CÂMARA REJEITA REDUÇÃO
DA MAIORIDADE PENAL
A Câmara dos Deputados rejeitou na madrugada desta quarta-feira 1º a proposta de redução da maioridade penal (PEC 171/93). O texto determinava que adolescentes pudessem ser punidos como
adultos, a partir dos 16 anos, nos casos de crimes hediondos, como
estupro, latrocínio e homicídio qualificado. A proposta precisava de ao
menos 308 votos para ser aprovada, mas o resultado foi de 303 votos a 184.
O texto rejeitado, no entanto, é um substitutivo aprovado na comissão
especial. Com isso, falta colocar em votação a proposta original, que
propõe a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos para todos os
crimes.
O substitutivo rejeitado nesta terça-feira nasceu de uma articulação
de Eduardo Cunha com as três bancadas "B" (Boi, Bala e Bíblia), que
defendem a redução da maioridade. O substitutivo veio a partir do
relatório de Laerte Bessa (PR-DF) e teria na avaliação de Cunha e seus
aliados, mas chances de ser aprovado do que o projeto original, que foi
apresentado em 1993 e poderia ser considerado muito radical para alguns
parlamentares e pela sociedade.
Cunha promete por o projeto original em votação já nesta quarta-feira
mas, em tese, sua aprovação é mais difícil por ele ser mais radical do
que o substitutivo vetado hoje em plenário.
A votação aconteceu em meio a protestos de estudantes e
deputados. O parlamentar Arnaldo Jordy (PPS-PA) criticou a pressa do
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMBD-RJ).
“O debate foi atropelado nesta Casa. A Comissão especial ainda tinha 12
sessões para ouvir defensores, associação de magistrados. O deputado
Eduardo Cunha interditou esse debate”, afirmou o parlamentar.
Cunha também proibiu a entrada de manifestantes no Plenário da Câmara
durante a votação. A ordem contraria decisão do Supremo Tribunal
Federal (STF), que tinha concedido habeas corpus para 19 dirigentes da
União Nacional dos Estudantes (UNE). O deputado optou por distribuir
senhas para os partidos, para que as legendas repassassem aos seus
partidários.
Com isso, houve protesto e tumulto
em acessos ao salão verde da Câmara. Na confusão, O deputado Heráclito
Fortes (PSB-PI) foi derrubado e policiais legislativos chegaram a
utilizar spray de pimenta contra os estudantes. O presidente da Câmara
negou Cunha negou que estivesse desrespeitando a decisão e disse que
tomou a medida por questões de segurança.
Apesar disso, alguns manifestantes conseguiram entrar na galeria da
Câmara e entoaram gritos de protestos contra os deputados a favor da
redução da maioridade penal. “Fascistas, fascistas, não passarão”.
Diante da manifestação, Cunha ameaçou retirar o público que, segundo
ele, deve se comportar.
Antes do debate começar, o PSOL tentou obstruir a proposta. Mas o
Plenário da Câmara rejeitou o requerimento do partido que pedia a
retirada da PEC da maioridade penal da pauta. Em meio ao tumulto, 20
deputados puderam opinar sobre a PEC na tribuna, sendo dez a favor e dez
contra a proposta.
O deputado João Campos (PSDB-GO) foi um dos que defendeu a proposta.
“Se aprovarmos, e espero que aprovemos, não estaremos proibindo a
construção de escolas de tempo integral, não estaremos proibindo
políticas de assistência e proteção para criança e adolescente. Sequer
estaremos revogando o Estatuto da Criança e do Adolescente”, amenizou.
Em oposição, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) pediu o voto “não”
ao texto. “Não ofereçam a desesperança dos presídios, que não têm
melhorado a vida de ninguém, a jovens que podemos resgatar”, apelou.
Fonte: CartaCapital
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