quarta-feira, 1 de junho de 2011

POR FÁBIO VALE



CHUVA DE SANGUE NO PAÍS

DE MOSSORÓ


Paralelo ao crescimento econômico-financeiro e o consequente aumento do contingente populacional, há também a expansão da criminalidade e da violência urbana que tem se instalado em cidades de pequeno e médio porte do interior Potiguar. Diante disso, os resultados da intensa insegurança pública têm migrado da capital do estado para municípios do inte-rior, como Mossoró. Inserida em uma realidade sangrenta, a cidade registrou nas últimas 48h cinco crimes de homicídio com características de eliminação extrajudicial.

A cidade que se orgulha de ter expulso Lampião, o rei do cangaço, em meados do século passado, vem sofrendo com a onda crescente de violência nos últimos meses, causada, em sua maioria, pelo conflito de gangues rivais em disputa pelo tráfico de drogas. O número de homicídios em Mossoró somente nestes primeiros cinco meses do ano já tomou uma proporção assustadora. De primeiro de janeiro 2011 até hoje (31), 91 pessoas foram assassinadas na cidade nestes 150 dias do ano.

Dados da PM dão conta de que nesse mesmo período de 2010 foram registrados 48 homicídios, o que significa um aumento de cerca de 47% no número de assassinatos. No ano passado, a marca de 91 assassinatos foi atingida em meados do mês de setembro, três meses a mais do que o contabilizado este ano. 

Na maioria dos casos, os crimes são praticados por uma dupla de moto que não é identificada pela polícia. Dados levantados pela polícia militar do município revelam que mortes com características de execução teriam relação com consumo e venda de drogas. Os mais recentes homicídios aconteceram durante o decorrer de ontem (30) quando três homens foram 'eliminados' a tiros nos bairros Santo Antônio, Santa helena e Favela do Fio, onde a vítima não foi identificado.

As explicações para os homicídios correlacionados diretamente com o tráfico de drogas executam-se principalmente por questões de dívidas com traficantes ou por disputas por pontos de vendas. As relações indiretas ocorrem quando as vítimas são alvos dos usuários ou traficantes visando a aquisição de bens para sustento do vício ou das atividades do tráfico. Além disso, há ainda os casos de latrocínio, onde vítimas sem nenhum aparente envolvimento com o crime são mortas durante roubos ou tentativas de assalto. O caso de roubo seguido de morte mais recente foi o do funcionário da Cosern, Jubal Alves da Silva, de 50 anos de idade, assassinado a tiros na frente da família, dentro de casa, no bairro Costa e Silva, na noite do último dia 18, durante um assalto. Ninguém foi preso.

Uma das características levantadas para os casos de homicídios em Mossoró é que ocorrem geralmente nos bairros mais populosos e nas áreas periféricas da cidade. Além disso, a mudança nos hábitos dos viciados em drogas contribuiu para o aumento da violência, onde os usuários deixaram de consumir a maconha, uma droga de efeito mais "brando", e passaram a consumir exclusivamente o crack, uma droga que tem um poder viciante quase que instantâneo. Para se ter uma idéia da violência que tomou conta de Mossoró, a polícia não prendeu qualquer suspeito alegando que "as investigações estão em curso". Esse é o posicionamento dado pela polícia diante dos recentes homicídios e atentados em Mossoró que, em sua maioria, ainda seguem sem autorias definidas.

As autoridades responsáveis pelos casos dizem que a elucidação de crimes registrados em diferentes bairros da cidade e ocasionados por 'acertos de contas' e assaltos é dificultada pela 'lei do silêncio' que impera na maioria dos locais onde os delitos são praticados. Segundo a polícia, o fator que mais emperra o andamento e a consequente resolução dos crimes contra a vida é o medo que os criminosos põem na comunidade. "Daí quando a polícia chega para tentar desvendar o crime, ninguém fala nada, senão morre", explicou um policial civil que preferiu não se identificar.


Zonas da morte

Dados levantados pelo CORREIO DA TARDE revelam que a maioria dos 91 assassinatos ocorridos em 2011, em Mossoró, aconteceram em áreas periféricas da cidade. Segundo informações, somente no mês de janeiro quatorze assassinatos foram registrados em locais afastados do Centro da cidade. Os palcos para as mortes foram: Favela do Tranquilim, Favela do Fio e bairro Santo Antônio, incluindo a área do Santa Helena.


Sem estrutura

As autoridades de Segurança Pública reconhecem que faltam delegados, escrivãos e agentes da Polícia Civil para trabalhar, assim como falta estrutura de inteligência para identificar e localizar os bandidos e também apoio de perícia forense nas investigações. O próprio ITEP, a quem compete fazer as perícias forenses, está com a estrutura deficitária, assim como também falta homens e estrutura nas delegacias. Com mais policiais, escrivães, uma delegacia bem equipada, apoio de inteligência e principalmente pericial essa estrutura, os processos contra esses assassinos vão chegar à Justiça mais fundamentados, os promotores vão fazer denúncias mais embasadas e o Tribunal do Júri Popular condenará os réus a uma pena adequada.


Mortes em série

O mais recente homicídio ocorrido em Mossoró aconteceu na noite desta segunda-feira, por volta das 20h30, e contabilizou o assassinato de número 91 ocorrido nestes primeiros cinco meses de 2011. O caso foi registrado quando populares acionaram o Ciosp do 2º Batalhão de Policia Militar de Mossoró para uma ocorrência de disparos de arma de fogo, na Favela do Fio, do conjunto Santa Delmira.

Ao se dirigirem ao local, os policiais encontraram o corpo de um homem, que estava sem identificação aparentando ter 25 anos de idade, 1,60 metros de altura, usando uma barba rala no queixo, de cor branca, com várias marcas de disparos de arma de fogo de grosso calibre, possivelmente 12. O corpo apresentava sinais de pelo menos seis tiros no rosto, peito, braço, tórax e cabeça. O corpo foi encontrado dentro de um esgoto em uma viela estreita da favela por trás de uma igreja evangélica, localizada na rua José Malaquias de Oliveira. Informações dão conta de que a vítima estaria bebendo em companhia de outras pessoas. Até o fechamento desta matéria (12h), a vítima permanecia sem identificação.

A segunda-feira começou violenta. A tarde atípica de ontem começou por volta das 13h30, com um assassinato no bairro Santo Antônio (zona norte). Francisco Paulo da Silva, que tinha 34 anos e morava na Rua Hermano Mota, local onde foi assassinado, estava caminhando quando foi atacado. De acordo com informações preliminares colhidas pela Polícia Militar no local do crime, o suspeito foi identificado por familiares da vítima como "Paulinho", morador da mesma rua. O motivo do crime ainda era desconhecido até ontem à tarde. A suspeita inicial da Polícia é que vítima e atirador tivessem alguma intriga.

Cerca de cinco minutos depois, a Polícia Militar foi acionada novamente, informada sobre outro assassinato, este ocorrido no conjunto Wilson Rosado (zona oeste). Damião Souza da Silva, que tinha 23 anos e morava na Rua José Lopes da Fé, conjunto Santa Helena (zona norte), foi morto a tiros. Policiais militares foram ao local, mas não conseguiram colher informações precisas a respeito do assassinato. Os moradores recusaram-se a falar sobre o ocorrido.


Enbiado por rOgério Dias e Iris Maia


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