quarta-feira, 22 de junho de 2011

POR VERA SAAVEDRA DURÃO*




CENÁRIO EXTERNO: ALERTA 

AMARELO OU VERMELHO?
"O mundo está esfriando", disse, temeroso, um alto executivo de multinacional durante um almoço de negócios em que discorria sobre os planos de sua empresa de construir uma planta industrial no país, com custo estimado de quase US$ 4 bilhões. "Os Estados Unidos e a China começam a perder velocidade, a Europa está um caos e o câmbio por aqui está complicado. Será que desta vez a crise internacional vai bater no Brasil?", indagava, apreensivo.
 
A resposta a tal questão é considerada uma incógnita pela economista Maria da Conceição Tavares. Ela admite estar preocupada com o mercado internacional, e não descarta outra crise global em 2012. "Em 2008, a crise bateu leve [no Brasil]. Agora, não faço a menor ideia se teremos a mesma capacidade de nos defender. O mundo não está igual ao que era. Fica difícil a gente prever o que vem por aí. Até o momento o investimento privado está subindo, segundo o BNDES, a inflação não se descontrolou, mas o balanço de pagamentos está mal. Estou preocupada com juro, balanço de pagamentos e correção do câmbio". A economista alerta para o fato de que os próprios americanos vão ter que corrigir o câmbio. "Acho que só faremos isso se houver crise. Por enquanto, estamos empurrando com a barriga".
   
Deterioração das contas externas é o maior risco do Brasil

O maior risco que o Brasil corre, caso haja um aprofundamento da crise global, é de uma deterioração nas contas externas, ampliando o déficit em conta corrente, que no acumulado de 12 meses até maio foi de 2,25% do PIB. Luiz Fernando de Paula, professor de economia da UERJ e presidente da Associação Keynesiana Brasileira, relata que o economista e ex-ministro Mario Henrique Simonsen tinha uma medida para o déficit em conta corrente. "Ele dizia que entre 2% e 4% do PIB o déficit acende uma luz amarela. Mas de 4% em diante é crítico e pode dar crise cambial". Atualmente, o déficit é financiável. "Mas se as exportações de commodities caírem, o déficit pode aumentar, gerando vulnerabilidade externa, principalmente se avançar para 4% a 4,5% do PIB. Aí acende a luz vermelha", alerta. "O real apreciado em algum momento vai dar pau", pressagia.


Uma retração no preço das commodities, que hoje respondem por 70% na pauta de exportações brasileiras, não é impossível. "Isso não está afastado em 2012", prevê José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Castro teme que a crise europeia e a lenta recuperação dos Estados Unidos, somadas a uma desaceleração moderada da economia chinesa - às voltas com inflação -, possam antecipar o fim do ciclo virtuoso das commodities, que começou há dez anos. Este ano, a AEB trabalha com um superávit comercial de US$ 26 bilhões, semelhante ao de 2010. "O que segura esta performance são produtos como soja, café, açúcar, minério", informa Castro, lamentando a reprimarização da pauta de exportações. A presença dos manufaturados vem encolhendo e hoje ocupa uma fatia de apenas 28% nas vendas externas do país.

Na crise de 2008, o Brasil escapou quase ileso do tsunami financeiro que abalou o planeta e passou a ser visto como um locus privilegiado para investimentos estrangeiros. A política anticíclica aplicada pela equipe econômica do então presidente Lula, incluindo o BNDES e o Banco Central, deu certo. De meados de 2009 e em 2010 os dólares correram para cá, não apenas atraídos pelas operações de arbitragem por conta do juro alto, mas também para financiar inversões diretas. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu vigorosos 7,5%, puxado pelo consumo das famílias e pelo investimento.

Karl Marx escreveu que "a história se repete como farsa". Se isso de fato acontece, os investidores têm razão ao se questionar sobre o tipo de impacto que uma nova crise internacional teria sobre a economia no governo Dilma.

A última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada pelo BC na quinta-feira já sinalizou que a autoridade monetária está ligada na questão "das incertezas crescentes no cenário externo, com efeitos ambíguos sobre a inflação doméstica".

No mercado, alguns analistas já projetam que a taxa Selic poderia chegar a 13% até o fim do ano, mas a ata do Copom indica que o movimento pode ser diferente caso ocorra uma deterioração da economia global no curto prazo. Para o BC isso se configuraria com um movimento do câmbio para cima (desvalorização cambial) e preços das commodities para baixo, aumento de spread e encurtamento de prazos decorrentes de redução da liquidez internacional para o crédito doméstico, com consequente esfriamento da economia.

*Vera Saavedra Durão é repórter especial do Valor

Fonte: Texto publicado no www.vermelho.org.br 
Enviado por Antonio Capistrano




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