem para a cadeia os grandes empreiteiros, os grandes
políticos, um novo governo pode vir e esse será o país da seriedade, da
credibilidade. E o povo acompanhará com muita alegria.
JB - Mas como fica o sentimento do povo acompanhando este momento atual de escândalos de corrupção, de acordos, de alianças?
PS
- Hoje o povo está de mal com o mundo. Ele olha pro lado, vê as
pesquisas... O Brasil sempre teve lideranças importantes. Era o Doutor
Ulysses [Guimarães], Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Miguel Arraes.
Hoje não tem ninguém, é um vazio geral. Não se vê um empresário com
respeitabilidade. Antonio Ermírio de Moraes era um grande empresário, um
senhor sério.
JB - E qual as consequências num cenário de ausência de lideranças?
PS
- Este é o ambiente em que de repente surge um aventureiro. Surge
alguém com uma bandeira, como um Hilter. O Jânio Quadros era um sujeito
muito inteligente, mas era um maluco. O Collor, um psicopata que se
elegeu presidente da República. Mas acho que agora o impacto vai ser
muito grande. Domingo de noite vai todo mundo parar para pensar. O que
quer que aconteça, todo mundo vai ficar tonto. Eu acho que é hora de
alguém ter uma palavra para fazer este entendimento.
JB - O sr. que sempre lutou por uma CPI das empreiteiras, como vê este momento em que empresários estão indo para a cadeia?
PS
- Passei 40 anos brigando para criar. Agora está acontecendo à revelia
do Congresso, dos políticos, de governo, situação ou oposição. Temos que
tirar o chapéu para este juiz Sérgio Moro. Está lutando de coração.
Esse procurador-geral da República [Rodrigo Janot], um homem de grande
valor, a Polícia Federal... Agora não vamos acreditar que esses
empreiteiros entraram nessa negociata agora no governo do PT. Eles
sempre estiveram. Agora foi feito de forma aberta. Empreiteiros fizeram
um clube, os diretores das estatais fizeram outro clube. Mas essa sempre
foi a realidade do Brasil.
JB - Qual a expectativa do senhor para este domingo?
PS
- Domingo é o grande dia. Talvez o dia mais importante da nossa
história. Nós realmente temos que marcar uma posição que signifique um
novo governo, que signifique levar a moralidade, um novo pacto social,
um novo pacto político, uma modificação que nós não tivemos condições da
fazer na Constituinte. Derrubamos a ditadura, elegemos Tancredo. Ele
foi sacana conosco, não poderia ter morrido. Morreu e deixou Sarney com a
gente. E aí a Constituinte não deu. Se fosse o Tancredo, ele era o
homem. Sarney brigou com Doutor Ulysses, a Constituinte ficou rachada
pela metade e não aconteceu nada das coisas que queríamos que fossem
feitas. Esta é a hora da fazer o que não foi feito.
Fonte: Jornal do Brasil
Por Deborah Lannes
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